sábado, 29 de junho de 2013

Back to the passado: Manatuto e Lacló!

Pois é... Num período relativamente curto de tempo tive de, por motivos profissionais, fazer várias viagens no país e a minha velocidade de as "despachar" aqui não foi a mesma da realização das mesmas... E alguma coia foi ficando para trás. É o caso de uma viagem a Manatuto e a Lacló que fiz há quase dois meses.

Vamos lá tentar pôr a escrita em dia...


O caminho de Dili até Manatuto já não tem segredos para o "Jaquim" e qualquer dia passo simplesmente a dizer-lhe "Manatuto" e ele vai sózinho, relinchando aqui e acoli, nomeadamente no "subão". Aliás, aquilo não é "subão" nem é nada!... Uns "míseros" duzentos e tal metros de altitude e dizem logo que é um "subão"... Pfff!...
Mas o lado do mar dá sempre umas fotos espectaculares: como esta!


O caminho agora até é mais fácil porque andam, finalmente, a remendar a estrada (o que faz com a que viagem seja mais rápida e cómoda, claro).


A única verdadeira novidade do caminho, para além do facto de agora estar melhor, é o de ao lado da base naval de Hera e para abastecer a central eléctrica ali existente ter sido instalado um pequeno terminal de descarga de fuel directamente para a central a partir de navios que atracam a uma bóia apropriada para esta transfega de combustível.


Chegado a Manatuto fui para uma reunião de trabalho na Administração Local. Sem história de maior, não fora o ter tomado conhecimento de que talvez metade da área do distrito susceptível de ser cultivada com arroz... não o está a ser!
Por várias razões algumas das quais são o facto de o arroz local ser vítima da competição no mercado do arroz importado (algo inexplicavelmente o primeiro foi desde "sempre" mais caro que o segundo...); o facto de as transferências do Estado para os camponeses com várias justificações (pensões para os mais velhos, para os veteranos --- montes deles... Parece que toda a gente neste país andou à lambada com os indonésios...) retirarem algum incentivo para obterem dinheiro "vivo" através do trabalho e venda no mercado da sua produção, o simples desejo de "descansarem" depois de anos e anos "empurrados" pelos poderes coloniais português e indonésio para produzirem, etc...




Acabada a reunião fui dar uma volta e depois de me deparar com mais uma árvore dentro de água, assisti a um espectacular pôr do sol, dos melhores que tenho visto!




No dia seguinte rumámos a Lacló não sem antes matabicharmos (os deputados e eu). Curioso foi ter tido conhecimento que os deputados ficaram num hotel "brand new"... que não tem água! Mas deixaram-no abrir as portas e começar a operar! Ai Maromak!Rssss!... Eu tomei banho de pucarinho mas tomei...


Depois de mais uma reunião em Lacló, estrada novamente. Primeira paragem: aqui... (onde está a "mãozinha"...; ver as coordenadas geográficas respectivas)


... para ver isto (foto abaixo).


E depois de visitar uma obra de regadio utilizando a água da ribeira de Lacló (a da imagem acima), iniciei o regresso a Dili, parando aqui e acoli para "bater" uma "chapa".

Uma delas foi a deste "tio", que ficou todo satisfeito por posar para a fotografia do "malae"... Claro que lha mostrei...


Logo a seguir foi a vez desta igreja renovada (o Governo está a renovar muitas igrejas e a construir muitas outras de raíz, numa "santa aliança" entre a "Cruz" e a "Espada").


 
Note-se o relativo equilírio e bom gosto na escolha das cores, coisa que muitas vezes não acontece em Timor Leste, onde se usa e abusa de cores "espampanantes": uns verdes "lagarto" (como o do meu quarto em Manatuto...), uns rosa-chocking, vermelhos "Benfica" e muitas misturas de verde e amarelo...

Mais à frente foi a cena dos búfalos a refrescarem-se e protegerem-se com lama das picadas da bicharada...


... e uma visão das "traseiras" do "subão".
 
 
Na zona há muitas casas com uma "arquitectura" algo diferente da de outras regiões e nalgumas as antenas parabólicas dão um toque de modernidade a uma cena em tudo o resto "tradicional".
 
