quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Dili a Fatubessi em demanda do "híbrido de Timor" (cafeeiro)

Na sexta feira passada, dia 4 de Outubro, eu e mais uns quantos deputados do Parlamento Nacional de Timor Leste metemo-nos à estrada e fomos em serviço a Fatubessi, onde "nasceu" a conhecida empresa Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, criada pelo antigo Governador Celestino da Silva para dinamizar a economia da ex-colónia, nomeadamente com a cultura, numa área muito apreciável e com métodos que se queriam modernos, do café.
 
 



Já tinha estado em Fatubessi há cerca de 2 ou 3 anos. O caminho é ir de Dili a Gleno, passar por dentro de Ermera e continuar em frente até chegar a Fatubessi.

Actual Igreja de Gleno

Antevisão da Igreja a construir em Gleno
  
A conhecida Igreja de Ermera com os seus característicos azulejos
 
Casa de Gleno de que se vê um parte na foto da Igreja
Nela viveu há muuuuitoooos anos uma amigazinha minha.

Construção típica da zona de Aifu, entre Ermera e Fatubessi:
pedra rigorosamente emparelhada

 
Mais casas típicas da região de Aifu


Depois é descer a encosta desde Fatubessi até à aldeia da Mata Nova onde foi redescoberta a planta, agora com 83 anos, que é o "híbrido de Timor" e cuja multiplicação está na origem de muito do café que se plantou por esse mundo fora, das Américas à Ásia passando por África.
A história desta planta (umazinha!...) pode ser vista aqui:
 http://www2.iict.pt/?idc=21&idi=19899

A ribeira Loes e alguns dos afluentes que a engrossam e, ao fundo
a zona de Maliana, de Bobonaro e do monte Cailaco

Capela de Fatubessi, onde está guardada
a imagem da Virgem Peregrina (ver em baixo)


Descendo de Fatubessi para Mata Nova

Casa de Mata Nova

Chegados a Mata Nova, depois de cumprimentados pelas autoridades locais e informados de que o pé de cafeeiro, recentemente redescoberto, estava a uns "míseros" cerca de 200 metros, lá se meteu o grupo a caminho. E eu com ele, claro --- ainda que os cabelos brancos já me tenham ensinado há muito que o metro em Timor Leste, provavelmente por causa do calor e da dilatação que provoca nos corpos, costuma ter mais de metro e meio...
Mas... Alto e pára o baile! O que é isso! Não me disseram que só os primeiros 30-40 metros eram mais ou menos planos... e que os outros todos eram numa verdadeira ravina com, no mínimo, uns 40% de inclinação! Juro pela alminha do meu gato! (que nunca tive... Sou mais de cães...) Assim não vale! O quê?!... Descer isto tudo E DEPOIS SUBIR?!... Na! O filho da minha mãe, com esta "morfologia", por mais linda que seja, não se mete nessa alhada!
E não meti! havia de ser bonito se escorregasse e partisse uma perna... Como é que os outros faziam para me trazerem para cima? Rolavam-me, era?!... Nem pensar!...
 
E assim decidi ficar por ali mesmo, tirando algumas fotos, conversando um pouco e... fazendo de Pai Natal em Outubro!
 
 
 A "estória" do Pai Natal explica-se rapidamente: calculando que as novas moedas de 100 centavos (equivalentes da um dólar) ainda não tivessem chegado onde o diabo perdeu as botas, "aviei-me" no banco central e levava três sacos de moedas para distribuir... Foi-se o primeiro, foi-se o segundo... mas o terceiro já não foi necessário. Ora toma: pataca a ti, pataca a ti, a ti pataca... E lá se foram cerca de 50 dólares distribuídos por tudo quanto tinha boca e mão para estender e receber a moeda. Deliciei-me vendo mais velhos e mais crianças de olho arregalado para moedas tão reluzentes...
 
Entretanto chegaram os meus companheiros de viagem. Todos com a língua de fora mas lá foram chegando. Incluindo a minha colega a quem, sabiamente, tinha entregue a minha máquina fotográfica mais pequena para fotografar o dito cujo pé de café.
 
