segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Maldita tradição... :-) (pelo menos alguma dela...)

Esta é uma 'entrada' diferente do habitual porque não tem que ver com viagens mas com um aspecto cultural relevante: os casamentos "arranjados" entre famílias timorenses...
Não que eu saiba muito sobre o assunto... Mas desta vez tocou à porta de uma amiga minha...
Namorando há cerca de 3 anos um "GNR", viu a família começar a fazer o cerco com o habitual "vê lá mas é se casas e tens filhos...", de que não estão ausentes interesses "comerciais (?) relacionados com o barlaque. É que estava-se mesmo a ver que com o GNR não haveria barlaque, enquanto que se ela casar com um timorense...
Bem dito bem feito: há cerca de um mês o "cerco" apertou-se ainda mais e foi como que "encostada à parede". Ela ainda gritou por socorro, apelando ao namorado para que a tirasse daqui... Mas nada!
Resultado: hoje disse-me que iria, muito provavelmente, casar com o pretendente timorense "até porque ele já se entendeu com a minha família"...

Tradições...

domingo, 28 de agosto de 2011

Uma voltinha (?) pela manhã com Dili a meus pés!

"Romingo" é dia de descanso para a maior parte. E para mim também... Só que o meu descanso é outro: é feito de solavancos e de poeira nos passeios com o meu "Jaquim"!... Este não fugiu à regra, que por ser regra me faz uns frenicoques danados se não a cumpro... E hoje cumpri.
Mais uma vez saí de "casa" sem destino mas entretanto lembrei-me que uma amiga minha estava quase de regresso a casa (=Portugal) e não teria tido a oportunidade de... ter Dili a seus pés... :-)

Uma curta troca de mensagens deu para saber que estava já "comprometida": uma saltada a Maubara com família residente aqui.
Mas "Serra" é teimoso e lá fui eu, sózinho, para ver (e ter) Dili a meus pés... Provavelmente a melhor vista de Dili é a que se tem de perto de umas antenas da TT na saída de Dili para nascente, no alto da subida depois de Becora.
E lá fui eu "trever" ou "quadriver" a paisagem que se avista dali. É mesmo "Dili a meus pés"!



Das outras vezes fiz 180º e voltei pelo mesmo caminho pois convenci-me que a estrada (Rsssssssss!...) não tinha saída. Desta vez, depois de enviar uma mensagem à minha amiga dizendo "Dili a meus pés mas não aos seus! Bem feito! Bem feito! Bem feito!...", continuei em frente.
Quando dei por mim estava numa descida de muitos, muitos "grauseses" mas com uma vista espectacular à minha frente sobre o Cristo Rei e as praias da zona. Parei o carro, travei-o o mais que podia e saí para mirar a paisagem. Mas... é sempre assim: quando estamos "numa boa" aparece alguém... No caso era uma "anguna" que queria passar. Lá tive de regressar ao carro, encostar o "Jaquim" o mais possível à montanha, e "bater" mais umas fotos.


Entretanto, enquanto eu vinha "de escada abaixo" pela encosta, dei com duas senhoras a fazerem treking "escada acima"... Só depois me apercebi que uma delas era minha amiga. "Ai Maromak! O que fazem aqui?!...". "Estamos subindo a montanha, fazendo exercício, claro!... O Zé [marido] ficou lá em baixo no café e nós viemos por aí acima e daqui a umas horas vamos ter com ele....". Claro que enviei logo uma mensagem ao Zé a dizer "Encontrei duas doidas a subir a montanha a caminho das antenas da TT!... :-)" e obtive como resposta que estava no bem bom na Areia Branca...

Depois continuei, sempre com todas as cautelas mas com um olho na estrada e outro na paisagem. Ou um na paisagem e 3 ou 4 na estrada? Já nem sei!...


A estrada ía ficando cada vez pior e o "Jaquim", qual cavalo de "saltos", de vez em quando parava, olhava para ela e ficava a pensar... Por vezes precisei de lhe dizer ao ouvido "Então "Jaquim"? Já passaste por bem pior! Vamos a eles?!...". E com este encorajamento lá se metia em mais um buraco para sair todo satisfeito um pouco mais à frente!...


Já um pouco perdido, sem saber se a estrada iria desembocar na marginal ou em Becora, lá fui perguntando o caminho. Iria ter a Becora. Só que, quando dei por mim estava no meio da ribeira e tive de andar uns bons 500 metros pelo leito até encontrar a saída para a outra margem.


E foi assim que fui parar junto da estação eléctrica de Becora, que vai receber as linhas de alta tensão vindas da central de Hera e transformar a electricidade em voltagem mais "comestível"...


