sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Voltando à estrada...

Grande interregno nestas minhas "estórias". Coisas da vida... ;)

Desta vez andei pelo município de Ermera em trabalho,  acompanhando um grupo de deputados do Parlamento Nacional em contato com várias atividades económicas locais.
Comecemos pelo princípio... Logo à saída de Dili para oeste (Tibar) dei com esta "regataria ambulante"...


Já mais perto de Railaco e Gleno recordei esta formação rochosa colorida, banhada pelo sol  da manhã:



Cerca das 7h30m da manhã é a hora da ida para a escola, quase sempre em grupos e... pelo errado lado da estrada! Mudem para o lado contrário, seus "nabos"!... Assim não vêm o transito que vem de costas!... Teimosos! Há anos que vos digo o mesmo!... :P


Ermera é terra de café, o principal município produtor do que alguns consideram ser o melhor café do mundo. A colheita está feita há muito, normalmente a meio do ano civil, e por isso os caféeiros (a maior parte da variedade 'robusta') estão a "dormir", despertando para a floração e a produção só lá para Março/Abril.


Mas Ermera é também terra da cadeia montanhosa do Ramelau e seu pico mais alto, de quase 3000 metros (pergunta-rasteira do meu exame oral da 4ª classe, em 1958: "qual o ponto mais alto de Portugal?" "é...), o Tatamailau!


Começámos o trabalho visitando uma fábrica de descasque de café no suco Estado da principal empresa de processamento e exportação de café do país, a Cooperativa de Café Timor (CCT). Como estamos em época de "defeso", a fábrica está parada e toda limpinha...





... incluindo os tanques de lavagem dos grãos de café antes de irem para a secagem ao sol.


Ali perto, num terreno privado constituído em projeto piloto, a cooperativa, em colaboração com o proprietário e com garantia de compra da produção durante pelo menos três anos, procedeu ao desbaste radical das plantas velhas e cansadas para que, ao crescerem de novo, agora revigoradas, aumentem a sua produção. É algo que devia ser feito em grande escala por toda a zona caféeira do país pois a maior parte das plantas estão também velhas e cansadas... Há é que cuidar dos rendimentos dos produtores durante os anos em que as árvores não vão produzir ou produzir pouco --- 3-5  anos. Julgo saber que a União Europeia pode ajudar... Se lhe pedirem com jeitinho... :) . FUNDAMENTAL para o país!



Dali seguimos para outra fábrica e plantação, esta de outra empresa, mais pequena.



E foi ali mesmo que dei com esta "karau vaca" de  Bali, prima de uma outra que fotografei há anos em Dili e que tinha escrito nas partes brancas da "bunda" as letras A, à esquerda, e S, à direita. Foi quando tive a certeza de que os timorenses eram meus fãs pois decidiram dar o meu nome à vaca... António Serra... ;)


E começou o caminho de regresso a Gleno. A estrada está a ser recuperada depois de anos de completo abandono e neste momento,  quando ainda não começou a época das chuvas, está "passável" sem problemas. Apenas há que ter cuidado com as obras ao longo de vários kms.



Há muitos anos que não ía para aqueles lados mas lembrava-me mais ou menos das caraterísticas do local, em Araulo, onde tirei a foto que depois foi utilizada para ilustrar a moeda de 50 centavos de uso corrente em Timor Leste.



Indo com atenção à paisagem, consegui identificar o local aproximado onde, há quinze anos, tinha tirado a foto do café. Foi num destes caféeiros da berma da estrada.


Chegados a  Gleno, fomos almoçar num dos melhores restaurantes da cidade capital do município de Ermera, Gleno.
Um almoço de comida fresquíssima! Nada de congelados!...


A pausa para o almoço terminou com uma espreitadela ao terreiro de luta de galos mesmo atrás do restaurante. Estava tudo preparado...



