Devo confessar que quando me meti à estrada o objectivo era "simplesmente" chegar à zona das grutas escavadas pelos japoneses na Segunda Grande Guerra não para as visitar (tou "careca" de a conhecer... ;) ) mas sim para admirar os campos de arroz em socalcos que existem na região que, meus conhecidos de outros anos, são sempre uma paisagem digna de se ver.
Arrozal em socalcos na estrada para Venilale. Foi ao parar para o ver e fotografar
há já muitos anos que dei com uma das minhas "musas" timorenses, a Nafreana,
que tenho fotografado ao longo dos anos (talvez uns 7 ou 8)
Mas no fundo, no fundo, andava com uma "coceira" desgraçada porque já várias vezes ouvira falar da existência de lagoas na região sem nunca as ter visto. Uma amiga minha professora em Baucau "caíu na asneira" de voltar a falar-me delas e de postar no FaceBook umas quantas fotos e isso foi o suficiente para ficar roídinho de inveja... (ai que feio!...).
Mas a informação que eu tinha era de que tinham lá chegado a partir de Venilale, por uma estrada que começa (?) junto da famosa Escola do Reino de Venilale. Como não fazia intenções de lá chegar tinha posto de parte a ideia de ir até às lagoas.
Eis senão quando, na estrada principal até Venilale, dou com esta placa:
"Oops! O que é isto?!... A estrada para as lagoas? Aqui e não em Venilale?" Meio incrédulo com o achado perguntei no meu melhor tétum (não se riam, sff!... :P ) se eram mesmo as lagoas, em que uma delas era a "tasi manas" (mar quente...). O meu interlocutor falava um português muito aceitável e confirmou que se tratava da estrada para as lagoas. "Dalan capaz ou lacapaz?" foi a minha pergunta seguinte (estrada boa ou má?): "Lacapaz, senhor!... Muito estragada!".
Mas como a necessidade aguça o engenho e o meu "Jaquim" não é medricas, fui-me a ela"... Era mesmo "lacapaz"... O meu terror nestas minhas andanças é ter um furo nestas condições: em condições normais já é mau eu ter de mudar o pneu e num sítio daqueles, numa estrada esburacada e com um declive por vezes acentuado, seria um pesadelo... Mas confio sempre na velha experiência: mesmo que não vejas vivalma ao teu redor, se houver qualquer azar estarás rodeado de timorenses prontos a ajudar em menos de 5 minutos...
E lá fui, estrada abaixo, maldizendo o estado dela e o facto de me ter esquecido do iPad com o seu programa de registo das coordenadas e da altitude (GPS)...
Até que encontrei a primeira referência a uma lagoa, que vim depois a saber que se tratava da de água quente, mais pequena que a outra, mais longe.
Tratava-se da lagoa de Uai-daba e estava a uns escassos 300 metros à minha direita. Pesar de estar muito perto ela não era visível da estrada e decidi deixá-la para o meu regresso, depois de atingir a segunda lagoa, que a placa na estrada dizia estar um pouco mais à frente (não acreditem naquelas referências a minutos... A não ser que queiram estraçalhar a suspensão do carro e os vossos rins... :) ).
Continuando, começamos a encontrar paisagens de um bucolismo extraordinário, sempre com o verde dos arrozais como tema principal.
Também tivemos um "encontro imediato do 3º grau" com uma família, 3 gerações, que vinham estrada acima previsivelmente para chegarem à estrada principal, que estaria ainda a uma hora ou mais de caminho... a subir.
E finalmente demos com a lagoa maior (Hogabiloi) meio encoberta pelas árvores, o que deixa qualquer fotógrafo com um certo amargo de boca quanto a fazer boas fotografias, "de corpo inteiro"...
E aí invertemos a marcha e começámos o caminho de regresso, já um pouco mais tarde do que planeáramos... Por isso e porque entretanto resolvemos dar boleia a um senhor timorense que vinha subindo a estrada, acabei por passar pelo desvio para a lagoa de água quente sem ter desviado para a ir ver. Mas pensei para mim mesmo: "Ficas com mais uma razão para voltares aqui...". Assim será em futuro incerto...
E foi assim que fomos trepando o caminho até chegarmos à estrada principal Baucau-Venilale para regressarmos à Pousada de Baucau onde um par de amigos me esperavam para almoçar... E como se pode acertar o relógio pela hora a que sentam à mesa (12h...) não queria chegar tarde.
Depois de deixar o meu companheiro acidental de viagem, continuei e voltei a passar pela casa da Nafreana, cujos pais estavam na estrada e a quem perguntei por ela. Eu julgava-a a estudar nas madres em Ossu mas ela já está na universidade em Dili. Confirmado o telefone dela e feito um telefonema rápido para dar dois dedos de conversa comigo e com os pais, foi "pé na tábua" e "vamos embora que se faz tarde". Mas sem ser com "prego a fundo", claro... ;)
Casa da Nafreana ao fundo, junto das árvores, numa curva da estrada.
Nesta altura do ano a paisagem envolvente é paradisíaca...
"Quero um bife da vazia com molho de camarão, se faz favor. Acompanhado com legumes. E uma garrafa de bé malirin [água gelada]"
"E uma taça de arroz doce e um café expresso... "
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