Um amigo meu, o Rui Fonseca, é um dos portugueses que conhece melhor Timor Leste por o ter percorrido de lés-a-lés por várias vezes: primeiro, durante a administração portuguesa por aí ter feito o serviço militar; segundo, já depois da libertação do país do colonialismo indonésio.
Quando prestou serviço na nossa embaixada em Dili, desde 1999 até 2002, aconteceram-lhe algumas "estórias". Esta é uma delas tal como relatada no seu livro sobre "Monumentos portugueses em Timor-Leste" e que ele próprio reproduziu no Facebook --- de onde a "pirateação" foi efectuada com a devida "chapelada" ao autor:
"Excerto do livro "Monumentos Portugueses em Timor-Leste" [da autoria de Rui Fonseca]
Carta recebida pelo adido militar na Embaixada de Portugal em Díli, Cor. C.A. (o português foi ligeiramente corrigido para melhor inteligibilidade do texto )
"EX. EXCELENCIA SENHOR CHEFE DE ACAIT QUE ESTÁ EM DILI TIMOR LESTE ... Ver mais
1. O meu Pai, Marcelino Babo, foi Soldado de Segunda Linha no Ano de 1973 até 1975, ou seja, trabalhou cerca de 3 anos como Soldado de Segunda Linha.
2. O meu Pai Marcelino Babo, em 1975, recebeu ordem de Estado Português no Posto de Lete-Foho para fazer Segurança na Fronteira em Maliana, no Quartel Segunda Linha de Tunu-Bibi.
3. Numa manhã cedinho, mais ou menos às 5 horas, eles fizeram patrulha na Fronteira. De repente apareceram os Tropas da Indonésia de arma na mão. Dali eles voltaram para quartel, arrumaram as coisas deles e fugiram, cada qual seguindo o seu rumo, menos o meu Pai Marcelino Babo que não fugiu ainda, por razão de a Bandeira Nacionalidade Portuguesa ainda esta no ar. Dali ele desceu a Bandeira Nacionalidade Portuguesa, embrulhou muito bem e fugiu para Posto Lete-Foho, e seguiu para casa onde ele morava.
4. Em 1978 Os Tropas da Indonésia foram a nossa casa, a fazer inquérito ao meu Pai Marcelino Babo, sobre a sua arma bem como a, negou que tanto a arma como a Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, não estava na mão dele. Por isso os Tropas de Indonésia ficaram furiosos e deram pancadas, coronhadas com arma até meu Pai Marcelino Babo ficar aleijado. O meu Pai Marcelino Babo, entregou então a arma para as Tropas da Indonésia, menos a Bandeira Nacionalidade Portuguesa é que ele não entrega. Com o sofrimento provocado pela agressão, ele veio a morrer no ano de 1982.
5. Antes de o meu Pai Marcelino Babo morrer, o meu Pai ainda me chamou e como eu sou a filha mais velha, o velhote disse para mim: "que essa Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, e você como minha filha mais velha, você tem de guardar muito bem, e um dia mais tarde, quando chegar o Dono dessa Bandeira , você tem de entregar outra vez ao Dono. Porque eu sei muito bem que o Dono dessa Bandeira, cedo ou tarde há-de chegar, há-de voltar".
...E a bandeira nacional foi entregue na Embaixada de Portugal, pela filha do Marcelino Babo que não quis que a mesma fosse apoderada pelos invasores. Durante esse tempo, ficou escondida em vários locais, servindo de travesseira, colchão ou mesmo enterrada: - O pedido foi cumprido! Exemplos destes felizmente para os Portugueses e Timorenses não foram únicos. Em muitas casas lulics ainda se encontram bandeiras e artefactos dos Maiores de ambos os povos, que um dia, numa prova de confiança, foram entregues aos Timorenses, pela sua proximidade, dedicação e respeito às gentes lusitanas, representadas num símbolo que entenderam sempre como um elemento de coesão nacional. Foi assim o Timor Português. "
Escusado será dizer que fiquei com a lagriminha no canto do olho...