domingo, 19 de maio de 2013

Baucau - Ossu BM [BM= ida e volta]

Cumprido o primeiro objectivo da viagem a Baucau "et ses environs" na tarde do primeiro dia (re-visitar os arrozais verdinhos, verdinhos, da baixa do Seiçal e de Laga), deixei para o segundo dia cumprir o segundo objectivo: ir a Ossu à procura da Nafreana e pagar os estudos dela.

Recordo que a Nafreana é a moçoila que venho fotografando desde há 6 anos, com uma interrupção nos últimos por entretanto ela ter ido estudar para Ossu, para o "colégio das madres" local.

Uma das primeiras fotos tiradas à Nafreana, junto da sua casa

Eu e a Nafreana no início de Maio/2013 em Ossu, no colégio onde está internada

Então foi assim...
Acordado e matabichado, lá fui estrada fora com uma primeira paragem em Venilale, a cerca de 30 kms a sul de Baucau. Queria parar nas grutas escavadas pelos japoneses antes de Venilale mas, por incrível que pareça e apesar de já as conhecer, consegui o "milagre" de passar por elas sem dar por isso. Por isso a primeira paragem foi mesmo em Venilale. Não sem antes conseguir ver o que não tinha visto na véspera: os dois "Matebian" descobertos (o "feto/mulher" à esquerda e a seu lado o "mane/homem").

 
Venilale: paragem curtíssima para espreitar a "tranqueira" local bem como as casas, em ruínas, utilizadas pelos funcionários portugueses e que são do tempo do Administrador Pité (ainda tens a telha que te enviei, Luís Pité? :-)  ) e a "escola do reino de Venilale".




Venilale e as suas construções, são, para mim, um exemplo do que NÃO deve ser feito pois estão a deixar degradar completamente o património edificado da localidade. Quem viu a escola quando foi restaurada e a vê hoje (como eu vi...) não pode deixar de sentir uma profunda tristeza... Para não falar da antiga residência do administrador, completamente em ruinas e que merecia melhor destino...

Venilale ficou para trás e eis-me a caminho de Ossu. No início a indicação de que tenho mais 15kms pela frente. Mas que 15 kms!... 15 que valem por 30 ou mais, tal o estado lastimoso da estrada. Claro que chamar "àquilo" estrada é pura gozação... :-)

O que vale são as paisagens: arrozais em "escadinha" e, mais ao longe, o perfil inconfundível do "Monte Perdido"!



As paisagens e as pessoas, claro. Sempre as pessoas e os seus sorrisos.



E de novo as paisagens e um ou outro mercado de estrada.



E finalmente Ossu! Com os "rinseses" a queixarem-se mas o "Jaquim" a portar-se como um valentão.

Pergunta aqui, pergunta acoli, lá dei com o colégio das madres, que afinal não é mais que o "Colégio Governador Óscar Ruas", que foi governador de Timor após a II Grande Guerra (1946) e até 1950.


Perguntadas sobre o paradeiro da Nafreana, colegas que vinham da missa na nova igreja de Ossu, disseram que ela estava no colégio porque estava doente (descobri depois que estava com does de dentes...) e não tinha ido à missa. Prontificaram-se a ir à procura dela e passado pouco tempo ela surgiu com o sorriso encabulado do costume... Ainda por cima eu era um malae que tinha vindo de propósito de Dili para a ver...
Posou com colegas e depois fiquei à espera que aparecesse a Madre Felicidade, ela também regressando da missa, para lhe pagar as propinas da Nafreana.



Missão cumprida, era hora de dar uma volta por Ossu e regressar a Baucau. Já se fazia tarde e o leite creme da Pousada podia azedar... Rssss

A vila tem alguns monumentos interessantes: a novíssima igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus (o Governo está a construir uma série de novas igrejas pelo país fora), a tranqueira local (pena que a ONU não tenha limpo a borrada que fez...) e as antigas (do tempo português) Administração e residência do administrador




Localização da tranqueira

Depois de mais um "boneco" batido para registar para o futuro a memória do "tio" com os seus galos...


... meti pé (rodas...) na estrada em direcção a Baucau.

Só no regresso dei com as grutas japonesas que procurara, em vão, à ida.


