terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma saltada a Batugadé

Batugadé era a "sede" dos "Serra" em Timor. Aí se instalou, a partir de certa altura, Francisco Serra, também conhecido por "o Serra de Batugadé" ou "o Serra das madeiras" devido à serração de madeiras que aí tinha.
Do edifício resta o "esqueleto", à espera de aproveitamento que não se sabe ainda qual será. Mas dava para um pequeno "parador", com restaurante e uns quantos quartos... E como está perto da fronteira com Timor Ocidental até serve na perfeição para o efeito... Vou pensar nisso... :-)


O Francisco Serra, irmão mais velho do "Vô" Serra (José), adoeceu e veio a falecer em 1979, encontrando-se sepultado no cemitério local. Aproveitando o dia 1 de Novembro, fui até lá com o "Vô" a fim de depor flores na campa dele e do seu filho Fernando, 100% português, nascido em Cernache do Bonjardim, que veio a morrer em 1976, na guerra civil de Timor Leste, na região de Ermera. Por lá esteve sepultado em local desconhecido da família até ao ano passado, quando dscobriram a campa e transladaram os seus restos mortais para perto do pai, em Batugadé.

 Campa de Francisco Serra, em Batugadé

Campa de Fernando Serra. Os erros de português são para esquecer...

Prestada a homenagem aos mortos, falemos dos vivos... Neste caso de mim, do "Vô" e de um dos seus vários afilhados que nos acompanhou na viagem até Batugadé.

Depois de apanhar o "Vô" em Vatuvou, rumámos a poente. Em vários trechos a estrada tem uma paisagem deslumbrante, vendo-se aqui e ali pequenas praias de acesso quase impossível por terra. E a certa altura aparecem os conhecidos tanques utilizados antigamente pelos indonésios para fazerem piscicultura.

8º 42' S + 125º 06' E


Mas não vale olhar apenas para baixo e para a frente... De vez em quando temos de pôr o nariz no ar para ver um ou outro companheiro furtuito de viagem.


Fazendo caminho, chega-se à Ribeira Loes e à sua conhecida ponte, a mais comprida da Timor Leste, construída com a velha técnica (militar) indonésia de usar peças metálicas, fazendo lembrar o velho "Meccano". Um malandreco ("cheira-me" a coisa dos fuzileiros portugueses que em tempos estiveram em Liquiçá...) pintou sobre a placa que assinala o local... "Ponte Vasco da Gama"... O nome está hoje bastante sumido mas ainda dá para perceber a marotice...


Mais adiante há o que foi um campo experimental de cultivo de videiras apoiado pela agência alemã de cooperação internacional, a GTZ. Tem todo o aspecto de estar abandonado.
Mais além aparece um extenso arrozal, na zona de Beaco.


Na zona há também, dentro de água, um afloramento rochoso conhecido por "cabeça de Santo António".


Aproveitando a proximidade do mar, produz-se muito sal vendido na borda da estrada.


O mesmo acontece ao peixe, normalmente pequeno, muito abundante na região. No regresso de Batugadé o "Vô" não se dispensou de comprar peixe fresco para levar para e para os seus vizinhos mais próximos e que o ajudam diariamente. Resultado, o carro, à boa maneira timorense, "virou" transporte de peixe da maneira usual: pendurado no exterior... :-)


Depois de chegados a Batugadé e de termos ido ao cemitério voltámos para trás e almoçámos no restaurante "china" mais conhecido da terra, bem em frente da "tranqueira" (pequeno forte) existente no centro da vila.


Almoçados, estava na hora do regresso. E lá viemos nós, estrada fora, a caminho de Vatuvou, primeiro, e de Dili, depois. Assim se passou um dia bem agradável.


sábado, 27 de novembro de 2010

Bazartete e mais além

Mais uma voltinha, mais uma viagem. Desta vez no final de Agosto passado. Destino: Bazartete "et ses environs"!...
Nunca tinha ido para aqueles lados mas uma amiga sugeriu-me o passeio pois dizia que a vista de Leorema, depois de Bazartete, era das mais bonitas de Timor. E fui tirar a prova dos nove...


