sábado, 23 de abril de 2011

Quem quer peixinho fresco de Ataúro?!...

Sábado de manhã, de super-super-fim-de-semana que, começando na quarta-feira à tarde se vai estender até segunda!
O que fazer sem ser o que os outros "todos" fizeram e que foi ir para Bali? Dar umas "curvas" (literalmente...) por aí.
Ontem, sexta-feira, foi dia de ir até ao "Vô" Serra, que não visitava há cerca de um mês.


A estrada até Maubara está cada vez pior, com buracões cheios de água que obrigam a cuidados suplementares porque nem podemos calcular a profundidade dos buracos. Num deles "caí" literalmente dentro dele a uns quanto kms/hora e foi um "banho"...

Chegado a casa do "Vô" estivemos na conversa mais de uma hora e vi a sua nova "aquisição": a planta de baunilha, uma trepadeira, está com flores e vagens. Ele explicou-me que quando as flores aparecem e não havendo bicharocos que façam a polinização, o homem tem de intervir... O que me fez lembrar a velha definição de um aluno que disse que "na inseminação artificial o veterinário substitui o boi"... :-) De facto, a fecundação das flores é feita pelo homem, aplicando uma técnica primária mas eficaz: espetar um pau na flor!


A verdade é que a planta está cheia de vagens que mais tarde, depois de secas, dariam bom rendimento se vendidas. E dão o cheiro agradável bem nosso conhecido.



E chegou a hora da partida. Descendo a montanha, vi uma família de timorenses (casal e 5 filhos!...) a quem acabei por dar boleia pois calculei que fossem para Maubara e ainda estavamos a uma boa distância. Além disso a senhora levava pendurada nas costas mas presa com a alça na testa, uma enorme cesta cheia de bananas! A pé levariam, provavelmente, mais de uma hora a descer a montanha. Lá entraram todos no carro e vieram comigo.
Afinal nem era para Maubara que íam mas sim para uns 5 kms mais adiante. Ficaram a bendizer o malae, certamente... :-)

A caminho de Dili, talvez a meio caminho entre Maubara e Liquiçá, dei com algo que sabia existir mas nunca tinha visto: uvas! Infelizmente eram um bocado amargas porque não tem estado sol suficiente e a chuva em excesso que tem caído também contribui para o resultado.


Mesmo assim estava disposto a comprar um kilo (2 dólares; cerca de 1,4 euros) mas nem eu nem o vendedor tínhamos trocado! Paciência!

Já depois de Liquiçá, uma das pontes da região foi abaixo e estão a construir uma nova. Já está feita toda a "teia de aranha" de sustentação da ponte para o enchimento da mesma.


Por fim, de regresso a Dili, não sem antes ter de passar pelas curvas que separam Tibar da capital, zona "povoada" de rochas na estrada devido aos deslizamentos de terras que têm acontecido na região devido à abundância e intensidade das chuvas nesta época.


E eis-nos chegados ao "sábado de aleluia"! Hoje de manhã, aproveitando uma nesga de sol, fui dar uma volta e descobri duas "novidades" quase frente à Casa Europa, a antiga "Intendência": um relógio urbano ainda em montagem e uma cena que já tinha presenciado noutra ocasião: a descarga de peixe vindo de Ataúro para abastecer a cidade.


O curioso do relógio, oferecido por uma empresa à cidade, é que a marca do mesmo, pouco vulgar, é o nome de uma grande amiga minha que vim conhecer em Timor Leste e que muito admiro pelo seu trabalho à frente de um projecto de produção de materiais de apoio ao ensino usados em todo o país. Claro que me "armei em bom " e enviei logo uma mensagem para ela dizendo que tudo tinha sido feito graças às minhas influências e para a homenagear!... LOL ! Mentirinha boba... :-)

Quanto à cena da descarga do peixe, aí ficam algumas fotos legendadas e que contam a "história" toda...

 O peixe vem de Ataúro em "corcoras"...

... de onde é transferido para os beiros que o leva a terra...

... onde é amontoado antes de ser disposto nas "cordas" que serão
penduradas nos varapaus de transporte
aos ombros dos vendedores


Amanhã é outro dia...

sábado, 2 de abril de 2011

Baucau e seus arredores...

Há uma semana, aproveitando o facto de estar na Pousada de Baucau o meu amigo de infância Henriques de Jesus, "meti rodas a caminho" e fui (fomos) até Baucau. O projecto era ir rever a minha "modelo" de há uns 3-4 anos, a Nafreana, que mora na estrada de Venilale a fim de lhe tirar a foto deste ano e, no domingo de manhã, ir até Laga para ver como estavam os campos de arroz que tanto me tinham impressionado há cerca de um mês, na viagem que inesperadamente fiz a Baguia e relatada noutro local.

A viagem de Baucau para Venilale decorreu debaixo de chuva mas mesmo assim deu para tirar umas fotos interessantes. Nomeadamente esta mãe e as filhas que se protegiam da chuva com folhas de bananeira, um modelo muito ecológico de guarda-chuva. E com a vantagem de ser "made in Timor Leste" e não importado da China...


