domingo, 21 de fevereiro de 2016

Dili - Aileu - BM (começar por ler a crónica mais abaixo)

[Continuação da crónica abaixo, que deve ser lida antes desta]


Aileu, 9h da manhã.
O viajante é recebido por uma estátua de gosto duvidoso inspirada em outras de origem indonésia.


Ponto de encontro: perto do mercado local. Tomado o matabicho e feito o ponto de situação, o grupo de deputados o Parlamento Nacional em viagem de fiscalização a várias obras"partiu-se" em dois e, como de costume, acompanhei o grupo de integrava a presidente da Comissão com que trabalho há quase 3 anos.

Primeira paragem: a (assim intitulada...) central eléctrica de Aileu.


Primeira surpresa: trata-se de um pequena construção, uma "vivenda", de 3-4 cómodos... sem central nenhuma! Que, aliás, é agora completamente desnecessária desde que, hás uns 3 anos, começou a funcionar a central eléctrica de Hera, perto de Dili.
A "central" é vizinha da sede do suco de Seloi Malere, "encostado" a Aileu Vila.


Segunda paragem: a caserna (?) da Polícia Nacional de Timor Leste, cerca de 1 km mais adiante.



As obras estão presentemente (há ceca de 1 ano) paradas e espera-se que recomecem em breve. Trata-se de uma construção de uma dimensão significativa.

Ciranda, cirandinha e lá vamos nós a caminho da próxima etapa. Uma "aldeia do Milénio", provavelmente das mais pequenas do país.




As casas (cerca de 40) são, como todas as outras, pré-fabricadas e inquilinos queixam-se da qualidade da construção e da montagem pois são muito quentes e deixam entrar a água da chuva pelas "juntas" das paredes.
Mandadas construir pelo governo no âmbito da prossecução dos chamados "objectivos do milénio - MDG", destinavam-se a ser atribuídos às pessoas mais "vulneráveis". Só que muitas destas são de sucos distantes da zona de implantação das casas e das zonas de cultivo pelos locatários. Resultado: muitos deles têm de andar 1 a 2h para chegarem às suas hortas e essa é uma das razões, provavelmente, que levaram os titulares das novas casas a ficarem nas antigas residências ... e darem aos filhos a casas novas dadas pelo Estado. Uma mãe relativamente jovem confirmou que a casa tinha sido dada à mãe e que o marido tinha ido para a horta, junto da antiga residência, a cerca de 2h de distância. "Com os vizinhos passa-se o mesmo; uns têm as hortas mais perto e outros mais longe".

Depois de uma outra paragem intermédia --- no caminho da qual passámos por formações rochosas interessantes --- partimos para outra visita, desta vez a 13 km de Aileu na estrada para Maubisse.



A estrada já está em obras, aparentemente em estado avançado. Talvez a estrada seja alcatroada na época seca que se aproxima (Maio-Outubro).


O objectivo era visitar uma exploração "comunitária" de aquacultura, onde se encontrava já o outro grupo.





O "ikan nila" não é mais que o "peixe do Nilo", a vulgar "tilápia do Nilo":


Visto este empreendimento, era hora de ir à procura do almoço e do meu prato preferido em Aileu:
o frango de caril --- como eu costume dizer, trata-se do "melhor frango de caril do hemisfério sul..." --- no restaurante da D. Silvina, provavelmente o único digno desse nome vários quilómetros em redor.





Terminado o almoço, foi o meu regresso a Dili. Uma viagem de 47 kms que durou 2h30m, o mesmo tempo, mais ou menos, que levo a fazer os 125 km de Dili a Baucau... O estado da estrada, com muitas zonas que parecem barradas com manteiga por causa da lama e o movimento de camiões de carga, a tal me obrigou.



Pelo caminho ainda deu para agradecer este voto na saída do Remexio para a estrada principal...


