O Mercado dos Tais, em Dili, é para mim um lugar quase mágico. Coleccionador (quase) compulsivo de artesanato dos locais por onde vou passando (particularmente de Timor Leste e de Moçambique), sinto-me lá como "peixe na água".
Esta sensação foi crescendo ao longo do tempo, à medida que o fui visitando (pronto! Eu confesso! Quase nunca menos de uma vez por semana à procura das últimas novidades... :-) ) e criando laços de uma certa cumplicidade com alguns dos feirantes. O facto de eu ser o autor da fotografia do galo, de um dos feirantes, que está na moeda de 10 centavos ajudou a quebrar alguma eventual barreira. E claro, os dólares que por lá tenho deixado também... :-)
Mas há duas coisas que me dão um prazer particular neste tipo de mercados: o ambiente --- as cenas do dia a dia --- e o acto de negociar em si mesmo e todo o jogo de recuos e avanços até se chegar ao preço final.
Lembro-me, por exemplo, de em 1992 ter estado a dar aulas na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e o apartamento da Universidade onde estava alojado ser perto do famoso Hotel Polana, local de concentração (ainda hoje) de muitos vendedores de artesanato moçambicano. Pois eu chegava a interromper os trabalhos de preparação das aulas para ir arejar um pouco negociando com os vendedores só pelo prazer de negociar os preços, sem qualquer intenção de comprar efectivamente qualquer peça... Mas de vez em quando lá comprava mesmo... "Quanto dás, patrão?!...". "Eu não sou seu patrão!". "Sim, eu sei, patrão!... Mas dá lá mais qualquer coisa, patrão!.. Isto é sândalo, patrão!..."
Uma das "estórias" que me aconteceram nestas negociações de peças de artesanato ocorreu exactamente no Mercado dos Tais.
Já me preparava para vir embora quando um feirante, sabendo da minha preferência por peças antigas, me diz que tinha ali uma peça especial que talvez eu quisesse. "Mostre lá isso, senhor!"
Era, de facto, uma peça que eu nunca tinha visto à venda; só a tinha visto em algumas fotografias antigas: um cinto com várias bolsas à frente, parecendo cartucheiras, e todo pregueado de moedas (todas holandesas com excepção de duas, do Timor português).
Claro que a negociação começou com o vendedor a pedir-me um dinheiro que eu considerei exorbitante e que não estava disposto a pagar pois era "uma nota preta"...
Conversa daqui, conversa dali, o preço foi baixando até que ele me disse o preço que seria, para ele, final. Na esperança de que ele baixasse ainda mais um pouco o preço e porque ainda era um valor mais elevado do que estava previsto no meu orçamento, disse-lhe que não podia pagar tanto dinheiro e com isto fui virando as costas, ao mesmo tempo que agradecia, e afastei-me com o secreto desejo de que ele se "rendesse" e viesse atrás de mim baixando o preço até ao meu último valor.
Qual quê!... Não veio e eu fiquei logo arrependido de não ter pago o preço pedido.
Mas o "raio" do cinto não me saía da cabeça!... Por isso dois dias depois voltei lá para comprar o cinto pagando o preço que ele me tinha pedido.
Ó desgraça!... O vendedor tinha a sua "banca" fechada e, segundo me informaram, tinha partido para Ermera, de onde era natural, para a colheita do café.
"Quando volta?". "Não sabemos, senhor! Talvez na segunda-feira!". Nem segunda, nem terça, nem nada!... O homem só regressou passadas quase três semanas! E eu roendo-me de dúvida se ele ainda teria o cinto para vender ou não!
Enfim, quando o apanhei lá novamente perguntei-lhe se ainda tinha o cinto porque eu o queria levar, pagando-lhe o último preço que ele me tinha pedido. "Mas o preço agora já é 'y', senhor!" (mais cerca de 15%!...). "O quê?!... Então você disse-me que era 'x' e agora diz que é 'y'? Como é?!... Isso não se faz!...". :-) "Pois, senhor, mas o preço agora é 'y'!"
E não houve nada que o demovesse! Pudera! Ele tinha percebido que eu não largaria o "osso" nem por nada e... zás! Toca a carregar no preço!... E ele tinha razão! Eu bão larguei o "osso" --- digo, o cinto! Que, verdade ou técnica de vendedor, me foi indicado como tendo pertencido a um liurai da zona de Atsabe!...
Está hoje em local nobre da casa, por cima da televisão, para estar sempre "debaixo de olho" :-)
E quanto ao "ambiente" da vida do dia a dia no Mercado? Aqui ficam algumas fotos:
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Caro professor, ainda tem o mail do ISEG em actividade?
ResponderEliminarEnvie-lhe recentemente um e-mail para essa conta. Caso não esteja activa agradecia que me enviasse um contacto de e-mail. Estou a agendar uma viagem a Timor para breve e gostaria de tirar algumas dúvidas consigo.
Obrigado.
Duarte Fonseca
o e-mail a que se refere continua activo e bem activo...
ResponderEliminarE eu à espera de uma foto do tão famoso cinto...! Então como é, deixou-me curioso!!!
ResponderEliminarJG