Esta crónica será, provavelmente, a última sobre o tema. A ver vamos...
Começo por voltar à viagem de Dili até à fronteira de Batugadé. A estrada está, finalmente, a ser objecto de profunda melhoria e alguns, poucos (5 ou 6?) quilómetros a seguir à chamada Ponta Carimbala, entre Maubara e a Loes, demo-nos com este espectáculo:
A fim de consolidar a encosta e evitar deslisamentos de terras para a estrada, uma escavadora derrubava parte dos terrenos acima do nível da estrada, dando a sensação de que poderia cair a qualquer momento. Claro que o material vinha todo parar à estrada e por ali ficámos quase três quartos de hora até que ela interrompesse o seu trabalho e entrasse am acção uma pá que foi empurrando terra e rochas até abrir um caminho por onde, finalmente, puderam passar os carros e motociclos que entretanto se foram juntando na zona.
Antes, porém, já me tinham feito "fernicoques na cabeça" os muros que estão a ser construidos ao longo da estrada para a proteger de derrocadas e enxurradas.
Aliás, a própria derriba de materiais das encostas nos parece "estranha" pois, aparentemente, deveriam ser feitos socalcos a serem fixados com árvores ou arbustos. Cadê os socalcos?!...
E sem mais demora lá seguimos caminho até às margens da ribeira Loes, onde almoçámos, e depois para a fronteira de Batugadé.Aqui houve "fita"... Tendo recebido o meu passaporte apenas na véspera (estava nos serviços de emigração para obter a autorização especial de residência prolongada), não tiva outra hipótese que não fosse seguir a mesma estratégia da anterior viagem a Oécussi: fazer-me de anjinho e aparecer sem o visto que deveria ser obtido na embaixada indonésia em Dili. Como se nas fronteiras terrestres existisse o "visa on arrival" existente nos aeroportos. Mas não há... Mas os guardas fronteiriços ganham pouco e as malandras das "verdinhas" são atraentes...
"Instruido" por colegas timorenses, preparei o dinheiro do visto e coloquei-o, 3 notas enroladinhas, em cima da mesa para pagar. Só que levei um sermão do funcionário que repetia que não podia ser, que tinha de informar Jakarta, etc e tal... Já me estava a ver deportado como espião... Percebi que ele estava a querer aumentar a "parada" e que, para me deixar passar "por debaixo da mesa", queria mais dinheiro do que o que estava à vista: uma nota de 10 USD (dentro do rolo estava mais uma igual e outra de 5 dólares mas ele não se terá apercebido disso). À medida que ele ia falando comigo e com a minha colega timorense que servia de intérprete fui desenrolando as notas e coloquei-as, bem esticadinhas e saparadas, presas debaixo de um livro que ele tinha sobre a mesa.
Quando se apercebeu que estavam ali 25 dólares e não apenas os 10 que ele julgara inicialmente, o "discurso" foi mudando e acabou dizendo ao mesmo tempo que punha as notas, sem recibo e sem o selo do visto (topam?!...), na gaveta: "Ok! Esta facilidade do visto no local não existe aqui mas nós facilitamos para os timorenses em transito para Oécussi mas não para cidadãos de outros países. Deixo-o passar mas olhe que é a última vez!... ". Tá bem, abelha! Assim que disse isto safei-me dali para fora e fui para perto do carro que me levaria a Oécussi. Safo!... Mas não quis repetir a cena e decidi logo que no regresso iria tentar voltar de navio, no "Nakroma", e não por terra. Se bem o pensei melhor o fiz: na sexta feira seguinte regressei de navio a Dili, numa viagem já relatada.
Na chegada a Pante Makasar passa-se por uma zona escavada na rocha onde "enfiaram" uma estrada. A visão que se tem no local é interessante, parecendo que o carro não cabe naquele verdadeiro "buraco de agulha" completamente escarpado, de um lado, e com "ligação directa" para o mar, de outro.
Pante Makasar, finalmente. Depois de uma viagem de 9h, com direito a cerca de 3h parado nas fronteiras! Apre!...
No dia seguinte tivemos uma reunião na administração do distrito de Oécussi e depois fomos visitar uma das obras que os deputados se propunham visitar para ver como estava a funcionar: uma obra de irrigação dos campos de arroz na região aproveitando a água da ribeira de Tono.
O ponto de observação (9º 16' 15"S e 124º 21' 10"E) foi junto do mercado de Tono, ali existente, e dali via-se uma parte da extensão e largura da ribeira.
Foi ali que tive uma visão do "velho do Restelo"...
... a que depois se foram juntando outros "katuas" (mais velhos) em amena cavaqueira.
Meia volta, volver!
Ao fim da tarde fui ver a partida do "Nakroma" e o pôr do sol. Eis senão quando aparece a professora portuguesa que tinha sido "responsável", duas semanas antes, pela chegada, pelas minhas mãos, das primeiras "bolas de Berlim" a Oécussi.
Mas já voltaremos a esse momento histórico... Rsss
No dia seguinte partimos para a ponta mais ocidental de Oécussi! Uma viagem cansativa, por estradas num estado lastimável, mas que foi interessante sob vários pontos de vista.
Percursos efectuados em Oécussi assinalados a vermelho
Um deles foi o termos vislumbrado um rochedo/ilhéu (Fatu Sinai) que é reivindicado por Timor Leste e pela Indonésia mas em que a posição de Timor Leste está enfraquecida por a sua existência não estar referida na Constituição do país.
Outro motivo de interesse foi ter notado a proliferação de casas "lulik" de forma cónica. Junto e normalmente atrás de cada casa de habitação há uma "casa sagrada" da família.
Motivo de interesse ainda mas aqui pela negativa foi a constatação do péssimo estado das estradas, que torna qualquer viagem um sacrifício quase "doloroso" e uma aventura de várias horas, com uma velocidade média que não deve ultrapassar os 15 kms/hora. Para menos e não para mais... :(
Interessante foi ainda deliciarmo-nos com o relevo da região, agreste mas coberto de verde. Lindo, principalmente na região de Pante Makasar.
Para um português é especialmente marcante visitar também o monumento em Lifau, a cerca de 5kms do centro de Pante Makasar, que assinala o desembarque de portugueses na região em 1515. Crê-se que antes disso (1511, a mando de Afonso de Albuquerque, já então senhor de Malaca) já tinham estado na região que hoje é a capital de Timor Ocidental, indonésio, Kupang.
Claro que não deixei de recolher uma porção de areia do local... Para a minha colecção!
Especialmente relevante foi verificar que ao monumento foi acrescentada uma "placa" assinalando a chegada, em XXII/IV/MMXIII, das primeiras... "bolas de Berlim". Rsssss
E a visita a Oécussi estava quase a terminar.
No dia seguinte, uma sexta feira 14JUN2013, embarquei de regresso a Dili no "Nakroma".
A despedida foi "em cheio", com um pôr do sol espectacular! Até a "ilha da mulher deitada" parecia mais bonita!
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