sábado, 11 de maio de 2013

Voltando à(s) estrada(s)...

A época das chuvas, uma saltada a Portugal e outras "cousas" (nomeadamente uma mudança de emprego ainda que de um lado para o outro da mesma rua... Do Banco Central para o Parlamento Nacional) fizeram-me estar mais quedo nas minhas andanças por estradas de Timor Leste do que eu gostaria. Assim, logo que a vidinha se estabilizou um pouco mais, ele aí vai a caminho de algures em TL...
Uma primeira viagem após o meu regresso às lides foi, como não podia deixar de ser, até casa do Vô Serra para lhe dar um abraço e ver como estava. Ora como havia de estar?!... Rijo e fino, como habitual, nos seus 83 anos --- que ele vai aumentando dizendo que são 84... em 24 de Outubro próximo... :-)


Depois, lembrando-me que os arrozais deviam estar verdinhos, verdinhos, foi, aproveitando o feriado do dia 1 de Maio, o regresso a um dos locais meus preferidos em Timor Leste: o (inevitável) vale de Seloi Kraik, perto de Aileu, na estrada que liga esta cidade a Gleno, em Ermera.
Pé (roda...) na estrada, à saída de Dili fomos "apanhados" por uma pequena caravana de carros que, com os seus "tinónis" a tocar e as luzes a piscar, pediam passagem. "Quem será a personagem?!..." pensei eu ao mesmo tempo que me encostava o mais possível à berma para os deixar passar. Primeiro passou um "SEG1" e depois, para meu espanto, o "PR" seguido do "SEG2". Nem mais nem menos que o Presidente Matan Ruak. Mais em resultado do estado da estrada --- indescritível! Como é possível que a principal estrada de atravessamento do país de norte para sul esteja como está?!... --- do que de esforço meu, eu acabei por ser uma espécie de "SEG3", sempre coladinho aos três à minha frente.
Claro que para fazer bem ao meu ego dei logo a volta à situação dizendo que o PR de TL me escoltou (e ao meu "Jaquim") durante alguns quilómetros...
A "brincadeira" acabou nos arredores de Dili, onde a esposa do PR, Isabel Ferreira, acompanhada do marido, foi inaugurar um posto de saúde.



Deixei a minha "escolta" e segui viagem a caminho do destino, aos solavancos. Ou arranjam a estrada ou não me apanham lá outra vez! Olhem que eu cumpro a ameaça!... Rsss

Conhecendo de ginjeira as manias do Tatamailau --- maniento e envergonhado, tem o mau hábito de a meio da manhã se esconder atrás das nuvens... ---, fui o mais depressa que os 4.579.081.244.324 buracos da estrada me deixaram para chegar a horas de o apanhar ainda descoberto. E consegui.

 
 Mas pouco depois começaram as nuvens a rondar e num determinado momento até parecia que o Tatamailau tinha "virado" vulcão e deitava fumo... Momento único.


Esta última foto foi já obtida no local de destino, Seloi Kraik. Como de costume comecei por fotografar o vale tendo como ponto de referência, como de há muitos anos a esta parte, uma determinada árvore, uma das "minhas" árvores em Timor Leste.
Lá estava o que buscava: o "imenso" vale, a "minha" árvore, o arrozal verde, viçoso, e, ao fundo, reinando sobre tudo e todos, o Tatamailau com as nuvens a pairar por perto e a ameaçarem cobri-lo. E até os estafermos dos cabos de electricidade lá estavam para "sujarem" o "boneco"...


Lembrei-me então de ir visitar o meu amigo José Domingos Pica, o chefe de suco local, a quem eu tinha dado boleia há mais de um ano (a história do aparecimeneto deste apelido bem alentejano nos confins do "império" está algures lá para trás neste blogue...).
O chefe estava em casa e recebeu-me com a afabilidade do costume.
Conversa para aqui, conversa para acoli, ele disse-me que para ao regresso tinha 3 alternativas: ou, como costumo fazer, voltava simplesmente para trás pelo mesmo caminho, ou seguia em frente e contornava todo o lago até voltar ao seu início retomando depois o caminho habitual de regresso ou subia uma estrada de terra, íngreme, que se via da casa dele e que me levaria directamente a Aileu e ao melhor frango de caril do hemisfério sul, o da D. Silvina.
Optei por esta última hipótese e lá fui...
No que eu me fui meter... A "estrada" (é alcunha, claro!...) de terra batida era (foi...) transitável com a costumeira bonomia do "Jaquim" mas em alguns trechos obrigou-me a parar, mostrá-la ao jeep e dar-lhe uma pancadinha para o animar a ir em frente...


Mas valeu a pena porque em alguns momentos a paisagem é espectacular e vale bem o sacrifício dos "rinseses".




Lá fui andando estrada fora até chegar aos arredores de Aileu. Aí dei com um bairro de casas pré-fabricadas que vim depois a saber serem construidas ao abrigo de um programa de construção de habitações no quadro da prossecução dos chamados "Objectivos do Milénio".
Note-se que não vi vivalma e o bairro parece feito completamente ao arrepio do que é a tradição de ordenamento do espaço das populações. Pergunto-me se o seu destino não será, numa primeira fase, ficar abandonado, e numa segunda fase ir sendo desmontado aos poucos à medida que alguém precise de uma chapas lá para casa... Fez-me lembrar os idos dos anos 70 e 80 em Moçambique, em que, pressionadas a viver em Aldeias Comunais, as populações "responderam com os pés", ficando lá 1 ou 2 dias por semana e o resto do tempo nas suas habitações tradicionais... A ver vamos...


Entretanto cruzámo-nos com algumas pessoas que regressavam do mercado de Aileu e tinham à sua frente uma (quase de certeza) longa caminhada à sua frente.

Finalmente chegámos a uma outra paragem intermédia: o restaurante da D. Silvina, a "sede" do frango de caril... Bem à vista está uma foto dela posando com um cliente cuja identidade desconheço... ;)

 
Desde a última vez, havia uma novidade: a usual bandeira do Sporting estava enrolada para cima de uma divisória, meio escondida. Deve ter sido obra do benfiquista que colocou a bandeira abaixo em local bem visível.


Terminado o repasto, eram horas de regressar a Dili não sem antes dar uma saltada o monumento aos "massacrados de Aileu" na época da invasão japonesa. Infelizmente continua com o mesmo estado de abandono que já conhecíamos de anteriores visitas. Volte, Rui Fonseca!... :-)


O regresso a Dili não teve história... A não ser o de ter de fazer novamente os já conhecidos 4.579.081.244.324 buracos da estrada!

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