Pouco depois mais uma pequena paragem junto da casa onde mora a Nafreana para dizer que tinha estado com ela, mostrar as fotos e dizer que já tinha dado o "osan" à madre Felicidade para pagar os estudos dela... até Março de 2014... :-)

Em casa estava apenas a irmã, que logo reconheci tais são as semelhanças com a mais velha (agora com 17 anos).

 Casa da Nafreana, ao fundo arrozal...

 
... e a irmã, com a camiseta de Portugal, no meio da criançada que apareceu logo que viu um malae a parar...

E finalmente lá cheguei a Baucau. Hora de almoço e depois, hora de regressar a Dili. Sem história. Mas com uma "estória" que nem me atrevo a contar...

Tá bem: eu conto. Deixei a pousada mas... deixei lá a bagagem toda, incluindo o meu computador, esssencial para trabalhar. Depois de uma tentativa de saber se alguém que estivesse lá vinha para Dili e de se gorar essa solução, não tive outro remádio que não fosse... partir para Baucau às 4 da manhã do dia seguinte para chegar lá, matabichar e voltar a Dili... 3 horas para cada lado e meia hora para tomar o matabicho. "Prontes"! Tá dito!... ;)

sábado, 18 de maio de 2013

Dili - Baucau - Laga - Baucau

Farto de estar "preso" em Dili por causa da época das chuvas e de razões profissionais, assim que tive a possibilidade de o fazer meti-me à estrada a caminho da região de Baucau. Dois objectivos fundamentais: ir a Laga ver os arrozais, verdinhos, verdinhos nesta época do ano, e ir a Ossu pagar a propina anual da Nafreana, a moçoila, agora com 17 anos, que encontrei pela primeira vez há seis anos numa ida a Venilale.

Saí de Dili mais tarde que o desejado --- eram quase 10h da manhã --- e rumei a nascente pela estrada marginal que depois passa frente à casa do ex-Presidente Ramos Horta e perto da entrada para a estrada que leva à Praia dos Portugueses. Mais adiante passei por Hera e pela central eléctrica que agora abastece uma parte do país, particularmente a costa norte.

Mais à frente foi a passagem pelo Km 20 e a praia, linda e que tanto cobiço (quando for grande quero ter uma casa ali...), onde se situa uma pequena aldeia de pescadores e onde fica a que eu chamo "Rocha do Murteira e da Meca", dois amigos que em tempos (há muitos anos... ;-) ) andavam por ali a namorar... :)


 
No local, antecipando-se a mim, já há alguém a fazer uma casinha... Ai qu'inveja!.. Mas a gente conversa e com uns dólares... ;)

 
Numa curva do caminho dei com esta cena deliciosa: um pequeno grupo de búfalos refrescava-se do calor e protegia-se das picadas dos mosquitos e moscas num verdadeiro banho de lama.
 

Adiante! Passados mais uns quilómetros de estrada --- finalmente minimamente arranjada --- passamos Metinaro e aproximámo-nos (eu e o "Jaquim") do "subão", agora mais fácil de "fazer". Depois foi a descida e a "corrida" até Manatuto e, antes da curva larga que dá acesso à estrada que atravessa os arrozais e leva à cidade, lá estava ela à minha espera:


Onde? Aqui:


Atravessada Manatuto sem paragens (queria chegar a Baucau a horas decentes de almoçar na Pousada...), o caminho foi "sempre em frente!". Primeiro Laleia e a sua ponte onde só cabe uma "kareta" de cada vez...


 
... e mais adiante os primeiros sinais de que nos aproximavamos de Baucau, com os arrozais em degraus e a casa de tecto alto que caracteriza a região de Bucoli.



E às 14h, mais coisa menos coisa, lá estava eu a chegar à Pousada de Baucau e seu restaurante.


As empregadas reconheceram-me logo e fui atendido com a presteza possível (tinham chegado pouco antes dois grupos que aguardavam a paparoca...) mas sempre com a simpatia e eficiência que as caracteriza.

Depois de almoçar dei uma olhadela nas obras em curso e que incluem um auditório para reuniões em formato tradicional (muito bonito!) e uma nova ala de quartos (mais 14, o que mais que duplicará a capacidade da Pousada). (Parabéns, Henriques de Jesus, meu amigo desde os 10 anos! ... Máfia de Setúbal...)



