segunda-feira, 17 de junho de 2013

Oecussi!

Tenho estado um bocado perguiçoso em escrever e tenho algumas crónicas em atraso. Por isso decidi escrever do fim para o princípio... Isto é: da última "aventura" para as anteriores, às arrecuas...

E a última "aventura" foi... em Oecussi! Mas outra anterior também se passou lá... Vou tentar fazer um "mix" das duas. Assim a modos que como um "coquitéil"!... Valeu?!...

A base foi a última viagem, "acabada de acabar"... ontem, 15 de Junho, às 5 da manhã. Depois de uma viagem de navio, o "Berlin Nakroma".


Diga-se que este navio faz o transporte de tudo um pouco: pessoas, vacas, cabritos, galos das lutas de galos e até lenha! As condições de transporte da maioria dos passageiros são precárias, com muita gente dormindo ao relento ou pelos corredores (a viagem dura umas penosas 12 horas porque o navio é um ronceiro do caneco!... Sorry!...).
Quem não está para isso e tem a po$$ibilidade de o fazer, faz um negócio manhoso com os tripulantes e viaja no que seriam as suas cabines. Com ar condicionado e em beliches, até se faz uma viagem aceitável. Foi o que me aconteceu ontem. Não preguei olho e aproveitei para preparar as minhas fotos e conversar um pouco na internet. Quando tinha sinal... E ver o ambiente e o luar...

Para terminar este capítulo "Nakroma" diga-se que na anterior estadia, porque a maré estava muito baixa, assisti a um espectáculo que raia o caricato: pessoas a desembarcarem em Oecussi com a prancha de desembarque bem afastada do pontão pois uma maior aproximação signiticaria o encalhar do navio. Resultado: ou se aventuravam por dentro de água com os seus pertences à cabeça ou esperavam que um pequeno beiro as transportasse à praia...

 

Para evitar situações semelhantes é que, numa oferta do Japão, se está a construir um terminal novo que fará destas imagens apenas uma página da "história"...


Novo porto de Pante Makasar vendo-se
(parte metálica ao fundo) a rampa a que
passará a acostar o "Nakroma"

Espectáculo dentro do espectáculo da estada do navio no actual local são as cenas de crianças a saltarem dele (quando a maré está alta) ou da ponte-cais (quando a maré está mais baixa) para a água. Quando vim a maré estava alta e eles atiravam-se "acrobaticamente" do navio, de uma altura de uns 6 ou 7 metros. Infelizmente não tinha a máquina fotográfica comigo... Quando vi o "espectáculo" eles atiravam-se da ponte-cais.



Adiante.

A viagem Dili-Oecussi foi feita de jeep. Uma viagem "dura", que com paragem para almoço na "zona de serviço" junto à ribeira de Loes e nas quatro fronteiras (2 em Batugadé e duas à entrada de Oecussi) que temos de atravessar, leva cerca de 7 horas. Uma "chateza" que o governo timorense ainda não conseguiu, apesar de alguns esforços tímidos, reduzir por os indonésios não sentirem nenhuma necessidade de facilitar a vida a quem passa em transito para ou de Oecussi...

A "área de serviço" perto da ribeira de Loes

A linha vermelha que assinala a fronteira entre
o Timor indonésio (à esquerda) e Timor Leste
em Batugadé/Mota Ain 

A primeira surpresa após se cruzar a fronteira no sentido nascente-poente é o estado da estrada que a liga a Oécussi. Como que a querer dar uma bofetada de luva branca aos timorenses por terem ousado tornar-se independentes, a estrada foi arranjada e está toda arranjadinha, com sinais horizontais de demarcação das faixas de rodagem e tudo. Um (quase) luxo comparado com o estado da estrada em muitos quilómetros do percurso quer na parte ocidental de Timor Leste quer em Oécussi, onde logo à entrada somos recebidos por uma estrada "do tempo da outra senhora", empedrada.



O percurso na Indonésia tem poucos pontos de interesse mas vale a pena referir o porto de Atapupo e o relevo da região, pré-anunciando o que se vai ver no enclave.

Porto de Atapupo e restos de um barco de madeira


O relevo no Timor Ocidental
 
E finalmente chegamos a Oécussi, onde se entra pela fronteira de Wini (indonésia)/Sakato (Oécussi).

Como dissemos, o estado das estradas em Oécussi entre Sakato e a capital, Pante Makasar, é deplorável e exige uma solução urgente, pelo menos no que respeita ao percurso entre a fronteira e Pante.
A cidade apresenta a conhecida matriz urbana em quadrícula e é impressionante ver a visão dos "arquitectos" da cidade ao definirem avenidas e ruas em geral largas e que irão aguentar, sem grande dificuldade, o aumento de tráfego que surgirá se, como se espera, vier a ser implementado o "Master Plan" (porquê usar o nome em inglês para uma coisa que todos chamam, em português, "Plano Director"?) para o desenvolvimento do distrito.



Foi, aliás, para assistir à apresentação pública do mesmo pelo responsável pela sua coordenação, o ex-Primeiro Ministro Mari Alkatiri, que me desloquei a Oécussi na primeira vez (sem contar com uma ida em Dezembro de 2001 que me deu como brinde... dengue!).


Uma visão do futuro: Pante Makasar pós-Plano Director

Deixemos o Plano em si e registemos algum do ambiente que rodeou a sua apresentação bem como algumas contruções do tempo da administração portuguesa que merecem ser restauradas já que fazem parte do património histórico e arquitectónico da cidade e do país.

À cerimónia assistiu muita população, nomeadamente autoridades locais e, como não podia deixar de ser, houve também algumas exibições do folclore local.



Edifício, em ruínas, da antiga Administração portuguesa
 
Edifício principal do colégio das Madres Dominicanas.
As obras do seu restauro devem começar em Setembro próximo

Mas para além destes momentos e edifícios, ficaram-me na memória a geografia da região e o nascer e pôr do sol e Pante Makasar.



Hoje ficamos por aqui...
Mas há mais no próximo episódio... Me aguardem... LOL

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