quarta-feira, 19 de junho de 2013

Uma "mãe" e 65 filhas...

Uma das coisas boas com que me deparei em Pante Makasar, a capital de Oecussi, foi com o lar das Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário.
Instaladas desde 1953 num edifício de traça portuguesa bem perto do mar (e da ponte-cais onde atraca o navio que faz a ligação a Dili), a comunidade actual é composta de apenas 5 "irmãs" sendo que uma delas, com 80 anos, chegou a Pante em 1955 (saíu "empurrada" pelos indonésios em 1975 e voltou após a saída destes).



A líder da comunidade é chilena e antes de de chegar a Oécussi esteve vários anos na Bolívia. E é uma mulher "do caraças"!.. (desculpem-me a cedência a uma linguagem mais "popular"...). Não coloco aqui nenhuma foto dela porque sempre se esquivou a ser fotografada e respeito isso.

Ela, a "Madre" Marcela,  é a "mãe" de 65 crianças que ali vivem em regime de internato. Nenhuma, a não ser uma pequena minoria, paga seja o que for para estar ali. As poucas que pagas é de filhas de funcionários timorenses que querem que as filhas tenham uma educação disciplinada e embora residam em Pante Makasar pediram para as filhas ficarem no lar mediante o pagamento de uma "mensalidade" para a alimentação.

Uma diversão ao cuidado da Madre Marcela: domesticar um morcego! Que por lá anda nos beirais e que, reconhecendo o chamamento da sua protectora, voa para ela quando o chama.





Vocês já tinham visto um morcego domesticado? Eu não!



A principal "raison d'être" do "lar" é abrigar moças que desceram das montanhas de Oécussi para estudarem na cidade. Cerca de 80% das crianças têm esse background.
Só que as razões que as levam a ir para o lar são diversificadas... Há a moçoila de 17 anos que fugiu de casa aos 14 porque os pais a queriam casar para ganharem o dinheiro e outros bens do "barlaque" ("alambamento" em Angola, "lobolo" em Moçambique...); há a criança de 7 anos abandonada pelos pais na sequência de uma separação; há a criança que fugiu de casa com 11 anos porque ia ser vendida pelo pai por um búfalo (tal era a fome na família...); há a menina de um pouco mais de 3 anos que ainda se "descuida" nas cuecas com frequência, sinal, quase certo, de um desequilíbrio emocional grave; etc, etc, etc

E apesar de todos estes sofrimentos sente-se que se está no meio de uma "família" feliz. Q.b.

As crianças vão à escola fora do lar e as mais velhinhas ajudam a tomar conta e enquadrar as mais novas. Algumas delas, dando provas de uma enorme maturidade, são das últimas a deitarem-se e das primeiras a levantarem-se para ajudarem as "madres" nas primeiras tarefas da manhã, nomedamente preparar, a partir das 5 da manhã, o "matabicho" para tanta gente.

Foi esta "família" que há dias me cantou, para agradecer uma pequena ajuda que dei, o "Do re mi", a música do "Música no coração".



Claro que fiquei emocionado pois não esperava nem o agradecimento nem a qualidade da intepretação. Lindo!

O "lar" está instalado em instalações que, depois da destruição causada pelas milícias em 1999, foram recuperadas com o apoio da cooperação espanhola.

O edifício mais antigo, a "casa mãe", é do tempo da administração portuguesa e foi queimado em 1999, preparando-se a sua recuperação ainda para este ano.


"Espicaçado" pelo meu amigo João Tolentino, que se propõe fazer a maquete do edifício antigo, acabei por fotografar a planta do mesmo.


E aqui é que vem a "desgraça"! Perante um orçamento "significativo" de uma empresa portuguesa de construção, a recuperação do edifício acabou por ser adjudicada a uma empresa indonésia... por cerca de metade do valor!
Acredito que a diferença se justificará principlamente pela diferente qualidade dos acabamentos. É que tudo indica que a empresa indonésia vai reconstruir o edifício com materiais mais baratos (telhado de zinco pintado de vermelho, chão de azulejo branco de "casa de banho", etc).

É preciso "salvar" o edifício desta "mutilação" das suas características. Quem pode dar sugestões? Já fiz qualquer coisa mas "qualquer coisa" é pouco... Não chega!

Last not least... O único apoio oficial que o Estado Timorense dá ao lar o é um conjunto de 32 sacos de arroz, por trimestre, para a alimentação das crianças. Por isso é que são necessários mais ajudas, individuais ou colectivas. Vamos nessa?!... Eu sei como e se quiser deixar um comentário depois contacto.

Sem comentários:

Enviar um comentário