 

 
A agricultura na região parece ser relativamente pobre como pobre parece ser toda ecologia local. Aqui e ali, ao longo da ribeira, camponeses plantavam arroz.



E assim, andando (na verdade "rodando"...), cheguei à estrada principal que me trouxe de volta a Dili. "Home sweet home"!...

sábado, 22 de junho de 2013

Ainda Oécussi!... (Fim? A ver vamos...)

As duas viagens que fiz a Oécussi num curto espação de tempo deram pano para mangas...
Esta crónica será, provavelmente, a última sobre o tema. A ver vamos...

Começo por voltar à viagem de Dili até à fronteira de Batugadé. A estrada está, finalmente, a ser objecto de profunda melhoria e alguns, poucos (5 ou 6?) quilómetros a seguir à chamada Ponta Carimbala, entre Maubara e a Loes, demo-nos com este espectáculo:


A fim de consolidar a encosta e evitar deslisamentos de terras para a estrada, uma escavadora derrubava parte dos terrenos acima do nível da estrada, dando a sensação de que poderia cair a qualquer momento. Claro que o material vinha todo parar à estrada e por ali ficámos quase três quartos de hora até que ela interrompesse o seu trabalho e entrasse am acção uma pá que foi empurrando terra e rochas até abrir um caminho por onde, finalmente, puderam passar os carros e motociclos que entretanto se foram juntando na zona.


 
 
Antes, porém, já me tinham feito "fernicoques na cabeça" os muros que estão a ser construidos ao longo da estrada para a proteger de derrocadas e enxurradas.
 
 
É que, ou muito me engano ou os muros estão contruidos "ao contrário" !!!! De facto, sendo o "corte" do muro (bem) um trapézio rectangular, a face mais inclinada deveria estar do lado da estrada e não do lado da montanha, como a foto acima bem ilustra... Assim como estão o mais provável é que quando vier uma enxurrada ou uma derrocada maior o muro tombe para a estrada em vez de desempenhar a sua missão (assim tornada impossível...) de impedir os detritos de cairem na estrada... "Engenhêres"!... Salvo erro indonésios, a quem terá sido dada a subempreitada... E não há quem impeça de continuarem a fazer burrice?
Aliás, a própria derriba de materiais das encostas nos parece "estranha" pois, aparentemente, deveriam ser feitos socalcos a serem fixados com árvores ou arbustos. Cadê os socalcos?!...


E sem mais demora lá seguimos caminho até às margens da ribeira Loes, onde almoçámos, e depois para a fronteira de Batugadé.

Aqui houve "fita"... Tendo recebido o meu passaporte apenas na véspera (estava nos serviços de emigração para obter a autorização especial de residência prolongada), não tiva outra hipótese que não fosse seguir a mesma estratégia da anterior viagem a Oécussi: fazer-me de anjinho e aparecer sem o visto que deveria ser obtido na embaixada indonésia em Dili. Como se nas fronteiras terrestres existisse o "visa on arrival" existente nos aeroportos. Mas não há... Mas os guardas fronteiriços ganham pouco e as malandras das "verdinhas" são atraentes...

"Instruido" por colegas timorenses, preparei o dinheiro do visto e coloquei-o, 3 notas enroladinhas, em cima da mesa para pagar. Só que levei um sermão do funcionário que repetia que não podia ser, que tinha de informar Jakarta, etc e tal... Já me estava a ver deportado como espião... Percebi que ele estava a querer aumentar a "parada" e que, para me deixar passar "por debaixo da mesa", queria mais dinheiro do que o que estava à vista: uma nota de 10 USD (dentro do rolo estava mais uma igual e outra de 5 dólares mas ele não se terá apercebido disso). À medida que ele ia falando comigo e com a minha colega timorense que servia de intérprete fui desenrolando as notas e coloquei-as, bem esticadinhas e saparadas, presas debaixo de um livro que ele tinha sobre a mesa.
Quando se apercebeu que estavam ali 25 dólares e não apenas os 10 que ele julgara inicialmente, o "discurso" foi mudando e acabou dizendo ao mesmo tempo que punha as notas, sem recibo e sem o selo do visto (topam?!...), na gaveta: "Ok! Esta facilidade do visto no local não existe aqui mas nós facilitamos para os timorenses em transito para Oécussi mas não para cidadãos de outros países. Deixo-o passar mas olhe que é a última vez!... ". Tá bem, abelha! Assim que disse isto safei-me dali para fora e fui para perto do carro que me levaria a Oécussi. Safo!... Mas não quis repetir a cena e decidi logo que no regresso iria tentar voltar de navio, no "Nakroma", e não por terra. Se bem o pensei melhor o fiz: na sexta feira seguinte regressei de navio a Dili, numa viagem já relatada.

