terça-feira, 26 de maio de 2009

Independência, ukun rasik an

Hoje é 20 de Maio, o sétimo aniversário do que oficialmente é a “restauração” da Independência mas para outros é ela própria, a dita cuja em si mesmo. Por toda Díli, tremulam as bandeiras de Timor-Leste; o povo caminha por entre várias comemorações. Há um ano atrás, sentei-me à beira do mar para ouvir uma noite de poesia e canto pelo sexto aniversário do nascimento doloroso de um sonho.
Este ano, segui a multidão e fui à feira comemorativa no Mercado Lama, antigo Mercado Municipal. Chamou-me a atenção a imensa quantidade de pessoas que lá foi, ontem e hoje; o tráfego ficou praticamente parado à volta do Mercado. Há sede de entretenimento, e, sobretudo, de novidades. A praia está vazia, o mercado cheio, embora seja a hora mais quente do dia e lá dentro todos estejam esvaindo-se em suor, ‘kosar suli’. Há belos objectos de artesanato à venda, mas, desta vez, meus olhos são atraídos por uma ‘moeda’ de valor mais interessante: a procura pelo conhecimento.

Muitos jovens acotovelam-se para ver filmes projectados na parede, outros (muitos) a ouvirem explicações: sobre o mapeamento geológico do país, sobre a conversão de energia solar em electricidade, as jazidas petrolíferas e de gás natural. Senhoras de kebaya e lipa, vindas de áreas rurais, a verem fósseis e perguntarem o que são essas estranhas ossadas de animais gigantes. Curiosidade, sede de informação, pouco acesso, poucas “janelas” para o mundo lá fora. Talvez essa seja uma das sementes que a independência trouxe: a incipiente percepção de que Timor é parte de um mundo maior, o desejo de compreendê-lo e aos seus fenómenos naturais.

Pergunto-me quem responderá às perguntas que surgirem, se é que haverá quem responda. Timor dos vários microclimas, aula de geologia a céu aberto, mar e montanhas de tirar o fôlego, trinta mil anos de história: tão pouco disso ao alcance de tantos aprendizes. Ao ver os jovens a aglomerarem-se para ver as amostras recolhidas pela equipa que faz o mapeamento geológico da ilha, fiquei a imaginar quantos pensariam naquilo ao voltar para casa. E quanto tempo demorará até que aqueles que moram em regiões rurais remotas comecem a ver com outros olhos o mundo em que vivem – olhos brilhantes de curiosidade.

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