Depois foi a vez de me meter novamente à estrada e ir espreitar os arrozais da baixa do Seiçal e de Laga.
Prefiro ir ali de manhã cedo, quando o céu tem menos nuvens e os dois "Matebian" ("macho" e "fêmea") estão limpos.... Mas valeu a pena ir assim mesmo.

Na baixa do Seiçal, o arrozal, quase a perder de vista, "morria" nuns "Matebian" que apareciam como nunca os vira antes: o "manto diáfano das nuvens" cobria-os e acompanhava o seu relevo, com o "Matebian Feto/mulher", mais baixo, à esquerda e o "Mane/homem", mais alto, à direita deste. Um espanto!



Chegado a Laga meti pela estrada que liga a Baguia e andei 2-3 quilómetros até locais meus conhecidos e de onde se vê uma vista espectacular sobre o imenso arrozal da ribeira de Laga e sobre os "Matebian".

 

Paisagens vistas e fotos tiradas, era hora de "voltar a penates", no caso a Pousada de Baucau.

Desci o planalto de Laga e atravessei a ponte que está à saída (no sentido Laga-Baucau) da vila. E foi então que dei com um pequeno grupo de raparigas sentadas num murete à borda da estrada e que se meteram comigo: "malae!...". Parei e tirei algumas fotos. E foi só quando vi estas que reparei bem nesta (verdadeiramente) pequena maravilha:


São sorrisos destes que me fazem andar por aqui pela estrada fora... Tinha acabado de "ganhar o dia"!
Amanhã há mais: Baucau - Venilale - Ossu - Baucau - Dili... Uf! Ai meus "rinseses"!

sábado, 11 de maio de 2013

Voltando à(s) estrada(s)...

A época das chuvas, uma saltada a Portugal e outras "cousas" (nomeadamente uma mudança de emprego ainda que de um lado para o outro da mesma rua... Do Banco Central para o Parlamento Nacional) fizeram-me estar mais quedo nas minhas andanças por estradas de Timor Leste do que eu gostaria. Assim, logo que a vidinha se estabilizou um pouco mais, ele aí vai a caminho de algures em TL...
Uma primeira viagem após o meu regresso às lides foi, como não podia deixar de ser, até casa do Vô Serra para lhe dar um abraço e ver como estava. Ora como havia de estar?!... Rijo e fino, como habitual, nos seus 83 anos --- que ele vai aumentando dizendo que são 84... em 24 de Outubro próximo... :-)


Depois, lembrando-me que os arrozais deviam estar verdinhos, verdinhos, foi, aproveitando o feriado do dia 1 de Maio, o regresso a um dos locais meus preferidos em Timor Leste: o (inevitável) vale de Seloi Kraik, perto de Aileu, na estrada que liga esta cidade a Gleno, em Ermera.
Pé (roda...) na estrada, à saída de Dili fomos "apanhados" por uma pequena caravana de carros que, com os seus "tinónis" a tocar e as luzes a piscar, pediam passagem. "Quem será a personagem?!..." pensei eu ao mesmo tempo que me encostava o mais possível à berma para os deixar passar. Primeiro passou um "SEG1" e depois, para meu espanto, o "PR" seguido do "SEG2". Nem mais nem menos que o Presidente Matan Ruak. Mais em resultado do estado da estrada --- indescritível! Como é possível que a principal estrada de atravessamento do país de norte para sul esteja como está?!... --- do que de esforço meu, eu acabei por ser uma espécie de "SEG3", sempre coladinho aos três à minha frente.
Claro que para fazer bem ao meu ego dei logo a volta à situação dizendo que o PR de TL me escoltou (e ao meu "Jaquim") durante alguns quilómetros...
A "brincadeira" acabou nos arredores de Dili, onde a esposa do PR, Isabel Ferreira, acompanhada do marido, foi inaugurar um posto de saúde.