Pouco depois estava de volta à estrada de Becora depois de ter percorrido o caminho assinalado no mapa abaixo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Eureka! Já sei!..." ou "De como uma coisa difícil se torna fácil!..." :-)

Já sei tudo! Tudinho!... E vocês não sabem! Bem feito!...
E só sabem se eu contar!... :-)
"Prontes"!... Tá bem! Eu conto!...
Então é assim!...

Lembram-se da estátua do Dom Boaventura de Manufahi que o meu amigo Rui Fonseca "descobriu" algures em Campo Alor, em Dili? Pois bem... Fui lá e tirei-lhe umas fotos mas ficámos todos na mesma: quem era o autor, como apareceu ali e a que local se destinava?


Coincidência das coinciências, descobri hoje que um colega meu do Banco Central... mora na rua onde está a estátua. E contou-me tudo! Tudinho!...
Estamos algures em 1999 e o governador do distrito de Dili resolveu mandar fazer a estátua para a colocar... no "fruteiro", isto é, na rotunda que vai para o aeroporto.
Encomendada a obra a um indonésio, foi feita ali perto. Entretanto começa a confusão com o referendo e tudo o que se seguiu e a estátua, praticamente acabada, ficou onde tinha sido feita, num terreno ali perto.
Só muito mais tarde é que um grupo de amigos residentes na zona resolveu pegar na estátua e leva-la para onde se encontra agora.
O curioso é que o anterior governo (FRETILIN) sabia da existência da estátua, tal como este sabe. Mas nunca ninguém tomou a iniciativa de a usar. Por se tratar de obra indonésia? Por a cara do D. Boaventura não se parecer com a foto que existe dele (sabem que quando a vi pensei logo nos livros do "Sandokan, o tigre da Malásia"? Não é parecido com ele?!... :-) ). Porque há sempre qualquer coisa mais urgente para fazer?

Cópia da foto original do D. Boaventura
disponibilizada pelos herdeiros

Seja qual for a razão a verdade é que ela "práliestá", meio esquecida. O meu chefe, homem de 40 anos de Dili, dizia-me que nunca tinha ouvido falar dela!
Enfim! Está esclarecido o mistério! Eureka!...

domingo, 7 de agosto de 2011

Andando às arrecuas do tempo...

Na véspera de regressar de Baucau, cerca das 7h30m da matina, eis-me, "mai-lo" [= "mais o"] meu "Jaquim", a caminho de Com. O caminho é quase sempre plano: Baucau-Laga-Lautem-Com e PP (e volta...). Talvez por isso a estrada está, em geral, em boas condições e a velocidade média aumenta. No entanto, a dada altura, uns quilómetros antes de Lautem, dou com este espectáculo: a estrada foi simplesmente levada pela água numa extensão significativa. Não se vêm ainda esforços para a repor mas há um desvio que dá para ultrapassar a situação sem maior dificuldade.






As primeiras notas de maior registo são as extensas praias ao longo do percurso, uma ribeira com um aspecto bucólico e o paredão da tranqueira de Lautem. Parei apenas para "bater" fotos e continuei sem ir "xeretar" dentro da tranqueira, que serve de "marco" para quem quer virar para Lospalos e Tutuala e Jaco ou continuar para Com.


Segui em frente, para Com, para logo depois fazer nova (curta) paragem para fotografar mais um dos edifícios que a administração portuguesa semeou ao longo da costa, aqui e ali, para servir de alfândega. Este é muito semelhante ao da praia de Baucau e outros.


Mais adiante, um "encontro imediato" com um exemplar lindíssimo de búfalo albino. Imponente.


E eis-me chegado ao "fim da linha": Com, com o seu marco quilométrico anunciando aquilo que resolveram designar por A-1: a estrada entre Dili e Com. 210 kms que, se feitos "de enfiada", demoram umas 5 horas... Uma média horária de cerca de 40 kms, graças principalmente a esta parte final, em que as rectas e o pouco movimento nos deixam chegar aos 100 km/h e até mais com alguma facilidade.


Uma vez em Com, parei no Resort (bem arranjadinho) que há na entrada e sentei-me na esplanada junto ao mar para desfrutar a paisagem e o sossego. Acompanhado apenas pela panqueca com recheio de coco e regada com um pouco de mel. E um "espraite" (Sprite), na fala dos nossos primos brasileiros.

Apareceram então umas crianças que se entretiveram a andar no baloiço que por ali há e aproveitei para tirar umas fotos.




Descansado da viagem de ida e "aliviado" da carga líquida que levava :-) , fui ter com o "Jaquim" e arrancámos de novo para ver o resto da povoação.
Logo à frente dei com a "Guest House" da D. Rosa, minha velha conhecida das feiras de artesanato em Dili pois sempre aparece com tais de boa qualidade, antigos e... "carissíssimos", no dizer do meu amigo LQ.