Por  hoje já basta de emoções!... ;)


sexta-feira, 16 de junho de 2017

Regressando às lagoas de Venilale... mais uma vez

A estrada de acesso às lagoas perto de Venilale é uma das zonas minhas preferidas em Timor Leste. Não pela estrada em si, que é "levada do diabo!", mas pelas paisagens da região na época dos arrozais. Os rins queixam-se mas os olhos agradecem...
Por isso e por saber que a estrada contornava a montanha e ia dar a Venilale, resolvi, desta vez, fazer o circuito completo: entrar na estrada antes das "grutas japonesas" e ir ter à igreja de Venilale e à Escola do Reino local.

Dada a beleza da paisagem opto por "falar" pouco, preferindo as imagens às palavras para "descrever" o percurso.

Ainda na estrada principal Baucau-Venilale começamos por ver (à esquerda) um pequeno aglomerado de casas "lulik" (sagradas) com o seu formato típico.


Mais adiante começam a aparecer os primeiros arrozais, perto da casa dos pais da Nafreana, a minha "filha" timorense, em Berkoli. Foi ali que a encontrei pela primeira vez há cerca de 12 anos quando parei para fotografar os espetaculares arrozais, "verdissíssimos" nesta altura do ano!



Até que entramos na estrada das lagoas. Esta está a ser beneficiada mas neste momento está ainda muito mázinha, tadinha!... :)


As paisagens, no entanto, são uma maravilha! Certo?!...








E assim, sempre a descer e aos solavancos, se chega a um ponto de referência: uma escola e, mais à frente, uma ribeira. Esta tinha sido o limite das minhas viagens anteriores por não me ter apercebido de que havia uma passagem cimentada dentro da ribeira para permitir a passagem das "karetas"...



Atravessei a ribeira "a nado" e deixei o "Jaquim" refrescar os "calcantes"!...


Depois foi seguir sempre em frente mas a principal beleza da estrada termina aqui, com o fim dos arrozais. Daqui para diante a paisagem tem poucos pontos de interesse e a estrada piora um pouco... :(



Até que se chega a um "tanque" de água alimentado por um pequeno riacho. Água limpíssima que se adivinha "fresca"... Um amigo meu aproveitou para se refrescar e confirma que é fria mas sabe bem para limpar a poeira da estrada... ;)
É não muitolonge daqui que se pode aceder à "fonte (ou ponte?) natureza", cujas águas turmalinas atraem turistas mas cujo acesso é difícil (mais de meia hora a pé por caminho não aconselhável a um "katuas" como eu...)


A partir daqui a reportagem fotográfica quase acabou pois começou a chover e entrámos autenticamente "nas nuvens", com um nevoeiro que limitou a visibilidade e me pregou um ou outro susto porque tive quase de andar a "cheirar" onde estava a estrada... Só já à entrada de Venilale voltámos a "enxergar" qualquer coisa...


E assim se passarem cerca de quatro horas aos saltos! Ai mas a vingança na Pousada de Baucau foi terrível!... ;)


terça-feira, 13 de junho de 2017

Uma "estória" 4 anos adiada...

Estavamos em Maio de 2013 e, fugindo ao ambiente um pouco concentracionário de Dili, "fugi" pela "n-ésima" vez para a região minha preferida: a de Baucau "et ses environs". O relato está aqui: http://livrodascontradisoens.blogspot.com/2013/05/dili-baucau-laga-baucau.html

Permito-me citar aqui o que então escrevi sobre o que então aconteceu:

"Desci o planalto de Laga e atravessei a ponte que está à saída (no sentido Laga-Baucau) da vila. E foi então que dei com um pequeno grupo de raparigas sentadas num murete à borda da estrada e que se meteram comigo: "malae!...". Parei e tirei algumas fotos. E foi só quando vi estas que reparei bem nesta (verdadeiramente) pequena maravilha:


São sorrisos destes que me fazem andar por aqui pela estrada fora... Tinha acabado de "ganhar o dia"!... "


Depois deste dia voltei ao local muitas vezes. De cada vez pensava sempre "o que será feito da miúda que fotografei aqui?!...". Mas não passava disso: não tomei a iniciativa de procurar encontrá-la até porque não tinha comigo a foto que então tinha tirado.