De regresso ao ponto de partida...

Ágil e fresco que nem uma alface...
 


O pé de café, no meio, protegido por uma rede

 
Eis aqui o pé de café que mudou a face do mundo!... Resistente a várias doenças, descendentes deste pé foram cruzados, nomeadamente no Centro instalado em Oeiras, com plantas mais produtivas originárias de outros países e ajudaram a salvar a produção agrícola mundial quando esta foi atacada pela ferrugem do cafeeiro.
 
A visita terminou com uma reunião com a população e as autoridades locais. No meio da conversa alguém identificou entre a assistência um indonésio de Bali que... lutou no mato pela independência de Timor Leste e como tal foi reconhecido pelas autoridades centrais do país.


Enquanto decorria a cerimónia lá fui tirando mais algumas fotos.


 

 
 
E finalmente fizemo-nos novamente à estrada. Demorámos cerca de três horas, sem parar e quase sempre aos saltos, chocalhados de um lado para o outro tal o estado lastimável das estradas na maior parte do percurso.
 
Mas de tudo o que vi naquele dia o que mais me chocou foi ver dezenas, certamente centenas, de "madres del cacau", as árvores gigantescas que protegem os cafeeiros do sol directo, caídas por terra em resultado da "bicheza" que as vem atacando de há anos a esta parte. A estrada entre Fatubessi e Ermera, principalmente, é um autêntico cemitério destas árvores magníficas! Um verdadeiro desastre!


 
 


sábado, 7 de setembro de 2013

Feriado! ´bora para a montanha?!...

Cá para mim é assim: fim de semana ou feriado ou super-fim-de-semana com aqueles dois juntos é tempo de dar um salto até à montanha porque Dili fica, por vezes, algo concentraccionário...

O passado dia 30 de Agosto foi feriado em Timor Leste para comemorar a realização do referendo do mesmo dia de 1999 em que os Timorenses declararam inequivocamente ao Mundo que queriam seguir livre e independentes a caminho do seu futuro.

Para esse dia escolhi fazer um percurso que já tinha debaixo de olho há algum tempo, desde que, em visita de trabalho a Lacló, me disseram que poderia vir directamente dali a Metinaro (e depois Dili) sem ter de voltar a Manatuto e subir e descer o "subão".

Há algum tempo tinha andado a "cheretar" o Google Earth e fiquei com a ideia de que a entrada para essa estrada na zona de Metinaro ficava, no sentido Dili-Manatuto, depois do "cemitério dos heróis" e do próprio quartel de Metinaro.

Com pressa de voltar à estrada, nem fui confirmar e meti-me a caminho. Claro que fiz asneira... Na região andei a "passo de caracol" e... nadica de nada! Até que me convenci mesmo de que tinha passado pelo buraco da agulha sem o ver e decidi continuar até Manatuto e fazer a referida estrada Manaturo-Lacló-Metinaro no sentido nascente-poente em vez de no sentido Metinaro-Lacló-Manatuto. E assim fiz...
Um pouco antes da curva que dá acesso a esta última cidade lá estava uma das "minhas" árvores à minha espera.


Feita a curva para a direita que leva à entrada na zona que conduz a Manatuto, deparamo-nos, à direita, com um pequeno monumento que assinala a entrada da estrada para Lacló. Enfiámos por aí e iniciámos o nosso percurso para um pouco depois nos depararmos com uma das melhores paisagens da região: a ribeira de Lacló e o seu fio de água caminhando em direcção à ribeira de Manatuto (de que é afluente da margem esquerda) e do mar.


Depois foi o passar por várias povoações até se chegar a um local, perto da sede do suco Uma Laruk, onde há que optar entre dois caminhos: ou subir a estrada até Lacló ou continuar em frente mas sobre a esquerda e continuar ao longo da estrada que bordeja a ribeira de Lacló e passa por detrás do "subão".
 




Na época da cultura do arroz, em Maio-Junho ou antes, vê-se muita gente tratando dos arrozais nas margens da ribeira e que aproveitam a água desta. Nesta altura do ano, fins de Agosto, desenvolvem-se outras actividades, nomeadamente construção e reparação de casas antes que a época das chuvas, dentro de 1-2 meses, torne mais difíceis estas actividades.



