sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

De Bobonaro às termas de Marobo e volta

Em 2007 meti-me à estrada em demanda da casa onde, em Bobonaro, tinha vivido um colega meu, o JMBrandão de Brito, filho de um antigo comandante do famoso esquadrão de cavalaria aí sedeado.
Cumprida a "espinhosa missão", aproveitámos o passeio e demos --- eu, o meu companheiro de viagem António R. e a sua pickup Toyota 4x4 --- uma saltada às antigas termas de Marobo.
Logo depois da partida e como que a desejar-nos boa viagem, apareceram uns miúdos, tendo um deles a arreata do seu kuda, o qual era, como se pode ver pela imagem abaixo, um admirador fanático dos Beatles. Ou será que quem sofria da beatlemania era o seu dono?

Esta visão amenizou o primeiro choque: a de um bocado da estrada que lá estava para nos lembrar que o passeio não seria pera doce.

Mais adiante surgiu o primeiro motivo de interesse: uma família arranjava o telhado da sua casa
Depois da paragem para dois dedos de conversa, umas risadas e umas fotos, começámos a descer em direcção às termas, que se encontram no fundo de um vale de onde se vê um dos contrafortes do Cailaco, cujo topo estava, momentaneamente, coberto de um capacete de núvens que realçavam ainda mais a sua beleza.
Continuando a descida, demos com socalcos onde se plantava arroz, o que nos provocou alguma admiração. Mas que o "espectáculo era espectacular" (!), lá isso era.
Rapidamente, porém, fomos desperados do "sonho" que eram aquelas paisagens: a estrada começou a piorar e a certa altura passou a ser apenas um caminho sobre pedregulhos que me fizeram lembrar o "pavimento" da estrada de Tutuala para a praia frente ao Jaco há alguns anos atrás.
Confesso que fiquei receoso que, apesar de ser uma 4x4, a pickup se recusasse a subir a estrada no regresso e passei a máquina fotográfica ao meu companheiro de viagem que se encarregou de fotografar as termas --- ou, melhor, o que resta delas.
De regresso a Bobonaro admirámos uma ou outra casa ou alpendre coberto típicos da região e demos com uma tecelã dos conhecidos e muioto apreciados/valorizados tais de Marobo, caracterizados pelo uso do preto e os desenhos a branco.
Depois de mais umas fotos e de uma tentativa frustrada de fazer rir a tecelã de modo a verem-se os seus dentes "impecavelmente conservados" à custa de muita areca, voltámos ao caminho e à estrada principal que liga Bobonaro a Atsabe, para um lado e a Maliana, para outro. E lá fomos nós a caminho de Maliana e Dili. Não sem os passageiros de uma das angunas se despedirem de nós com os acenos francos que só os timorenses das zonas rurais sabem fazer. Até à próxima!...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Modos de ver e de sentir

Há tempos uma amiga minha que vive em Timor enviou-me uma mensagem dorida a propósito da morte de uma colega de trabalho.
Por achar interessante a forma como ela descreve a situação pedi autorização para usar parte da referida mensagem nesta ‘entrada’.

Aqui vai:
“As coisas aqui andaram muito complicadas na semana passada. [Há alguns dias atrás] morreu uma das minhas colegas […]. Não se sabe ao certo a causa da morte --- pelo que sei, não foi explicada à família --- e tudo o que ouvimos foi especulação e superstição. Só sabemos que dois dias antes estava bem, rindo e brincando”.
Internada no hospital acabou por falecer umas horas depois.
“Todos morremos, simplesmente não com tanta "facilidade". O que mais me impressiona noprocesso são duas coisas: ninguém realmente se importar em saber o que houve --- e se poderia ser prevenido [para possível prevenção de casos semelhantes] --- e a forma como a morte é revestida em pompa e circunstância.
A forma como se gastam dinheiro e recursos num falecimento aqui é algo incrível. Se a mesma mobilização ocorresse em relação aos problemas dos vivos, o país estaria noutro estágio.”
“(…) não consigo deixar de achar um absurdo a forma como o trabalho está a ser negligenciado em favor de conversas intermináveis [sobre o assunto]” […] E os vivos, como ficam? (…) agora todos têm medo de ficarem sós na sala [onde ela trabalhava], temendo que o espírito da pobre moça venha visitá-los...”

A forma como a vida e, principalmente, a morte é encarada em Timor Leste é provavelmente um dos principais factores de diferenciação cultural entre aquela sociedade e outras, correspondentes a países com economias mais avançadas e, de entre estas, as que têm uma tradição cultural judaico-cristã como o caso de Portugal.
Não quero, por isso mesmo, “julgar” a situação dizendo que um caso é "mau" e que outro é "bom" mas a verdade é que me faz alguma impressão que, mesmo pessoas que teriam/têm a “obrigação” de ter um olhar diferente sobre estas situações sucumbam, muitas vezes, ao peso da “tradição”.
Pior do que isso: não se vê um esforço significativo para alterar a situação. Pelo contrário, muitas vezes vemos elogiar a “tradição” (em geral) sem fazer a destrinça entre “boas” e “más” tradições. E é pena! Uma maior ênfase no que poderíamos chamar um “espírito científico” não fazia mal a ninguém. Bem pelo contrário.
A escola tem, aqui, um papel fundamental a desempenhar na criação deste espírito científico que permita ao país avançar mas mantendo as suas boas tradições --- algo que os japoneses, de alguma forma, conseguiram fazer. Para isso ela tem de melhorar muito a sua qualidade, nomeadamente por alteração da formação dos seus docentes, do conteúdos dos programas (onde se está a fazer um esforço importante) e dos materiais de estudo dos alunos. Tarefa ciclópica? Claro! Mas "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"...

Mas não é só à escola que compete esta modernização do modo de pensar de muitos timorenses. Ela tem o seu "tempo" próprio, normalmente muito lento, de alterar a situação. Outros agentes sociais, nomeadamente o Governo, a Igreja e os órgãos de comunicação social, particularmente a TV, têm aqui um papel fundamental a desempenhar já que alguma coisa tem de ser alterada (pelo menos) a médio prazo --- no curto prazo nada se consegue...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mais de Timor no Facebook

O Facebook e alguns dos meus "amigos" (neste caso até é sem aspasm meu caro Vítor Murteira!...) continuam a maravilhar-me com as suas fotos sobre Timor "do antigamente".
No caso presente trata-se de fotos tiradas durante uma festa em Dili realizada em 1971 e que reuniu vários grupos de dança dos vários distritos.
Neste caso as imagens referem-se a um grupo do Suai e, no caso da segunda foto, à sua versão da conhecida "dansa do lenço".

As fotos são de Vítor Murteira, na época prestando serviço militar na "província".