Hoje foi diferente: graças às novas tecnologias "ela" estava ao alcance dos meus dedos. Mas só ao chegar ao local me lembrei dela e de, desta vez, tentar localizá-la.
Perguntado o dono do quiosque perto do local onde tirara a foto se a reconhecia --- 4 anos depois... ---, levei com um abanar da cabeça.
Porém, a sorte estava do meu lado e, atraído pela paragem do malae e do "Jaquim", apareceu primeiro um vizinho e depois outro e mais outro. E foi um deles que fez "luz" sobre o assunto: "É a filha do 'Chiquito'!...". "Onde está?!..." perguntei eu já a vislumbrar o reencontro. "Em casa?!...". "Não! Deve estar na escola!..."

Lembrava-me que logo à entrada de Laga havia uma escola e fui até lá. Estava na hora da saída --- apesar de serem apenas 10h45m e não 13h......
Pequenos e médios grupos de alunos e alunas vinham em direção a mim e fui perguntando se conheciam a moça da foto. Finalmente uma disse: "Sim! É a Tânia!...". "Onde está? Ainda na escola?!... Já saíu?!...". A resposta surgiu pronta: "está aqui no mercado!...", distante menos de 50 metros.
Pedi para a irem chamar mas ninguém, aparentemente, se dispôs a isso. Por isso virei o "Jaquim" e fui eu até ao mercado.
Parei o carro e embrenhei-me nele. Pouco depois apareceu um pequeno grupo de moçoilas quase "arrastando" uma delas. Era ela! Tinha-a "(re)descoberto" 4 anos depois!...

O sorriso franco tinha dado lugar a uma moça assustadiça perante um malae que desconhecia.


Foi só com a ajuda de uma "mana" mais velha a quem expliquei o que tinha acontecido que ela acalmou e desistiu de fugir e de se esconder, deixando-se fotografar.



Depois de dois dedos de conversa (?) e de umas (poucas...) fotos, deixei-a em paz. Só depois me lembrei que nem tinha perguntado o apelido nem a idade --- terá agora uns 11-12 anos. Foi de regresso ao quioque inicial que me disseram que era uma "Marçal"...

Que futuro espera esta moça --- e tantas outras da sua idade?!... Conseguirá estudar mais e construir um futuro para si e a sua família?!... Futurologia...


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Por caminhos nunca dantes navegados.....

Esta volta, iniciada, mais uma vez, em Baucau e na sua Pousada, levou-me a "meter o nariz" numa estrada que pouco depois da saída de Baucau para sul, em direção a Venilale, entronca nesta mesma estrada. 
Já várias vezes (muiiiitaaaas...) tinha passado por ali e sempre me perguntara onde levaria... Em vez de perguntar, desta vez meti-me por ela... Aqui está o resultado.
A estrada leva às margens da "mota" (ribeira) do Seiçal e uma vez ali chegado inverti a marcha e voltei pelo mesmo caminho. Mas a estrada, vi depois no Google Earth, continua e vai reencontrar a estrada Baucau-Venilale um pouco mais adiante.

Aqui ficam algumas das imagens recolhidas.

Percurso da viagem: da estrada principal às margens da ribeira de Seiçal

Casa típica da região: a pedra sempre presente

Matebian Feto/Mulher (à esquerda) e Mane/Homem (à direita)

Casa típica

Um sorriso timorense carregando água...

Casa típica: a pedra sempre presente


Ribeira de Seiçal


Casa sagrada


Ponto de inversão da marcha

Quantas histórias contam estas rugas?!...


Ribeira de Seiçal no ponto mais baixo da viagem (cerca de 40m de altitude)


Projeto de Segurança Alimentar, com o apoio da Cooperação Espanhola e da FAO

O céu já está a arder?!...

Sempre um sorriso que vem da alma...


As mulheres, as grandes obreiras deste país...