 Nota-se igualmente alguma actividade de construção de pequenos edifícios públicos, geralmente sedes de sucos, inseridos num programa de emprego rural.


Chama também a atenção, tal como já tinha chamado aquando da nossa passagem por aqui há uns meses atrás, o estado impecável da principal igreja da região...


... bem como o nome "very peculiar" de uma capela que nos tinha escapado anteriormente.


Quando se toma a estrada que em vez de subir para Lacló segue ao longo da ribeira, dá-se ---- pelo menos dei... --- com várias pequenas manadas de búfalos.
Um deles, armado em "carapau de corrida", desatou a correr e a certa altura desviou o percurso em direcção a mim e ao "Jaquim". Com um "Jaquim" vermelho e eu com pouco treino para pegas de caras, achei aconselhável meter-me no dito "Jaquim" e "dar às de vila Diogo" para que este não se ferisse ou ficasse arranhado. Tadinho!...


 

Pouco mais adiante começamos a meter-nos mais para o interior, abandonando as margens da Ribeira Lacló e passando, durante algum tempo, a rolar por uma estrada sempre razoável nesta época do ano mas que deve ser um lamaçal enorme dentro de poucos meses, que rola ao longo de um afluente da ribeira até que começa a afastar-se dela para subir a montanha até ao ponto em que se começa a descer para Metinaro.



- "Tiu! Dalan ba Metinaro? Dalan diak?"
- "Blá, blá, blá." [Na percebi patavina...]
- "Ok!, Tiu! Obrigadu barak!..."

 
O caminho estrada acima chega a ser relativamente íngreme mas, para o "Jaquim", foi canja...
 
E finalmente chega-se ao cimo, onde nos deparamos com uma bifurcação da estrada: um "ramo" continua a subir (onde irá ter? Ao Remexio?!.. Vamos lá ver, "Jaquim"?!...) e o outro desce em direcção a Metinaro e ao mar.
 
A estrada está a ser arranjada e faz-se bem.
Até que se chega à (longa) recta final que "desagua" na estrada principal, a A1 (Rssss)Dili-Baucau a cerca de 2 kms do quartel de Metinaro (antes dele, para quem segue de Dili para nascente).
   


Chegado aqui, foi só o tempo de sair do carro e dar uma pequena caminhada para desentorpecer as pernas e... Dili, lá vamos nós!

domingo, 25 de agosto de 2013

Os salteadores do cafeeiro perdido!

Na semana passada fui rever o Vô Serra e dar uma saltada a Maubaralisa e Lisalara.
Foi na estrada para estas que vi um cafeeiro carregado de cerejas maduras, o único nas redondezas. Chamou-me a atenção por a sua produção ser, de facto, muito elevada para o que se costuma ver na região. Por isso ficaram-se-me os olhos nele... E daí a começar a engendrar um plano para o "assaltar" e fazer chegar o produto do "assalto" a amigos meus que trabalham na Missão Agrícola portuguesa difundindo café mais produtivo foi um (pequenino...) passo. ;)
 


Assim, a meio da semana tinha os "planos da pólvora" estabelecidos: voltaria ao local do "crime" mas devidamente equipado pois o cafeeiro tinha cerejas por estar numa encosta muito inclinada e de difícil acesso. Não seria difícil descer mas seria complicado subir... Rsss

Moral da história: telefonei ao meu maigo Chefe Miguel, dos Bombeiros, e pedi-lhe uma corda emprestada... E além da corda ainda trouxe um serrote e uma tesoura de poda. Todo equipado, estava pronto para a façanha.

E ontem, sábado, lá fomos, novamente a "dupla maravilha": eu e o meu primo Leiria.

