Há tempos uma amiga minha que vive em Timor enviou-me uma mensagem dorida a propósito da morte de uma colega de trabalho.
Por achar interessante a forma como ela descreve a situação pedi autorização para usar parte da referida mensagem nesta ‘entrada’.
Aqui vai:
“As coisas aqui andaram muito complicadas na semana passada. [Há alguns dias atrás] morreu uma das minhas colegas […]. Não se sabe ao certo a causa da morte --- pelo que sei, não foi explicada à família --- e tudo o que ouvimos foi especulação e superstição. Só sabemos que dois dias antes estava bem, rindo e brincando”.
Internada no hospital acabou por falecer umas horas depois.
“Todos morremos, simplesmente não com tanta "facilidade". O que mais me impressiona noprocesso são duas coisas: ninguém realmente se importar em saber o que houve --- e se poderia ser prevenido [para possível prevenção de casos semelhantes] --- e a forma como a morte é revestida em pompa e circunstância.
A forma como se gastam dinheiro e recursos num falecimento aqui é algo incrível. Se a mesma mobilização ocorresse em relação aos problemas dos vivos, o país estaria noutro estágio.”
“(…) não consigo deixar de achar um absurdo a forma como o trabalho está a ser negligenciado em favor de conversas intermináveis [sobre o assunto]” […] E os vivos, como ficam? (…) agora todos têm medo de ficarem sós na sala [onde ela trabalhava], temendo que o espírito da pobre moça venha visitá-los...”
A forma como a vida e, principalmente, a morte é encarada em Timor Leste é provavelmente um dos principais factores de diferenciação cultural entre aquela sociedade e outras, correspondentes a países com economias mais avançadas e, de entre estas, as que têm uma tradição cultural judaico-cristã como o caso de Portugal.
Não quero, por isso mesmo, “julgar” a situação dizendo que um caso é "mau" e que outro é "bom" mas a verdade é que me faz alguma impressão que, mesmo pessoas que teriam/têm a “obrigação” de ter um olhar diferente sobre estas situações sucumbam, muitas vezes, ao peso da “tradição”.
Pior do que isso: não se vê um esforço significativo para alterar a situação. Pelo contrário, muitas vezes vemos elogiar a “tradição” (em geral) sem fazer a destrinça entre “boas” e “más” tradições. E é pena! Uma maior ênfase no que poderíamos chamar um “espírito científico” não fazia mal a ninguém. Bem pelo contrário.
A escola tem, aqui, um papel fundamental a desempenhar na criação deste espírito científico que permita ao país avançar mas mantendo as suas boas tradições --- algo que os japoneses, de alguma forma, conseguiram fazer. Para isso ela tem de melhorar muito a sua qualidade, nomeadamente por alteração da formação dos seus docentes, do conteúdos dos programas (onde se está a fazer um esforço importante) e dos materiais de estudo dos alunos. Tarefa ciclópica? Claro! Mas "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"...
Mas não é só à escola que compete esta modernização do modo de pensar de muitos timorenses. Ela tem o seu "tempo" próprio, normalmente muito lento, de alterar a situação. Outros agentes sociais, nomeadamente o Governo, a Igreja e os órgãos de comunicação social, particularmente a TV, têm aqui um papel fundamental a desempenhar já que alguma coisa tem de ser alterada (pelo menos) a médio prazo --- no curto prazo nada se consegue...
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