Chegado a casa da Nafreana, foi a desilusão: a mãe reconheceu o meu carro e veio ter comigo e disse-me que ela estava agora a estudar em Ossu. Lá se foi a possibilidade de tirar mais uma fotografia dela. Há alguns meses atrás tinha lá estado e ela também não estava pois tinha vindo para Dili! Eu ao encontro dela e ela ao meu desencontro... Mas deixei com a mãe uma moldura em que tinha colocado as várias fotos dela ao longos dos últimos 3 anos. A mãe ficou, claro, encantada...


A criançada da vizinhança reconheceu-me também e veio pendurar-se no carro fazendo as macacadas do costume.
A casa da Nafreana fica num local muito aprazível, rodeada de arrozais em socalcos, socalcos esses que na região existem em vários locais.


Os arrozais estendem-se quase até Venilale e fui tirando fotos ao longo da estrada, uma forma de passar o tempo pois a mãe da Nafreana tinha dito que estava à espera dela.


A 2 kms de Venilale voltei para trás e parei novamente junto da casa para ver se a moçoila tinha chegado. Nicles, batatóides! De Nafreana nem sinal. Acabei por me meter de novo à estrada e regressar, ainda debaixo de chuva, a Baucau. No caminho tive de passar pelo "buraco da agulha" criado pela queda de uma árvore de grande porte.



Domingo amanheceu com o céu todo encoberto mas não chovia. Depois de "matabichar" meti-me à estrada e lá fui eu a caminho das duas zonas que queria ver e fotografar: a baixa do Seissal e Laga. O sol, entretanto ía aparecendo "afastando" uma parte das nuvens.

A zona do Seissal estava linda, com os campos de arroz semeados há pouco tempo e verdinhos, verdinhos, como só um arrozal consegue ser. Aqui e ali ainda havia pessoas a trabalhar nos campos. Alguns camponeses usavam agora, em substituição dos búfalos para pisotearem o terreno de cultivo, os motocultivadores que o Governo comprou e cedeu a alguns deles.


A planície do Seissal proporciona também imagens espectaculares dos dois Matabean: o "feto" (mulher), à esquerda, e o "mane" (homem), à direita. Por vezes consegue-se mesmo fotografá-los reflectidos na água dos arrozais.


Chegado a Laga, recordei a imagem da igreja local, onde decorria a missa matinal.


Antes de ir a Laga tinham-me também falado na "tranqueira" local. Perguntei onde era a uma moça que por ali estava mas ela ou não sabia ou não me compreendeu. E fiquei na mesma.
Segui então para apanhar a estrada para Baguia, de onde, um mês antes, tinha tirado umas fotos muito boas dos terrenos preparados para receber as plantas de arroz.

Acima e abaixo: a mesma área da várzea da ribeira de Laga
no início e no fim de Março/2011

Na zona de onde tirei as fotos há um conjunto de casas de tipo tradicional ("melhorado") da região. É em Butufalo de Laga (8º 28',633 S + 126º 36',09 E + 65mts), de onde se vê também uma paisagem espectacular dos dois Matabean, o "feto" mais próximo, e o "mane", logo a seguir.




A primeira parte da "missão" em Laga estava cumprida. Faltava dar com a "tranqueira". De regresso a Laga, vi na estrada um "katuas" que pensei ser boa fonte de informação. E assim foi: indicou-me que mais adiante estava um desvio para a esquerda que permitia chegar até lá. E lá fui eu mais o meu "Jaquim" ladeira acima até chegar a um planalto por cima da povoação. "Esta gente sabia onde colocar este tipo de edifícios", foi o meu primeiro pensamento: num alto, dominando a paisagem em redor e os acessos.


As muralhas da "tranqueira" estão bem conservadas mas a casa de habitação no interior está em ruínas. A planta do "castelo" é interessante pois em dois cantos diagonalmente opostos, permitindo cada um controlar dois lados do quadrado, há torreões redondos que embora baixos são eficazes na sua função de vigia.

Mas o que mais me admirou foi a existência, a poucos metros da construção abaluartada, do edifício da antiga Administração portuguesa. É um edifício que tem sinais de ter sdo utilizado pela tropa indonésia e isso terá ajudado a salvá-lo da ruína quase certa, como o que aconteceu com as residências de funcionários existentes em Venilale.


Trata-se de um edifício (facilmente?) recuperavel para turismo, por exemplo para uma pequena estalagem/parador quer para beneficiar da vista, espectacular, que dali se tem e permitir a visita da região quer para apoio aos que, de Dili, procuram a ponta leste da ilha, nomeadamente Tutuala e o Jaco.




Terminada a "romaria", estava na hora de regressar a Baucau. E foi no caminho de regresso que mais uma vez me deleitei com a visão dos arrozais, dos Matabean e... não só!