Entretanto uma amiga minha ficou interessada em lá ir também pois, apesar de já estar em Timor Leste há alguns anos, não conhecia a fábrica. E lá fomos nós ontem de manhã...
Surpresa, quando chegámos demos com operários trabalhando debaixo do telheiro da fábrica nos alicerces do que nos disseram depois ser um conjunto de três quartos para clientes VIP da Maternidade-Escola Nossa Senhora de Fátima que está instalada logo ao lado e que, como a fábrica, pertence à diocese de Dili.
Parte dos "despojos" são carris das vagonetas usadas e que, segundo indicações recolhidas junto de antigos residentes em Dili, vinham dos arredores da cidade, mais a poente do local, de onde vinha a matéria prima, e seguia até ao porto de Dili, passando junto do antigo Liceu "Dr Fancisco Machado".
O curioso é que uma das peças ostenta o nome da fábrica dos equipamentos, a antiga metalúrgica Nery, em Torres Novas.
Claro que o "bichinho" da investigação mordeu-me e não descansei enquanto não descobri, na net, que, ainda que sob nova roupagem, a metalúrgica ainda existe. Em Torres Novas, claro.
Terminada a "bisbilhotice" dos antigos equipamentos, fomos então (re)ver os fornos, nomeadamente o redondo e de média dimensão e o grande, rectangular, com um perfil algo estranho (mais baixo num lado que no outro para encaminhar o calor para a chaminé que se encontra na parte mais alta).
Entrados no forno grande, constatámos que ele continua a lixeira que tínhamos visto na visita anterior e que mete dó.
De tal maneira que com ajuda da minha amiga, "bem falante" de tetum, convencemo$$$$ um dos guardas a, nas horas em que não está de serviço, tirar de lá todas as garrafas de plástico que inundam o local. Só e apenas estas para não cutucarem nada do que seja material de eventual valor arqueológico.
De entre este há a registar alguns dos que poderão ser os últimos exemplares minimamente bem conservados de algumas das peças ali fabricadas: tijolo "burro", tijolo de orifícios, telhas de "meia-cana".
Numa investigação mais cuidada demos com o que julgamos ser as duas entradas principais para a chaminé de exaustão, uma em cada lado do edifício, junto à parede de topo.
Feita a "excursão" pelo interior do forno grande e que complementou a visita que fizeramos antes, viemos para o exterior para ver o alçapão que, em determinado local entre os dois fornos maiores, dá acesso ao que se julga ser os baixos deles. Neles se escondeu algumas vezes, tal como assinalado em placa apropriada, Xanana Gusmão quando dirigia a resistência. A última data em que eles terão servido de seu esconderijo foi... 12 de Novembro de 1991, "simplesmente" a data do Massacre de Santa Cruz...
E assim demos por terminada o "take 2" da visita à Fábrica de Fatumeta.
Ficaram a faltar dois pontos que ficam para a próxima:
a) confirmar que as garrafas de água desapareceram e o local está com melhor aspecto...; e, mais importante,
b) entrevistar o "vô" Manuel, o trabalhador de 82 anos que identificámos na nossa anterior visita e que, espera-se, ajude a reviver a história do local.
Por fim mas não por último: o facto de se estar a construir debaixo do telheiro da antiga fábrica já é grave pois o novo edifício vai ficar a meia dúzia de metros do forno redondo. Mas o mais grave ainda é que nos disseram que o projecto é aumentar ainda mais a clínica-maternidade... eventualmente à custa dos fois fornos mais pequenos (o redondo e um quadrado).
Em qualquer dos casos trata-se de um atentado inadmissível a uma peça de arquelogia industrial timorense que TEM DE SER preservada tal como ela era e não amputada de uma das suas partes ou com o ambiente da sua implantação alterado pelo construções aberrantes no contexto.
Não há aí ninguém de bom senso que mande parar isto enquanto é tempo? Cadê a Secretaria de Estado do Turismo e Cultura? Cadê o sr Primeiro Ministro? Cadê o sr. Presidente da República? Vamos a isto?!... o Sr. Bispo está aí tão caladinho porquê?!... :-)
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