Na chegada a Pante Makasar passa-se por uma zona escavada na rocha onde "enfiaram" uma estrada. A visão que se tem no local é interessante, parecendo que o carro não cabe naquele verdadeiro "buraco de agulha" completamente escarpado, de um lado, e com "ligação directa" para o mar, de outro.


Pante Makasar, finalmente. Depois de uma viagem de 9h, com direito a cerca de 3h parado nas fronteiras! Apre!...

No dia seguinte tivemos uma reunião na administração do distrito de Oécussi e depois fomos visitar uma das obras que os deputados se propunham visitar para ver como estava a funcionar: uma obra de irrigação dos campos de arroz na região aproveitando a água da ribeira de Tono.
O ponto de observação (9º 16' 15"S e 124º 21' 10"E) foi junto do mercado de Tono, ali existente, e dali via-se uma parte da extensão e largura da ribeira.



Foi ali que tive uma visão do "velho do Restelo"...

... a que depois se foram juntando outros "katuas" (mais velhos) em amena cavaqueira.

Meia volta, volver!

Ao fim da tarde fui ver a partida do "Nakroma" e o pôr do sol. Eis senão quando aparece a professora portuguesa que tinha sido "responsável", duas semanas antes, pela chegada, pelas minhas mãos, das primeiras "bolas de Berlim" a Oécussi.


Mas já voltaremos a esse momento histórico... Rsss

No dia seguinte partimos para a ponta mais ocidental de Oécussi! Uma viagem cansativa, por estradas num estado lastimável, mas que foi interessante sob vários pontos de vista.

Percursos efectuados em Oécussi assinalados a vermelho

Um deles foi o termos vislumbrado um rochedo/ilhéu (Fatu Sinai) que é reivindicado por Timor Leste e pela Indonésia mas em que a posição de Timor Leste está enfraquecida por a sua existência não estar referida na Constituição do país.


Outro motivo de interesse foi ter notado a proliferação de casas "lulik" de forma cónica. Junto e normalmente atrás de cada casa de habitação há uma "casa sagrada" da família.


Motivo de interesse ainda mas aqui pela negativa foi a constatação do péssimo estado das estradas, que torna qualquer viagem um sacrifício quase "doloroso" e uma aventura de várias horas, com uma velocidade média que não deve ultrapassar os 15 kms/hora. Para menos e não para mais... :(




Interessante foi ainda deliciarmo-nos com o relevo da região, agreste mas coberto de verde. Lindo, principalmente na região de Pante Makasar.



Para um português é especialmente marcante visitar também o monumento em Lifau, a cerca de 5kms do centro de Pante Makasar, que assinala o desembarque de portugueses na região em 1515. Crê-se que antes disso (1511, a mando de Afonso de Albuquerque, já então senhor de Malaca) já tinham estado na região que hoje é a capital de Timor Ocidental, indonésio, Kupang.
Claro que não deixei de recolher uma porção de areia do local... Para a minha colecção!

Especialmente relevante foi verificar que ao monumento foi acrescentada uma "placa" assinalando a chegada, em XXII/IV/MMXIII, das primeiras... "bolas de Berlim". Rsssss


E a visita a Oécussi estava quase a terminar.
No dia seguinte, uma sexta feira 14JUN2013, embarquei de regresso a Dili no "Nakroma".
A despedida foi "em cheio", com um pôr do sol espectacular! Até a "ilha da mulher deitada" parecia mais bonita!



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Uma "mãe" e 65 filhas...

Uma das coisas boas com que me deparei em Pante Makasar, a capital de Oecussi, foi com o lar das Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário.
Instaladas desde 1953 num edifício de traça portuguesa bem perto do mar (e da ponte-cais onde atraca o navio que faz a ligação a Dili), a comunidade actual é composta de apenas 5 "irmãs" sendo que uma delas, com 80 anos, chegou a Pante em 1955 (saíu "empurrada" pelos indonésios em 1975 e voltou após a saída destes).



