Digo-vos que foi uma lição de história (e não só) interessantíssima. E também uma lição de como os timorenses se relacionam com os seus mortos --- o que é quase tão importante para eles como a forma como se relacionam com Maromak.
Sob o ponto vista da História, ali se podem encontrar quase lado a lado as campas de um coronel Rocha Vieira --- logo à entrada, em cama rasa e quase sempre coberta de pó e folhas, o que a torna quase imperceptível --- e a de um antigo "deportado social". Ou a do famoso "Arbiru".
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À direita da porta principal, na 2º ou 3ª fila de campas, chama a atenção uma campa com o escudo português e sem qualquer identificação. Soube posteriormente que é a do Engº Canto Resende, o que sossobrou ao cativeiro japonês durante a Segunda Grande Guerra.
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A especial relação dos timorenses com os seus antepassados está bem patente na forma como, principalmente no Dia de Finados, decoram com flores as campas do cemitério --- tal como fazem com as que se situam junto das suas habitações por o cemitério estar, há muito, a "rebentar pelas costuras" (para quando um novo?).
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Essa relação está também bem patente em algumas campas onde se encontram objectos que eram de uso pessoal do falecido. Foi assim que já lá vi campas com pratos e colher, com canecas de chá e esta, abaixo, com... um biberão com leite!
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Doutra vez, bem em cima da ponte de Bidau, dei com a cena abaixo: dois dias antes tinha ali morrido um motociclista e no Dia de Finados lá fui encontrar as inevitáveis velas mas também cigarros e... um pão!
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Podem pensar que é algo macabro, mas aconselho quem puder a fazer uma vista cuidada aos cemitérios de Dili, particularmente ao de Santa Cruz. Até poderão encontrar uma campa, logo na entrada, em que os pais resolveram homenagear a memória do filho parafraseando um conhecido poema de Camões: "Filho meu gentil que partiste..."
Um autêntico livro aberto, aquele cemitério!
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São,de facto,muito peculiares tanto a arquitectura dos túmulos, como a sua decoração. Para além dos mencionados em Díli, é interessante notar na zona de Liquiçá onde aparecem muitos inspirados na bandeira como pala do túmulo de D.José Nunes em Maubara; ou o túmulo no cemitério em Aileu copiado do monumento ao Infante D.Henrique em Díli.
ResponderEliminarOutros túmulos têm inscrições curiosas, tanto em relação às viagens que o defunto em vida fez a Portugal, ou até à hora da sua morte. Tenho coleccionado fotos de túmulos por todo o território, constatando-se o desaparecimento dos outrora abundantes túmulos com armas nacionais portuguesas. Subsistem, de facto, poucos.
RBF