O "4 de Dezembro" é, como sabem, o de 2002, quando Dili foi, pela primeira vez depois da independência, palco de "incidentes" que envolveram principalmente estudantes ou, pelo menos, pessoas daquela camada etária também conhecida por "jubentude inconciente"...
Correria para aqui, correria para ali, mais um assalto aqui e outro acolá e "ficaram pelo caminho" o então principal supermercado da cidade, o famoso "Hello Mister!", a residência particular de Mari Alkatiri, o Hotel Resende, ali mesmo em frente ao "Hello Mister!" --- que vizinho tão inconveniente... ---, a sede da Instituição de Micro-Finanças, etc...
O essencial da acção decorreu, porém, numa área muito restrita num raio de cerca de 100 metros do cruzamento onde estava o supermercado e o hotel e que ia até à porta principal da Universidade (ex-Escola Técnica) e do Parlamento Nacional.
E foi nessa altura que ficou claro para mim que um dos problemas de Timor seria o da segurança pública por não ter uma polícia à altura. Lembro-me de na ocasião ter sentenciado para mim próprio: a "PNTL acabou hoje!" Porquê? Vejamos duas "estorinhas" no meio da grande "estória" que foi aquele dia.
1ª "estorinha": às tantas aparece frente ao ACAIT e avançando (muito) lentamente em direcção ao amontoado de gente que se concentrara junto do "Hello Mister!", uma pequena força (no máximo 10) da "polícia de choque", com a sua farda negra e conandada, salvo erro, por um oficial "meia leca" da Singapura ["meia leca": baixinho e franzino...:-) ].
A certa altura, frente à ABP, estancam e por ali ficam uns minutos antes de... retirarem! Foi o primeiro sinal de que a "rua" estava à mercê dos "arruaceiros". Entusiasmados com a "vitória" que repreentou a retirada daquela minúscula força policial, completamente desproporcionada (em homens e equipamento) face à "tarefa" que teria pela frente, a "malta" tomou conta da rua e aí vai ela, rua abaixo, gritando, atirando pedras, ameaçando. Daí a saquearem e deitarem fogo ao "Hello Mister!" e a saquerem o Hotel Resende foi um passo. Bem pequeno, aliás!...
Desta agitação surge a 2ª "estorinha".
Na sequência da correria que se seguiu à partida da "polícia-que-deveria-ser-de-choque-mas-que-detesta-empurrões", uns quantos "piquenos" passaram em frente da ABP e viram que havia lá polícias --- os que normalmente faziam a segurança das instalações, tal como em todo o banco central que se preze... --- e isso foi motivo mais que suficiente para, "en passant", atirarem pedras ao edifício, deixando-o com alguns vidros partidos.
Mas o que se seguiu foi quase "hilário" se não tivesse sido tão triste pelo que representou em relação ao futuro: os polícias refugiaram-se dentro das instalações do banco e só saíram de lá depois de se terem arranjado roupas civis para eles, tendo saído pelo portão de trás das instalações misturados com o pessoal do banco que, entretanto e depois de assegurada a segurança do essencial das instalações e da informação que elas guardam, abandonaram o edifício. Isto é: a polícia, que estava lá para proteger as instalações e os funcionários, acabou por ser protegida por estes... O mundo ao contrário... A polícia protegida em vez de proteger. Daí eu ter pensado na época: "A polícia acabou aqui!..."
A história dirá que o problema dela não é só de liderança; é principalmente de "atitude". E como se transmite esta? Como se incute esta? Em cursos de formação intensiva? Ná... Será o tempo, senhores, será o tempo!... E numa sociedade em que todos são primos uns dos outros quanto é esse "tempo"?
Mas a estorinha não acabou aqui: é que quando lá chegou a força da ONU que foi montar a segurança do edifício encontrou nele... mais 5 ou 6 polícias que andavam por ali e se tinham refugiado nas instalações do banco. Isto é: o pessoal da ABP a sair por trás protegendo seis polícias e outros tantos a entrarem pela frente para se protegerem...
Sem comentários.
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É mesmo... sem comentários!
ResponderEliminarTantos sonhos, tantas vidas perdidas...
Mas é melhor ficar-me por aqui! Sem qualquer comentário, pois poderia ser inconveniente.
JG
Já viu que metem politiquice em tudo? Já um homem não pode escrever as suas crónicas pacificamente em sem segundas intenções!
ResponderEliminarEscreva sempre e continua a brindar-nos com a sua fresca escrita.
Um abraço
RBF
Muito obrigado, RBF. Nem ligo... Respondo aos comentários feitos aqui; aos outros, ignoro-os...
ResponderEliminarAbraço