"Serra" do pai e "Almeida" da mãe, por conta desta poderia ser também "L.", nome que "caiu" na passagem de testemunho dela para os filhos.
Por mor de um tio dela, irmão da minha avó que emigrou para o Brasil faz este ano 100 anos (!), há "n" "L."s espalhados por várias cidades do "Brasiuuuuu", do Rio a Campinas, de Curitiba a Vitória do Espírito Santo.
O curioso na família "L." é que há um gene qualquer que se encarrega de fazer a diferença entre membros da mesma família nuclear: há os que são artistas e os que, como eu, são uns "nabos" no desenho: papagaio ou cão são desenhados de modo não muito diferente :-) Passe o exagero, claro.
É assim que minha avó deixou de "herança" a minha mãe um enorme jeito para o desenho e esta deixou-o todinho ao meu irmão, escultor de formação. Que já se encarregou de passar o testemunho à filha e esta à sua própria filha. Os outros são uns pobres coitados, azelhas com o lápis na mão. Se não fosse alguma sensibilidade para a fotografia até desconfiava...
E vocês acreditam que no Brasil esta divisão se repete tal-qual?!... Duas das minhas primas são o paradigma do que se passa: uma tem, como o meu irmão, o curso de artes visuais e a outra... é uma "naba" no desenho.
Ora, nos idos de 2001 fui apresentado em Dili a um malai que se se identificou como sendo "L." Claro que ergui o sobrolho medindo-o de alto a baixo tentando descortinar ali mesmo alguns traços familiares. Qual quê! "Aquilo" não se parecia com nada nem ninguém!... E aí surgiu a pergunta disparada à queima-roupa: "você tem jeito para o desenho? Ou para a música [parte dos "L." são mais dados a estas coisas da música]?" O homem, meio assarampantado com a inusitada pergunta, respondeu logo que não. "E de onde é você? Do Algarve, da zona de VRSanto António até Faro?". Aí quem se "passou" com a resposta fui eu: "Não! Sou de Angola!". "Danou-se!" Mas não desisiti e voltei a atacar: "E o seu pai?". "De Lisboa", foi a resposta. "E o seu avô?". "Não sei! Mas o meu irmão deve saber!"
Intrigado com tudo aquilo apontei-lhe, na brincadeira, o indicador ao nariz e ao mesmo tempo que o agitava ia dizendo: "a gente volta a conversar sobre isso depois!".
E assim foi. Passado um tempo reencontrei "L." e expliquei-lhe, com a história do gene mal distribuido pela família, a razão das minhas perguntas.
Só mais tarde vim a saber que o avô era... do Algarve, de Olhão pois então. Aí voltou tudo a fazer sentido... :-)
Tornámo-nos amigos e com mais outros dois passámos a fazer da mesa 13 do City Café o nosso "endereço oficial" em Timor Leste: as pessoas que se queriam encontrar comigo já sabiam que ao jantar lá estávamos os quatro caídos no cantinho do café, na mesa 13.
Numa das vezes cheguei ao encontro um pouco mais cedo e lá estava "L." no seu canto, tendo eu reparado que tinha um caderno à frente dele e uma esferográfica na mão que, pelos movimentos que fazia, percebia que não estava ser usada para escrever.
Quando me viu chegar e para inciarmos a conversa ele fechou o caderno e pousou a esferográfica mas eu atirei-lhe: "O que é que estava a fazer, pá?!... Mostre lá o que estava a fazer, sff!...". Apanhado de surpresa pela minha voz de comando, abriu o caderno e foi então que vi que o malandro estava a desenhar uma belíssima paisagem tropical, com palmeiras na praia e um solzão perto do horizonte. Tudo feito com um tracinho em zig-zag de não mais de 2-3mm cada traço. Uma belezura!...
Aí não resisti e perguntei-lhe: "Ah seu desgraçado!... Então você disse-me que não tinha jeito para o desenho e desenhou isto? Acha que o comum dos mortais é capaz de fazer isto?!...". Um pouco com o ar de "puto" apanhado passar o indicador pelo bolo dentro do armário para se bater com a cobertura de chocolate respondeu-me: "O quê?!... A isto é que você chama jeito para o desenho?!... Se é isso então tenho, sim!...". "Então o que havia de ser, pá?!..."
Não havia dúvida: além de "Serra"s tinha descoberto em Timor um "L.". Aquele desenho não enganava!
Não faço ideia de onde vem a ligação, certamente longínqua. Talvez, "penso eu de que", um antepassado comum, evidentemente cristão-novo da zona de L. em Portugal, "basou" para o Algarve --- desconfio que "empurrado" pelo Marquês... --- e por ali ficou e foi ponto uma sementinha aqui, outra ali, até aos dias de hoje... Algumas dessas sementinhas foram procurar outras terras, tendo umas ido para o Brasil e outras para Angola --- e agora Timor Leste.
Coisas da diáspora portuguesa e da lusofonia...
Mas a "estória" não acaba aqui: o "L." já se encarregou de passar o gene a (pelo menos) um dos filhos. Há tempos este terá sido solicitado por um amigo a fazer um desenho para fazer uma tatuagem. Quando chegaram à loja e o dono viu o desenho perguntou ao cliente quem tinha feito o desenho e ele respondeu "foi este meu amigo". A reacção do dono da loja espantou ambos: "Queres começar amanhã a trabalhar aqui a fazer tatuagens?".
Ele há com cada gene!...
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