A líder da comunidade é chilena e antes de de chegar a Oécussi esteve vários anos na Bolívia. E é uma mulher "do caraças"!.. (desculpem-me a cedência a uma linguagem mais "popular"...). Não coloco aqui nenhuma foto dela porque sempre se esquivou a ser fotografada e respeito isso.

Ela, a "Madre" Marcela,  é a "mãe" de 65 crianças que ali vivem em regime de internato. Nenhuma, a não ser uma pequena minoria, paga seja o que for para estar ali. As poucas que pagas é de filhas de funcionários timorenses que querem que as filhas tenham uma educação disciplinada e embora residam em Pante Makasar pediram para as filhas ficarem no lar mediante o pagamento de uma "mensalidade" para a alimentação.

Uma diversão ao cuidado da Madre Marcela: domesticar um morcego! Que por lá anda nos beirais e que, reconhecendo o chamamento da sua protectora, voa para ela quando o chama.





Vocês já tinham visto um morcego domesticado? Eu não!



A principal "raison d'être" do "lar" é abrigar moças que desceram das montanhas de Oécussi para estudarem na cidade. Cerca de 80% das crianças têm esse background.
Só que as razões que as levam a ir para o lar são diversificadas... Há a moçoila de 17 anos que fugiu de casa aos 14 porque os pais a queriam casar para ganharem o dinheiro e outros bens do "barlaque" ("alambamento" em Angola, "lobolo" em Moçambique...); há a criança de 7 anos abandonada pelos pais na sequência de uma separação; há a criança que fugiu de casa com 11 anos porque ia ser vendida pelo pai por um búfalo (tal era a fome na família...); há a menina de um pouco mais de 3 anos que ainda se "descuida" nas cuecas com frequência, sinal, quase certo, de um desequilíbrio emocional grave; etc, etc, etc

E apesar de todos estes sofrimentos sente-se que se está no meio de uma "família" feliz. Q.b.

As crianças vão à escola fora do lar e as mais velhinhas ajudam a tomar conta e enquadrar as mais novas. Algumas delas, dando provas de uma enorme maturidade, são das últimas a deitarem-se e das primeiras a levantarem-se para ajudarem as "madres" nas primeiras tarefas da manhã, nomedamente preparar, a partir das 5 da manhã, o "matabicho" para tanta gente.

Foi esta "família" que há dias me cantou, para agradecer uma pequena ajuda que dei, o "Do re mi", a música do "Música no coração".



Claro que fiquei emocionado pois não esperava nem o agradecimento nem a qualidade da intepretação. Lindo!

O "lar" está instalado em instalações que, depois da destruição causada pelas milícias em 1999, foram recuperadas com o apoio da cooperação espanhola.

O edifício mais antigo, a "casa mãe", é do tempo da administração portuguesa e foi queimado em 1999, preparando-se a sua recuperação ainda para este ano.


"Espicaçado" pelo meu amigo João Tolentino, que se propõe fazer a maquete do edifício antigo, acabei por fotografar a planta do mesmo.


E aqui é que vem a "desgraça"! Perante um orçamento "significativo" de uma empresa portuguesa de construção, a recuperação do edifício acabou por ser adjudicada a uma empresa indonésia... por cerca de metade do valor!
Acredito que a diferença se justificará principlamente pela diferente qualidade dos acabamentos. É que tudo indica que a empresa indonésia vai reconstruir o edifício com materiais mais baratos (telhado de zinco pintado de vermelho, chão de azulejo branco de "casa de banho", etc).

É preciso "salvar" o edifício desta "mutilação" das suas características. Quem pode dar sugestões? Já fiz qualquer coisa mas "qualquer coisa" é pouco... Não chega!

Last not least... O único apoio oficial que o Estado Timorense dá ao lar o é um conjunto de 32 sacos de arroz, por trimestre, para a alimentação das crianças. Por isso é que são necessários mais ajudas, individuais ou colectivas. Vamos nessa?!... Eu sei como e se quiser deixar um comentário depois contacto.