quarta-feira, 17 de junho de 2009

Aquelas (longas) barbas brancas...

O "Livro" foi pensado para contar "estórias" de Timor --- ou, pelo menos, passadas em Timor. Não está, pois, na sua "matriz" comentar a pessoa "A" ou "B". Permitam-me, no entanto, que abra aqui uma excepção que, no fundo, se prende com outra "estorinha" de Timor.

Desde os primeiros tempos das minhas sucessivas estadas em Timor que me chamou a atenção um senhor de longas barbas brancas. Aquelas barbas associei-as eu, mentalmente e desde logo, à famosa história (1546) em que D. João de Castro, então Governador da Índia, solicitou aos vereadores da Câmara de Goa um empréstimo para reconstruir a fortaleza de Diu --- quase destruída em mais um ataque dos vizinhos --- dando como garantia... as suas próprias barbas (leia aqui a história).

Só depois vim a saber que aquelas barbas pertenciam a um dos irmãos "Carrascalão", concretamente a Manuel Carrascalão.

Manuel Carrascalão com o então Presidente da República Xanana Gusmão no dia 28 de Novembro de 2003, no lançamento oficial das moedas timorenses de uso corrente na então "Uma Fukun" (ex-"Intendência" durante a administração portuguesa), hoje "Casa Europa"

Vim depois a saber também a história das longas barbas brancas: pai do "Manelito" que, com muitos outros, foi assassinado na loucura de 1999 pelas milícias pró-indonésias na casa que então lhes servia de habitação (onde está hoje a sede fa Fundação Oriente em Dili, na Avª Presidente Nicolau Lobato), jurou a si próprio que só cortaria as basbas no dia em que fosse feita justiça com a condenação dos responsáveis pela morte do filho e dos demais populares que se tinham acolhido na sua casa na esperança de aí estarem protegidos.
Considerando que tal não foi feito ainda --- virá a ser? Parece que não... ---, as barbas continuam por cortar.

Talvez pela associação entre as barbas brancas e a história de D. João de Castro e sabendo da razão de ser delas fiquei sempre com a impressão de que se trata de uma daquelas figuras "de antes quebrar que torcer". Ou, como eu próprio digo por vezes, "de espinha direita". E isto apesar de não saber praticamente nada do seu passado a não ser o mais trivial sobre a origem da família em Timor. Mas aquelas (longas) barbas brancas...

Sabendo que ele está muito doente, aqui ficam os votos de que melhore e/ou padeça o mínimo possível.

(Foto "roubada" do blog de sua irmã Ângela Carrascalão. "Desculpa, senhora!...")

PS - ao lado da casa foi criado um estreito corredor de acesso ao poço onde foram encontrados vários dos corpos dos assassinados. O local, naturalmente, "virou" lulik

2 comentários:

  1. O Avô Manuel carrascalão é de facto mais de quebrar do que torcer. É o patriarca da família e pessoa respeitadíssima. Infelizmente acho que não vai cortar as barbas nunca.
    Um abraço para ele e votos de saúde.

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  2. O Sr. Manuel Carrascalao e um homem de bem timorense. Desejo-lhe saude e que continue sempre a sorrir.

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