Hoje vamos dar uma voltinha pela região. Ponto de partida: o forte de origem holandesa (?) que se situa junto à estrada. À sua frente estão as cabanas de venda de produtos do artesanato local e atrás a campa do antigo liurai local, José Nunes, o tal que pediu para ser sepultado à sombra da bandeira portuguesa (fizeram-lhe a vontade construindo uma campa com 'tejadilho' imitando a nossa bandeira). Depois de passar entre o forte e a campa vira-se à esquerda e começa-se a subir a montanha.
Vista aérea das montanhas de Maubara; ao centro e em baixo,
a foz da ribeira e a vila propriamente dita
a foz da ribeira e a vila propriamente dita
Depois do casario da povoação, a estrada "esfuma-se" :-) junto à ribeira e temos de atravessar esta a vau. Não há problema porque nunca a vi com água... "Pero que la tiene" de vez em quando, "la tiene"!...
Chegados à outra margem retoma-se a estrada alcatroada que foi reabilitada há poucos anos. Ali perto está a antiga residência do administrador, numa posição privilegiada que alguns já pensaram em transformar em pousada/restaurante.
Esta estrada era a existente (não alcatroada, claro...) no tempo da administração portuguesa e, depois de "trepar" pela montanha acima --- café a quanto obrigas... ---, descia do outro lado até ao vale da ribeira de Loes, de onde continuava até Batugadé, fronteira com o Timor indonésio. Infelizmente a maior parte deste troço descendente quase que desapareceu "comido" pela vegetação. O que foi, em parte, resultado do abandono a que foi votado depois de os indonésios terem construído a estrada que, ao longo da costa norte, liga Maubara à ribeira de Loes e à fronteira.
Depois de uma subida relativamente íngreme em que as curvas "em cotovelo" de quase 360º são mais que muitas, chega-se ao terreiro onde está a bandeira do Suco de Vatuvou e, um pouco mais acima, à escola local. Aí ou se segue quase em frente para ir até ao Vô Serra ou se desvia para a direita para ir até ao cimo do monte local, o Guguleur. Aí se encontram as antenas da Timor Telecom.
O caminho desde a escola até às antenas é uma sucessão de paisagens lindas. Primeiro é o arvoredo denso de um lado e de outro constituído por pés de café e pelas 'madres-del-cacau' que os protegem do sol directo. Depois começam a vislumbrar e a ver-se as paisagens quer para a costa norte quer para a ribeira de Loes e mais além, até quase à fronteira.
Árvore da sumauma; notem-se os 'frutos' em três estádios diferentes de maturação: verdes, já semi-abertos e expondo a totalidade do seu recheio
Entretanto chega-se à aldeia de Maubara-Lissa, onde se encontra a capela/gruta de Maria Auxiliadora.
De uma das vezes que fui para aqueles lados apareceu-me a certa altura, como que saída do nada, uma família que vinha caminhando por dentro do matagal, por caminhos só conhecidos pelas gentes da região. Um autêntico e literalmente falando "corta-mato". O pai vinha puxando o seu kuda onde vinha sentado o filho. Note-se que quem traz o saco de carga é... o pai e não o kuda...
Prosseguindo a caminho do alto da montanha passamos pela igreja de Samarapo. Ela era conhecida por ter o sino eventualmente mais antigo de Timor. Nele é bem visível a data de Abril de 1838.
Ora, por mais incrível que pareça, o sino foi roubado há cerca de dois anos. Consta que foi visto em Atambua... Ou o Estado timorense se mexe rapidamente ou então aparece um dia num antiquário de Bali ou, pior, é derretido...
Finalmente chegamos ao topo do monte Guguleur.
Coordenadas do topo do Guguleur e das antenas da TT
Vista em direcção à ribeira de Loes e à fronteira com a Indonésia;
a montanha que se vê a meio da foto é o já várias vezes referido Cailaco
Está na hora de regressarmos. O caminho agora já não tem grandes surpresas mas ficamos sempre deliciados quando a certa altura começamos a ver mais nitidamente não só a ilha indonésia em frente da região (Alor) como também trechos da costa norte de Timor Leste, nomeadamente a própria vila de Maubara, a lagoa do mesmo nome (para onde terão sido deitados vários corpos de timorenses massacrados pelas milícias em 1999) e o recortado da costa até Liquiçá "and beyond".
Muito interessante descrição, apenas mais uns pós…A base que apoia a imagem de Santa Maria Auxiliadora era forrada a patacas mexicanas coladas. Nenhuma, infelizmente, era marcada com a “Cruz de Cristo”. Sobre o sino, investiguei um pouco , chegando à conclusão ter sido fundido em Goa, pertencendo à Santa Caza da Misericórdia ( mesmo com z), tendo de lá vindo trazido provavelmente por missionários. Quanto ao furto, sabe-se quem foram os seus autores, desconheço, contudo, se foi recuperado.
ResponderEliminarO sino encontrava-se fracturado, mas não deixa de ser uma óptima peça museológica.
RBF
...Rectifico ...o Z era na Mizericordia
ResponderEliminarRBF
Parabéns e obrigado por mais uma bela e completa reportagem desse lindo Timor, devidamente complementada com as já habituais úteis e oportunas achegas de RBF.
ResponderEliminarSinceramente, acho que o IPAD devia editar as viagens, fotos e curiosidades do Prof. Serra em livro, mandando uma boa dose de exemplares para Timor. Certamente que seria um grande contributo para os jovens timorenses conhecerem um pouco melhor o seu próprio país.
Esses livros fariam parelha com os de RBF sobre os monumentos de Timor e eventualmente outros de outros autores (infelizmente poucos).
Muito bem descrito o pais a historia.
ResponderEliminarDepois de ler seus comentários e descrições fiquei desejoso de conhecer esse povo esse pais.
Sobre a moeda de 8 reais do México independente, com cruz para circular em Timor é na realidade muito rara gostaria de ter uma na minha colecção mas nunca encontrei a venda.
Parabéns pela qualidade da descrição.
Agostinho Machado
agmachado@hotmail.com
adanya jalan aspal dari maubara ke guguleur karena adanya project repeater Telkom,saya terlibat langsung dari survey awal,pembayaran ganti untung pepohonan yg dipotong, sampai pengawasan project nya hingga selesai
ResponderEliminaradanya jalan aspal dari maubara ke guguleur karena adanya project repeater Telkom,saya terlibat langsung dari survey awal,pembayaran ganti untung pepohonan yg dipotong, sampai pengawasan project nya hingga selesai
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