A viagem começa verdadeiramente junto da antiga prisão de Aipelo, na borda da estrada que segue de Dili para Maubara e a fronteira com Timor Ocidental. Nela estiveram presos muitos dos deportados políticos que Salazar enviou para Timor, incluindo o "pai" Carrascalão.
Hoje quase completamente em ruínas, foi recentemente objecto de uma limpeza do matagal que já "engolia" o local.


 Aí começa a subida até Bazartete. A paisagem não tem, a princípio, nada de especial e a estrada está um bocado degradada. Como muitas das suas "irmãs" um pouco por todo o lado, aliás. Em alguns lugares percebe-se pefeitamente que não foi objecto de qualquer recuperação desde a sua construção pela administração indonésia.
Só bem mais acima a paisagem começa a ter algum interesse, com o recorte da costa norte, até ao Cristo Rei, bem nítido e o verde das árvores, nomeadamente das "madres del cacau", a dominar.



A certa altura começámos a ouvir cântigos de igreja e depois de mais uma curva na estrada lá estava ela: a Igreja de São Francisco Xavier. Parámos um pouco para a espreitar; pouco interessante mas recente, inaugurada em 2006.

Mais adiante demos com uma construção que nos pareceu um autêntico chalé de montanha... Daqueles das paisagens da Suiça. Qual quê! É o convento das Escravas do Coração de Jesus. Aí está uma instalação da Igreja que bem podia ser aproveitada como ponto de apoio turístico... E as freiras ganhavam uns tostões... Com uma paisagem daquelas não faltariam clientes...

Continuámos e chegámos a Bazartete. O que nos chamou a atenção numa vila algo decadente foi uma casa ainda a brilhar de nova e que nos disseram ser do padre.... Hummm! será mesmo?


Passada Bazartete, lá fomos nós em busca da famosa paisagem a partir de Leorema. E de facto, depois de uma curva, demos com isto:

... e mais isto!

E a excursão continuou... Disseram-nos que o caminho mais interessante seria o que depois iria dar perto de Railaco, no distrito de Ermera. Foi para aí que nos dirigimos.
O caminho é interessante porque se desce até ao fundo de um vale para depois subir a encosta da montanha do lado contrário ao que acabamos de descer.
Foi a meio caminho do fundo do vale que demos com mais um aglomeado de casas e, claro, o inevitável numeroso grupo de crianças em grande algazarra por verem malais... Uma das crianças chamou-me a atenção pela sua beleza meio "selvagem"...


Continuamos a descer e no fundo do vale damos com uma das muitas escolas recém construídas ao longo do país. Só achámos que deveria estar num ponto um pouco mais elevado... É que estando mesmo no fundo do vale arrisca-se a um dia, se a coisa corre para o torto, apanhar com uma enxurrada...


Depois de treparmos novamente a montanha (e de nos perdermos...), passámos pela sede do suco Matata até que chegámos à estrada que liga Railaco a Gleno.
Aí, rodeados de caféeiros, parámos para matabichar e seguimos depois para Dili. A volta tinha durado cerca de 5 horas, feita nas calmas. A "prova dos nove" estava feita: as paisagens na zona de Leorema, com o Tatamailau ao fundo e completamente limpo, são um espectáculo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dia de Finados em Dili

O "Dia de Finados" é, provavelmente, o dia mais importante do calendário para os timorenses. Mais que o Natal, até. É ele o dia da reunião das famílias. Metade de Dili "escoa-se" para os "distritos" para rever as famílias e prestar homenagem aos seus antepassados. O culto destes é ainda muito forte, quase estruturante da organização familiar.
Extremamente respeitosos dos que já partiram, nas vésperas do grande dia vão aos cemitérios reparar e pintar as campas preparando-as para a homenagem aos familiares defuntos.


