domingo, 6 de março de 2011

Fui lá mas voltei...

Chegados ao destino (no suco Afaloicai, quase na fronteira entre os distritos de Baucau e Viqueque), começaram as apresentações. Único "malae" nas redondezas, percebi que havia uma especial deferência para comigo. E curiosidade, muita curiosidade pelo "malae mutin boot"!... :-) (tradução a meu favor: "estrangeiro branco entroncado...").

Seguimos de imediato para junto do caixão e prestámos as nossas homenagens ao falecido, entregando uma coroa de flores em nome da instituição e, a cargo de uma das colegas, fazendo as preces usuais na ocasião. Ao mesmo tempo a viúva, por sentimento mas também cumprindo a tradição, carpia o seu falecido marido. A cena veio a repetir-se sempre que chegava um novo grupo de visitantes.


Depois das homenagens prestadas e de descansarmos um pouco chegou a hora do almoço. Nestas ocasiões, porque há sempre pessoas a deslocarem-se de longe, é obrigação da família, no que é ajudada pelos amigos e familiares, prepararem refeição para alimentar os "convidados".
Esta não é a refeição principal, que decorreu mais tarde, já ao fim do dia, e duraria até de manhã, à hora do enterro ("às 10h, mas as horas aqui são elásticas...", disse-nos o nosso colega filho do falecido). Nessa ocasião teriam de trepar a montanha com o caixão às costas durante cerca de 10kms para o depositarem no cemitério mais próximo.
Entretanto estive à conversa com um dos vizinhos que, no seu português impecável ("fiz a escola portuguesa, senhor!"), lá foi dizendo que estava quase a fazer 80 anos e que era da zona da "várzea" (leia-se, terrenos mais a sul e abaixo na montanha onde se cultivava o arroz) mas que há muitos anos se tinha mudado para aquela zona "para fazer horta" (cultivar vários legumes). "Aqui há tudo, senhor! Aqui tem tudo!". E eu a pensar, olhando em redor, que não tinham nada... Na verdade o conceito de "ter" e de "necessidades" é muito relativo!
As habitações eram pouco mais que rudimentares, com terra batida no interior. E a casa de banho a que tive de recorrer nos preparativos do regresso --- "quem vai para o mar avia-se em terra..." --- era... uma sanita indonésia, daquelas em que as pessoas têm de ficar de cócoras... Mais nada.


Preparavamo-nos para nos despedir quando nos vieram dizer que, em mais uma deferência para connosco, íam fazer uma "procissão" tradicional, em que as pessoas transportam as suas oferendas para as cerimónias.
A abrir dois porcos pendurados de varais de bambu e depois mulheres com cestos de arroz e, num caso, vários "tais".


Finalmente pusemo-nos a caminho para o regresso. Faltavam 5 mins para as 3 da tarde, cerca de 2h depois de termos chegado.


Pelo caminho, a mesma paisagem abrupta dos contrafortes do "Matebian feto".



Até que chegámos novamente a Baguia. Só então reparei que, numa curva da estrada, surgiu um forte. De máquina em riste, lá consegui apanhar uma imagem de um dos dois torreões e do frontão do mesmo onde, embora algo desvanecidas, se podem ver as armas portuguesas. Vim posteriormente a saber que ali tinham residido dois amigos meus, irmão e irmã, cujo pai era o chefe do posto nos fins dos anos 50.

 

E o caminho continuou até reencontrarmos o grupo que víramos de manhã a plantar arroz e que continuava a sua faina. Assim que me viram no alto da estrada com a máquina em punho, começou a festa... E eu que os queria apanhar a trabalhar! O que vale é que alguns resolveram "posar" para a imagem em plena actividade de plantio do arroz.


Mais alguns quilómetros à frente e damos com a paisagem abaixo: estavamos de volta ao "Taci feto", com a costa junto de Laga e Baucau.


E já no final do percurso até Laga, apanhamos esta paisagem espectacular, do vale preparado para o cultivo do arroz. Foi, provavelmente, a melhor imagem que retive do percurso. 


Chegados a Laga rumámos a poente e depois de um desentorpecer de pernas na Pousada de Baucau, pusemo-nos a caminho de Dili, onde chegámos... 16h depois de termos partido!... Uf!...

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