Saimos de Dili cerca das 8h da matina e 1h30m minutos depois estavamos a chegar a casa do Vô para pedir a ajuda de um dos filhos do seu vizinho Tomás. Veio connosco o mais velho, o Paulo, e assim partimos para a operação final.
Antes, porém, o Vô quis dar-nos a provar mais um dos seus maravilhosos ananazes e pediu a um dos moços que fosse buscar uns ramos de café que ele tinha também com muitas cerejas e uns ramos do que ele diziar ser "café lobélia" ("que raio de café será este", pensei eu...)
Passado um bocado chegou um moço não com uns ramos de café mas sim com... um cafeeiro inteiro! Chegou ao pé dele e zás! Arrancou-o pela raiz com a catana... Fiquei de olhos esbugalhados quando o vi chegar com a planta com uns 2,5 metros de altura!
"Credo! Não quero isso tudo!", exclamei eu! E lá cortei 4 ramos da planta.
 

Depois apareceu o dito "café lobélia".
Nunca tinha visto cerejas tão grandes! Provavelmente do dobro ou triplo do tamanho das cerejas normais.
Comecei a matutar e lembrei-me que o nome correcto não é "lobélia" mas sim... "liberica". Trata-se de uma espécie com origem na Libéria mas que aparece em quantidades apreciáveis também na ilha indonésia de Java e, em maior quantidade, nas Filipinas.


 
O Vô só tem uns poucos pés deste tipo de café (desde o tempo da administração portuguesa; com cerca de 50 anos...) e por isso não o utilizam pois as quantidades produzidas são muito pequenas.
 
E lá fomos em busca do cafeeiro perdido. O pior é que andámos, andámos e não descobrimos o cafeeiro. A certa altura conluimos que já deviamos ter passado por ele sem o ver e voltámos para trás. Viemos com o "Jaquim" a passo de caracol e a certa altura parámos pois reconhecemos melhor a zona onde o dito cujo deveria estar.
Prescutámos cada cafeeiro e... nada! Como me lembrava da estrutura da planta --- uns caules direitos e outro quase deitado ---, prestei melhor atenção a esses pormenores e dei com um que correspondia ao que a minha memória visual registara. Olhei para cima e lá estavam eles: cachos e cachos de cerejas de café tal como os tinha fotografado na semana anteirior.

"Está aqui!", gritei entusiasmado! E logo se me juntaram os outros dois "assaltantes", que andavam uns metros mais atrás "batendo" o terreno à procura de uma planta carregada de frutos.

E começou a preparação do assalto final. Regressado ao "Jaquim" para ir buscar o equipamento que tinha pedido emprestado, fui para o local devidamente "armado" de corda e de máquina fotográfica para registar o momento histórico!


Foi então que o meu "ajudante" timorense, a quem me preparava para "laçar" para o poder puxar no caso de ter dificuldade em regressar à estrada, me disse: "Não preciso da corda, senhor!". E ao mesmo tempo que o ia dizendo começou a descer os cerca de 3 metros que nos separavam do pé de café.
Chegado junto dele vergou-o de modo a tornar acessíveis os ramos e zás... cortou uns quantos com a tesoura de poda ou apenas dobrando-os até os separar do tronco.



 Completado o acto, foi o momento de tirar umas fotos para a posteridade com o Leiria e o Paulo a posarem pegando no produto do assalto... :)



Restou apenas o tempo para uma última foto da zona envolvente para mais fácil localização futura e partimos de volta a casa do vô Serra para deixar o Paulo e nos despedirmos.
 

Depois foi o regresso a Dili, com o Leiria a servir de motorista nesta que, pelos tempos mais próximos (quanto tempo, Leiria?!...) terá sido a última aventura desta "tripla maravilha" (o "Jaquim" também faz parte, claro...).
Até à próxima, Ricardo! "Caté!", como você costuma dizer recordando a sua terra natal, Angola.

Missão cumprida!

PS - última cena: os ramos de café foram entregues no próprio dia "a quem de direito", seguindo-se o seu "tratamento" (retirar os grãos de café, plantar, deixar drescer em sacos de viveiro, transplantar ao fim de alguns meses para a terra, esperar que eles cresçam e produzam... Coisa para uns 4 anos, pelo menos... Rsss). O equipamento voltou ao quartel dos bombeiros...