Foi na estrada para estas que vi um cafeeiro carregado de cerejas maduras, o único nas redondezas. Chamou-me a atenção por a sua produção ser, de facto, muito elevada para o que se costuma ver na região. Por isso ficaram-se-me os olhos nele... E daí a começar a engendrar um plano para o "assaltar" e fazer chegar o produto do "assalto" a amigos meus que trabalham na Missão Agrícola portuguesa difundindo café mais produtivo foi um (pequenino...) passo. ;)
Assim, a meio da semana tinha os "planos da pólvora" estabelecidos: voltaria ao local do "crime" mas devidamente equipado pois o cafeeiro tinha cerejas por estar numa encosta muito inclinada e de difícil acesso. Não seria difícil descer mas seria complicado subir... Rsss
Moral da história: telefonei ao meu maigo Chefe Miguel, dos Bombeiros, e pedi-lhe uma corda emprestada... E além da corda ainda trouxe um serrote e uma tesoura de poda. Todo equipado, estava pronto para a façanha.
E ontem, sábado, lá fomos, novamente a "dupla maravilha": eu e o meu primo Leiria.
Saimos de Dili cerca das 8h da matina e 1h30m minutos depois estavamos a chegar a casa do Vô para pedir a ajuda de um dos filhos do seu vizinho Tomás. Veio connosco o mais velho, o Paulo, e assim partimos para a operação final.
Antes, porém, o Vô quis dar-nos a provar mais um dos seus maravilhosos ananazes e pediu a um dos moços que fosse buscar uns ramos de café que ele tinha também com muitas cerejas e uns ramos do que ele diziar ser "café lobélia" ("que raio de café será este", pensei eu...)
Passado um bocado chegou um moço não com uns ramos de café mas sim com... um cafeeiro inteiro! Chegou ao pé dele e zás! Arrancou-o pela raiz com a catana... Fiquei de olhos esbugalhados quando o vi chegar com a planta com uns 2,5 metros de altura!
"Credo! Não quero isso tudo!", exclamei eu! E lá cortei 4 ramos da planta.
Nunca tinha visto cerejas tão grandes! Provavelmente do dobro ou triplo do tamanho das cerejas normais.
Comecei a matutar e lembrei-me que o nome correcto não é "lobélia" mas sim... "liberica". Trata-se de uma espécie com origem na Libéria mas que aparece em quantidades apreciáveis também na ilha indonésia de Java e, em maior quantidade, nas Filipinas.
O Vô só tem uns poucos pés deste tipo de café (desde o tempo da administração portuguesa; com cerca de 50 anos...) e por isso não o utilizam pois as quantidades produzidas são muito pequenas.
E lá fomos em busca do cafeeiro perdido. O pior é que andámos, andámos e não descobrimos o cafeeiro. A certa altura conluimos que já deviamos ter passado por ele sem o ver e voltámos para trás. Viemos com o "Jaquim" a passo de caracol e a certa altura parámos pois reconhecemos melhor a zona onde o dito cujo deveria estar.
Prescutámos cada cafeeiro e... nada! Como me lembrava da estrutura da planta --- uns caules direitos e outro quase deitado ---, prestei melhor atenção a esses pormenores e dei com um que correspondia ao que a minha memória visual registara. Olhei para cima e lá estavam eles: cachos e cachos de cerejas de café tal como os tinha fotografado na semana anteirior."Está aqui!", gritei entusiasmado! E logo se me juntaram os outros dois "assaltantes", que andavam uns metros mais atrás "batendo" o terreno à procura de uma planta carregada de frutos.
E começou a preparação do assalto final. Regressado ao "Jaquim" para ir buscar o equipamento que tinha pedido emprestado, fui para o local devidamente "armado" de corda e de máquina fotográfica para registar o momento histórico!
Foi então que o meu "ajudante" timorense, a quem me preparava para "laçar" para o poder puxar no caso de ter dificuldade em regressar à estrada, me disse: "Não preciso da corda, senhor!". E ao mesmo tempo que o ia dizendo começou a descer os cerca de 3 metros que nos separavam do pé de café.
Chegado junto dele vergou-o de modo a tornar acessíveis os ramos e zás... cortou uns quantos com a tesoura de poda ou apenas dobrando-os até os separar do tronco.
Completado o acto, foi o momento de tirar umas fotos para a posteridade com o Leiria e o Paulo a posarem pegando no produto do assalto... :)
Restou apenas o tempo para uma última foto da zona envolvente para mais fácil localização futura e partimos de volta a casa do vô Serra para deixar o Paulo e nos despedirmos.
Depois foi o regresso a Dili, com o Leiria a servir de motorista nesta que, pelos tempos mais próximos (quanto tempo, Leiria?!...) terá sido a última aventura desta "tripla maravilha" (o "Jaquim" também faz parte, claro...).
Até à próxima, Ricardo! "Caté!", como você costuma dizer recordando a sua terra natal, Angola.
Missão cumprida!
PS - última cena: os ramos de café foram entregues no próprio dia "a quem de direito", seguindo-se o seu "tratamento" (retirar os grãos de café, plantar, deixar drescer em sacos de viveiro, transplantar ao fim de alguns meses para a terra, esperar que eles cresçam e produzam... Coisa para uns 4 anos, pelo menos... Rsss). O equipamento voltou ao quartel dos bombeiros...