Esses dias são dias grandes também para os chineses das lojas de Dili que vendem flores de plástico ou tecido mas mesmo na borda da estrada (abaixo perto de Liquiçá) se podem ver pequenas bancas vendendo flores.


Chegado o dia, todos ---mas mesmo (quase literalmente) todos --- se dirigem aos cemitérios transportando flores arificiais ou, muitas vezes, pétalas de flores arrancadas das plantas das redondezas das casas, transportadas em cestos. Tudo é, depois, utilizado para enfeitar as campas, mesmo que, nalguns casos, de forma muito singela.



Muitos são também os que nesse dia vão assistir à missa nas várias igrejas ou, mesmo, na capela do cemitério (abaixo, o de Santa Cruz, em Dili).


  No final da deposição de flores, a família regressa a casa, muitos deles "ensanduichados" nas motocicletas.


E permita-se-me terminar esta "estória" com uma nota pessoal... A imagem parcial da campa (em Batugadé) do irmão do "Vô" Serra, o primeiro "Serra" a chegar a Timor, lá para os idos de 1946.

domingo, 21 de novembro de 2010

Bem vindos ao Remexio!...

Bem vindos ao Remexio!...

Várias razões contribuiram para que tivesse actualizado este blogue muito poucas vezes durante a minha recente estadia de 4 meses em Timor Leste. Vamos ver se agora consigo colocar a escrita em dia...

Há lá coisa mais sensaborona que um super-super-fim-de-semana em Dili? Foi o que aconteceu nos princípios de Setembro e aproveitei para revisitar o Remexio, onde tinha estado há vários anos e de que ficara com uma impressão muito agradável: um vale verdejante mais ou menos perdido entre as montanhas e não muito longe de Dili. Ali parece que podem acontecer mais 2 ou 3 guerras mundiais --- cruzes, canhoto!... --- sem se dar por nada.

Saindo de Dili para sul, a caminho de Aileu, vai-se subindo até que se chega a uma altitude em que começam a aparecer os primeiros caféeiros.
Na época, naquela região, muitos deles estavam em plena floração e era um consolo para a vista ver tanta flor branca contrastando com as folhas verdes escuras e brilhantes àquela hora (cedo) da manhã.

Bem mais adiante surge o desvio para o Remexio (8º 37’ S + 125º 38’,23 E + 1019 mts) e  começa-se a descer até à vila passando por um caminho muito verdejante até se chegar a um recanto muito utilizado para piqueniques.
  
Uma placa no local anuncia: "fatin passeio mota boot"

No local cai uma pequena cascata de água e há alguns atrás formava-se um pequeno tanque onde as crianças se divertiam tomando banho. Quando cheguei um timorense estava lá sentado descansando da subida. Consigo trazia dois galos de luta "ensacados" numa lipa. Colocados os bichos ao ombro, lá foram eles estrada acima a caminho da estrada principal para apanhar alguma "anguna" que os levasse à capital a fim de ir a um terreiro de luta de galos ou, simplesmente, de os vender.


 A descida continua numa estrada bordejada de fetos, lindos, forrando as paredes da montanha.

A estrada não é má nem boa, antes pelo contrário... Faz-se... Com um jeep... Um carro normal teria dificuldades em fazer o percurso, nomeadamente nas partes onde há alguma lama.

Finalmente chega-se à vila e deparamo-nos com uma estrada/rua central ponteada de casas de um lado e do outro, tudo muito arrumadinho e limpo. Uma belezura...


Quase no princípio da rua há o que terá sido um fontanário onde ainda se vê, no topo, o escudo da cidade de Dili, a cujo concelho pertencia a vila.


O esforço que o país está a fazer para melhorar a qualidade das suas escolas também chegou ao Remexio.


Ao fim da rua situa-se, num monte, a Igreja local. Todo o espaço está bem arranjado e confirma, também ele, a sensação de que o Remexio é um pequeno paraíso bem perto de Dili.