E aconteceu o que mais "temia" :-) Apaixonei-me por um tais antigo de Lautem e começaram as negociações... O problema é que ela é "dura de roer" e ainda mais chata a negociar que eu... :-). Mas depois das usuais "fitas" e ameaças de ir embora, lá chegámos a acordo... Mais favorável a ela que a mim, reconheço... :-) Mas, malandra, quis "moer-me" o juízo até ao fim e contar as notinhas todas antes de me entregar o "material".


 

E estava na hora de partir. Para parar logo à frente para molhar os pés na belíssima praia de Com, junto à casa tradicional que de alguma forma "anuncia" a chegada à povoação, e aproveitar para recolher uma lembrança: areia da praia, finíssima, dourada.



De novo a caminho, parei apenas para fotografar o caminho do "progresso": a carnificina que estão a fazer nas palmeiras ao longo da estrada para instalarem os postes que hão-de suportar os cabos de electricidade que irão levar esta àquela zona


Apenas uma nota final: que pena não se ter aproveitado a oportunidade para produzir no país estes postes...

sábado, 6 de agosto de 2011

Baucau-Dili numa terça feira de manhã...

... e com uma (boa) surpresa em Laleia!

É verdade: na semana passada senti o peso de estar aqui há seis meses seguidos quase sem interrupção e... meti 3 dias de férias para sair de Dili.
Aproveitando o facto de estar agora em Baucau o meu amigo (de infância) Jesus --- não é esse! É o de Setúbal!...---, marquei quarto na Pousada que ele ajuda a dirigir e lá fomos nós os três: eu, a minha mulher e o meu "Jaquim"!...
Deixo o relato dos outros dias para outra ocasião e vou directo "aos finalmente": a viagem de regresso.
Depois de parar aqui e acoli para comprar abastecimentos vários (bananas, mandioca, flor de papaia, etc, etc, etc) nas bancas existentes a poucos quilómetros de Baucau, lá viemos estrada fora sem nada de especial a referir. Paisagem conhecida, prego a fundo (tanto quanto permite o estado da estrada...), e lá viemos nós, apenas com um ou outro encontro pelo caminho...



E foi assim que chegámos a Laleia.



Passada a conhecida ponte, como a minha mulher não tinha visto de perto a igreja apesar de já termos passado por ali muitas vezes, guinei para a direita e parei junto da dita para ela dar uma olhada.
Porta fechada, qual não é o meu espanto quando passados uns bons minutos ela aparece à porta chamando-me para ver o interior que eu não conhecia por sempre ter visto a porta fechada.

Ao entrar fiquei surpreendido. Bem surpreendido, diga-se. Creio que a maior parte dos não residentes em Laleia não conhece o interior da igreja, toda ela restaurada há relativamente poucos anos (3? 4?). Ora aí está ele:




 Altar mor


Dois altares laterais


Púlpito. Note-se o desenho (caravela portuguesa)

Vista a igreja, era tempo de nos pormos a caminho de Dili. Com uma paragem para tirar mais umas fotos a uma das "minhas" três árvores (à saída de Manatuto para quem vem de Baucau), fazer umas compras de barros na D. Rosa, em Manatuto, e subir e descer o "subão", cuja estrada está, aqui e ali, a ser alargada.




E com tantas paragens acabámos por levar 4h para fazer um percurso que normalmente, devido ao estado das estradas, se faz em cerca de 3h.


Lá fui eu, mais uma vez, perscrutar a cidade...

... em busca de uma estátua "perdida"! :-)
Expliquemo-nos!
Há dias um amigo mostrou no seu mural do FB uma estátua (metálica) identificada como sendo de D. Boaventura de Manufahi e que estaria "perdida" algures em Fatuhada, um dos bairros de Dili. Estavam reunidas todas as condições para me pôr em campo e ir "xeretar" a região.

E hoje, sábado, lá fui eu. 8h30m da manhã, mais ou menos, saí do hotel e segui a pista que o meu amigo R.Fonseca me tinha dado: dois quarteirões antes da embaixada australiana virar à direita e procurar a dita cuja.

Desconhecendo a geografia do local, acabei por me meter na Rua da Mesquita e, claro, não dei com nada. Virei para o interior do bairro e andei às voltas mas... nada!
Acabei por ir até à embaixada e então voltar para trás e só então dei com a entrada de uma rua, meio manhosa, que era a segunda depois da embaixada. Meti-me por ela e fui andando e nada de estátua.
Quando começava a pensar que a estátua se tinha esfumado, verifiquei que a rua estreitava com um prédio que quase fecha a rua. Ultrapassei-o e... ó pra ela! Lá estava a estátua, de pé, assente no chão.
Aqui está ela!...



Note-se o nome de "D. Boaventura" escrito no "kaibauk" preso na testa

Nem tudo o que parece é... O dedo esticado
é o indicador e não o anelar,
como se pode confirmar na foto acima...