Deixei a minha "escolta" e segui viagem a caminho do destino, aos solavancos. Ou arranjam a estrada ou não me apanham lá outra vez! Olhem que eu cumpro a ameaça!... Rsss

Conhecendo de ginjeira as manias do Tatamailau --- maniento e envergonhado, tem o mau hábito de a meio da manhã se esconder atrás das nuvens... ---, fui o mais depressa que os 4.579.081.244.324 buracos da estrada me deixaram para chegar a horas de o apanhar ainda descoberto. E consegui.

 
 Mas pouco depois começaram as nuvens a rondar e num determinado momento até parecia que o Tatamailau tinha "virado" vulcão e deitava fumo... Momento único.


Esta última foto foi já obtida no local de destino, Seloi Kraik. Como de costume comecei por fotografar o vale tendo como ponto de referência, como de há muitos anos a esta parte, uma determinada árvore, uma das "minhas" árvores em Timor Leste.
Lá estava o que buscava: o "imenso" vale, a "minha" árvore, o arrozal verde, viçoso, e, ao fundo, reinando sobre tudo e todos, o Tatamailau com as nuvens a pairar por perto e a ameaçarem cobri-lo. E até os estafermos dos cabos de electricidade lá estavam para "sujarem" o "boneco"...


Lembrei-me então de ir visitar o meu amigo José Domingos Pica, o chefe de suco local, a quem eu tinha dado boleia há mais de um ano (a história do aparecimeneto deste apelido bem alentejano nos confins do "império" está algures lá para trás neste blogue...).
O chefe estava em casa e recebeu-me com a afabilidade do costume.
Conversa para aqui, conversa para acoli, ele disse-me que para ao regresso tinha 3 alternativas: ou, como costumo fazer, voltava simplesmente para trás pelo mesmo caminho, ou seguia em frente e contornava todo o lago até voltar ao seu início retomando depois o caminho habitual de regresso ou subia uma estrada de terra, íngreme, que se via da casa dele e que me levaria directamente a Aileu e ao melhor frango de caril do hemisfério sul, o da D. Silvina.
Optei por esta última hipótese e lá fui...
No que eu me fui meter... A "estrada" (é alcunha, claro!...) de terra batida era (foi...) transitável com a costumeira bonomia do "Jaquim" mas em alguns trechos obrigou-me a parar, mostrá-la ao jeep e dar-lhe uma pancadinha para o animar a ir em frente...


Mas valeu a pena porque em alguns momentos a paisagem é espectacular e vale bem o sacrifício dos "rinseses".




Lá fui andando estrada fora até chegar aos arredores de Aileu. Aí dei com um bairro de casas pré-fabricadas que vim depois a saber serem construidas ao abrigo de um programa de construção de habitações no quadro da prossecução dos chamados "Objectivos do Milénio".
Note-se que não vi vivalma e o bairro parece feito completamente ao arrepio do que é a tradição de ordenamento do espaço das populações. Pergunto-me se o seu destino não será, numa primeira fase, ficar abandonado, e numa segunda fase ir sendo desmontado aos poucos à medida que alguém precise de uma chapas lá para casa... Fez-me lembrar os idos dos anos 70 e 80 em Moçambique, em que, pressionadas a viver em Aldeias Comunais, as populações "responderam com os pés", ficando lá 1 ou 2 dias por semana e o resto do tempo nas suas habitações tradicionais... A ver vamos...


Entretanto cruzámo-nos com algumas pessoas que regressavam do mercado de Aileu e tinham à sua frente uma (quase de certeza) longa caminhada à sua frente.

Finalmente chegámos a uma outra paragem intermédia: o restaurante da D. Silvina, a "sede" do frango de caril... Bem à vista está uma foto dela posando com um cliente cuja identidade desconheço... ;)

 
Desde a última vez, havia uma novidade: a usual bandeira do Sporting estava enrolada para cima de uma divisória, meio escondida. Deve ter sido obra do benfiquista que colocou a bandeira abaixo em local bem visível.


Terminado o repasto, eram horas de regressar a Dili não sem antes dar uma saltada o monumento aos "massacrados de Aileu" na época da invasão japonesa. Infelizmente continua com o mesmo estado de abandono que já conhecíamos de anteriores visitas. Volte, Rui Fonseca!... :-)


O regresso a Dili não teve história... A não ser o de ter de fazer novamente os já conhecidos 4.579.081.244.324 buracos da estrada!