sábado, 25 de abril de 2009

Onde estava(s) no "25 de Abril"?

Era então aspirante da Reserva Naval, classe de Marinha, e estava... no Serviço de Informação Pública das Forças Armadas! No Estado Maior General das Forças Armadas, então no Palácio da Cova da Moura, ali na Infante Santo, em Lisboa, que se tornou a sede do MFA.
Foi, nomeadamente nos primeiros meses após do "25A", uma época cheia de experiências novas, quase todos os dias, que recordo com alguma saudade.
Foi uma época que, pelo facto de ser "das Forças Armadas" e estar onde estava --- o "velhinho" SIPFA foi transformado depois em Serviço de Relações Públicas ---, bastante em contacto com o público civil (só e apenas um bocadinho mais civil que eu...), éramos vistos como estando sentados mais ou menos à direita de Deus Pai...
As Forças Armadas tudo sabiam resolver, tudo resolviam e eram "pau para toda a obra"!... Desde conselheiro sobre invasão de casas --- então muito em voga ---, sobre problemas de acesso a água entre vizinhos desavindos algures em Trás-os-Montes, a conselheiro matrimonial e sobre "volto ou não volto a Portugal" para alguns até então refugiados/refractários ao serviço militar vivendo no estrangeiro (França, Argélia), fui de tudo um pouco!

Recordo-me particularmente de um (então) refugiado na Argélia que apareceu para tentar saber o que lhe aconteceria (e a outros) se regressasse a Portugal dentro de pouco tempo, nomeadamente queria saber se teria de cumprir ou não o serviço militar e se seria punido por ter sido refractário.
Estávamos, salvo erro, em fins de Maio-início de Junho e claro que o MFA tinha mais que fazer que pensar no assunto. Mas não seria difícil adivinhar que a sequência normal das coisas era a de que tudo seria resolvido "a bem".

Ele ficou informado e disse que iria esperar mais alguns meses para "ver em que param as modas".
Ora, qual não foi a minha surpresa quando, no início de Outubro e quando tive a primeira reunião da equipa docente da disciplina que iria leccionar em 1974-75... dei com ele na sala da reunião! O que se passara para acelerar o seu regresso?

A explicação surpreendeu-me mais que o facto em si, confesso!
No dia em que falara comigo, já perto da hora do almoço, descemos juntos no elevador e eu, moçoilo fardado oficial da Marinha, trazia comigo um livro que estava a ler como preparação das aulas do ano seguinte. Esse livro, uma edição de bolso da Flammarion, chamava-se... "Le Capital" e o seu autor era um tal de Carlinhos Marques, vulgo, em alemão, Karl Marx.
O homem ficou mais ou menos "estarrecido" por ver um oficial da Marinha --- ele não fazia ideia que eu era na altura, acima de tudo, professor universitário e militar apenas em part time...--- com "O capital" debaixo do braço e foi aí que pensou: "???? Um ofical das Forças Armadas a ler "O Capital" Isto mudou mesmo!... Vou mas é buscar as minhas coisas a Argel e voltar para Portugal o mais cedo possível". E assim fez!
Coisas da vida!

PS - "25 de Abril" sempre!

5 comentários:

  1. Era uma manhã agitada em Aileu. Dia de exames teóricos para carta de condução no Centro de Instrução. Ali chegavam nesse dia, ou já de véspera , jovens militares graduados de todas as unidades militares de Timor. Logo, muito cedo, apareceram uns camaradas vindos de Díli que informaram ter havido uma revolução. De imediato na messe de oficiais ligámos o rádio, e em onda curta sintonizámos a Rádio América que em serviço especial informava ter havido em Portugal um golpe de estado chefiado pelo General Spinóla . Mesmo assim: Spinóla.! ( guardo até hoje essa gravação). Houve um grande rebuliço entre o pessoal que ainda ensonado dormira na messe. Lembro-me do capelão militar (o Alferes Mota) dar saltos de contentamento. Andava sempre com um pequeno gravador a ouvir o “Grândola Vila Morena”. Só ao fim da tarde a Rádio Nacional de Timor deu a notícia. De resto, tudo em Timor continuou ao nível das forças armadas praticamente na mesma por largo tempo…

    RBF

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  2. Então o Prof. Serra era da Marinha de água doce? :-D

    Esse palácio da Cova da Moura foi, salvo erro, o local para onde foram depois encaminhados os "retornados", para que lhes fossem pagos adiantamentos dos salários ou pensões, a título de empréstimo.

    Um desses "retornados" era o administrador Adriano Gominho, ex-alferes e instrutor em Aileu, que RBF deve ter conhecido.

    Eu estava em Dili e foi um dia quase igual a tantos outros. Os efeitos só se fizeram sentir mais tarde.

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  3. ...De facto conheci a Família Gominho.Ele, grande rádio amador. Sei que há pouco se encontrava radicado em Izeda, Bragança.


    RBF

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  4. Ora vejam bem...

    http://www.islasdecaboverde.com.ar/san_nicolau/adriano_de_almeida_gominho/datos_do_autor.htm

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  5. E para um relato sobre a experiência pessoal do ex-administrador Gominho veja-se http://beirosdetimor.com.sapo.pt/

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