Localização da estátua; vejam-se as coordenadas
na parte de baixo da imagem do Google

Qual a história desta estátua? Onde deveria estar e não está? Mais perguntas para perguntar...  Alguém sabe as respostas?

domingo, 31 de julho de 2011

"LOVe"!...

Rsssss!... Escrevi o título desta 'entrada' e estou sorrindo porque sei que o leitor está a pensar "LOVe? O que é que este quer?!...". Rsss!
"Carma", gentjiii!... "LOVe" é apenas... um produto turístico!... Ah! Ah! Ah!...

Eu "expilico"!...

Setúbal, a terra que me viu nascer e onde ainda moro, é a capital da "Região dos 3 castelos". Pois "LOVe" não é mais que a "região dos 3 castelos" de Timor-Leste... Ou, se quiserem, a "região das 3 tranqueiras", a que a vox populi por aqui chama, por vezes, de "castelo"! E quais são eles? Laga, Ossu e Venilale, pois claro!... Com uma belíssima base de apoio que é a Pousada de Baucau.


Mas como "produto turístico" "LOVe" precisa de muito trabalho prévio até se tornar uma verdadeira realidade.
As "tranqueiras" em questão estão, com excepção da de Venilale, completamente votadas ao abandono mas nem precisam de grande investimento para estarem "apresentáveis". Basta uma pequena "lavagem de cara" traduzida numa coisa tão simples como "capinar" os respectivos interiores, limpando-os das ervas que as ocupam --- em Ossu quase cobrem uma pessoa...

A de Laga tem as suas paredes exteriores bem conservadas mas a habitação que existiu no interior está em ruínas --- e assim deverá ficar, claro!


Os arredores da tranqueira são muito bonitos, especialmente na época da sementeira do arroz mas mesmo agora, com a colheita quase completa, tem a sua beleza (dourada).


Mas há mais: dali perto têm-se vistas admiráveis dos dois "Matebian" ("mulher", à esquerda na foto em baixo, e "homem"), os montes sagrados de Timor Leste.


Mais coisas há que ver por ali, desde paisagens com casas tradicionais até ao que resta do edifício da antiga administração portuguesa e que poderia ser aproveitado para, com o apoio técnico da Pousada de Baucau, servir de ponto de apoio aos turistas na região.

A segunda letra do "LOVe" é o "O" de Ossu.



Com uma traça que faz lembrar a de Laga, é a que está em pior estado de conservação. O matagal no seu interior é alto e não se compreende porque é que a Timor Telecom, que julgo ser a proprietária da enorme torre de transmissões que está encostada à tranqueira --- não havia outro local para a colocar, nem que fosse uns metros mais para a esquerda ou para a direita?!... --- não toma a iniciativa de, a bem da preservação do património histórico do país, pagar a alguém um punhado de dólares para capinar todo o terreiro e depois mante-lo limpo. Com uns 200 dólares faziam a festa, quase de certeza...

Nas proximidades da tranqueira há mais coisas de interesse, todas construções do tempo da administração portuguesa, incluindo um bocado de um aqueduto ainda relativamente bem conservado.


A viagem para Ossu tem um "bónus": os cerca de 15 kms entre Venilale e Ossu. A estrada é uma autêntica montanha russa e deve ser forte candidata a pior estrada do país --- pelo menos entre duas localidades com alguma importância.


A verdade, porém, é que proporciona vistas de quase reter o fôlego, nomeadamente das montanhas da região e mais além.


E de repente proporciona-nos também encontros inesperados do primeiro grau!


E chegamos ao "Ve" de Venilale.

A tranqueira local, porque está a ser usada pela administração timorense, encontra-se em bom estado de conservação.


No percurso entre a tranqueira e a ponta oposta da rua, podem ver-se as ruínas (que pena!...) de algumas casas de habitação de funcionários da administração portuguesa e, no extremo da rua, a "Escola do Reino de Venilale", recuperada há alguns anos pela SWATCH mas a necessitar de uma pintura com tintas que tenham em conta a extrema humidade da região para que tudo não acabe como está agora: um aspecto deplorável.


São estes os "3 castelos" da versão timorense da "região dos 3 castelos".
O que há a fazer para tornar este um "produto turístico" interessante? No mínimo "lavar a cara" a todas as instalações que disso necessitem, criar uma brochura explicativa de cada uma (suas características, história, etc) e da sua envolvência e criar alguns pontos de apoio com um mínimo de qualidade para o turista. Alguns edifícios da antiga administração portuguesa servem perfeitamente para o efeito desde que o Estado timorense assuma os custos da sua recuperação e adaptação e encontre depois, sejam empresários privados sejam associações de moradores nos locais, que façam, com algum apoio, a manutenção e exploração dos locais.

Mãos à obra, Sr. Ministro?