... e admirar, mais uma vez, as mulheres deste país: são elas que trabalham, trabalham, trabalham... Não é incomum ver algumas, por vezes já com alguma idade, a carregarem tudo e mais alguma coisa nos característicos cestos presos à cabeça enquanto o marido vai à frente "de corpinho bem feito"... Viva as mulheres timorenses!


Mais à frente... Dili à vista!


Dili-Aileu e arredores - Dili ;)

6h30m de uma quinta-feira: desperto o "Jaquim" e digo-lhe que temos de rumar a sul, a Aileu. Deveres profissionais que se conciliam com os lúdicos. É possível.  Claro que é possível para quem, como eu, gosta de andar na estrada e de contactar de perto com a realidade deste país, particularmente "a montanha", os "distritos". Quem vem a Timor Leste e não sai de Dili, como muitos que por cá passam nas célebres "missões" de 1 ou 2 semanas, não sabe verdadeiramente onde esteve. Não esteve em Timor Leste mas sim num hotel, igual a tantos outros de 3-4 estrelas.
Mesmo estremunhado, o "Jaquim" não se fez rogado e pôs-se em marcha. Vrum! Vrum!..

Primeiro "choque": o estado da estrada. 47 kms que parecem 470... Ai meus "rinseseses"!... Parte dela tem vestígios de alcatrão no meio de tantos (e profundos) buracos; outra parte, particularmente mais perto de Dili, está em obras de renovação no ambito de um projecto financiado pelo Banco Mundial que irá renovar toda a estrada até Ainaro, pelo menos. Encontrei bocados em obras também entre Aileu e Maubisse.






Mas a estrada, àquela hora, tinha também outros motivos de interesse: paisagens e gentes.




Up, up and away... Depois de cerca de 1h30m a subir a montanha (quase) sempre vendo Dili cá em baixo, à direita, "dobra-se" finalmente o "cabo" onde se passa a ver o Tatamailau. Velho "habitué" destas viagens, sabia que por volta das dez da manhã o "avô" veste-se de nuvens e fica muito recatado no seu canto... Também por isso e porque tinha ficado de estar em Aileu às 9h da manhã para começar o "servisu", decidi partir cedo de Dili. E, mais uma vez, fiz bem. O "avô Lau" apareceu-me depois de uma curva na estrada (a cerca de 27 kms de Dili) em todo o seu esplendor,  limpinho, limpinho...



Mais perto, nos vales até Aileu, as nuvens eram ainda uma presença constante, dando origem a uma paisagem linda.


A certa altura surge à nossa esquerda a que é, provavelmente, a "uma lulik" (casa sagrada) mais fotografada do país. O seu guardião preparava-se para içar mais uma das bandeiras que normalmente estão içadas durante o dia. Preocupado com o meu horário, acabei por não poder aceitar o convite que me fez para assistir (e fotografar...) o içar da bandeira, Ala que se faz tarde...


Mais adiante, sobre uma curva da estrada, surge o mercado de Solerema, quase vazio àquela hora da manhã --- como, aliás, está quase sempre... :)


Talvez uns 2-3 kms adiante, junto a um outro mercado (amarelo) de estrada ali presente, está a placa indicadora do desvio para o vale de Seloi Kraik. O vale é uma das minhas paisagens preferidas em Timor Leste, nomeadamente na época em que os arrozais já estão verdejantes, dentro de cerca de 1 mês, mês e meio.


Tenho ou não tenho razão para achar esta uma das melhores paisagens do país?





No caminho ainda deu para tirar mais fotos da paisagem e das gentes:


Esta senhora apareceu-me na estrada já perto do vale. Uma beleza serena e um "turbante" digno de um Dior... ;) Não me contive e pedi para lhe tirar a fotografia e no final terminei com um "bonita lo'os" que a fez rir... Mas já não fui a tempo de fotografar o seu riso... :(




Crianças a caminho da escola de Seloi Kraik sob a protecção do seu "avô".

Estava cumprida a primeira meta da minha "missão". Era tempo (8h30m) de partir em direcção a Aileu, a cerca de 10km para sul. O dever chamava por mim.

[continua na próxima crónica]