Batugadé era a "sede" dos "Serra" em Timor. Aí se instalou, a partir de certa altura, Francisco Serra, também conhecido por "o Serra de Batugadé" ou "o Serra das madeiras" devido à serração de madeiras que aí tinha.
Do edifício resta o "esqueleto", à espera de aproveitamento que não se sabe ainda qual será. Mas dava para um pequeno "parador", com restaurante e uns quantos quartos... E como está perto da fronteira com Timor Ocidental até serve na perfeição para o efeito... Vou pensar nisso... :-)
O Francisco Serra, irmão mais velho do "Vô" Serra (José), adoeceu e veio a falecer em 1979, encontrando-se sepultado no cemitério local. Aproveitando o dia 1 de Novembro, fui até lá com o "Vô" a fim de depor flores na campa dele e do seu filho Fernando, 100% português, nascido em Cernache do Bonjardim, que veio a morrer em 1976, na guerra civil de Timor Leste, na região de Ermera. Por lá esteve sepultado em local desconhecido da família até ao ano passado, quando dscobriram a campa e transladaram os seus restos mortais para perto do pai, em Batugadé.
Campa de Francisco Serra, em Batugadé
Campa de Fernando Serra. Os erros de português são para esquecer...
Prestada a homenagem aos mortos, falemos dos vivos... Neste caso de mim, do "Vô" e de um dos seus vários afilhados que nos acompanhou na viagem até Batugadé.
Depois de apanhar o "Vô" em Vatuvou, rumámos a poente. Em vários trechos a estrada tem uma paisagem deslumbrante, vendo-se aqui e ali pequenas praias de acesso quase impossível por terra. E a certa altura aparecem os conhecidos tanques utilizados antigamente pelos indonésios para fazerem piscicultura.
8º 42' S + 125º 06' E
Mas não vale olhar apenas para baixo e para a frente... De vez em quando temos de pôr o nariz no ar para ver um ou outro companheiro furtuito de viagem.
Fazendo caminho, chega-se à Ribeira Loes e à sua conhecida ponte, a mais comprida da Timor Leste, construída com a velha técnica (militar) indonésia de usar peças metálicas, fazendo lembrar o velho "Meccano". Um malandreco ("cheira-me" a coisa dos fuzileiros portugueses que em tempos estiveram em Liquiçá...) pintou sobre a placa que assinala o local... "Ponte Vasco da Gama"... O nome está hoje bastante sumido mas ainda dá para perceber a marotice...
Mais adiante há o que foi um campo experimental de cultivo de videiras apoiado pela agência alemã de cooperação internacional, a GTZ. Tem todo o aspecto de estar abandonado.
Mais além aparece um extenso arrozal, na zona de Beaco.
Na zona há também, dentro de água, um afloramento rochoso conhecido por "cabeça de Santo António".
Aproveitando a proximidade do mar, produz-se muito sal vendido na borda da estrada.
O mesmo acontece ao peixe, normalmente pequeno, muito abundante na região. No regresso de Batugadé o "Vô" não se dispensou de comprar peixe fresco para levar para e para os seus vizinhos mais próximos e que o ajudam diariamente. Resultado, o carro, à boa maneira timorense, "virou" transporte de peixe da maneira usual: pendurado no exterior... :-)
Depois de chegados a Batugadé e de termos ido ao cemitério voltámos para trás e almoçámos no restaurante "china" mais conhecido da terra, bem em frente da "tranqueira" (pequeno forte) existente no centro da vila.
Almoçados, estava na hora do regresso. E lá viemos nós, estrada fora, a caminho de Vatuvou, primeiro, e de Dili, depois. Assim se passou um dia bem agradável.