Domingo de sol preguiçoso em Díli, com ameaça de chuva à tarde. Dia de sentir o mar e lembrar, mais uma vez, o quanto esta terra é linda debaixo de água.
Timor já foi parte do mar, terra submersa até que a dança dos continentes a trouxe para a superfície. É difícil de imaginar que as altas montanhas foram um dia domínio de peixes e algas, vendo-as hoje majestosas sobre o mar, embora elas próprias sejam as cicatrizes que a ilha traz do seu turbulento nascimento e passado. Parte de uma região que nos lembra constantemente do quanto a Terra é activa, os sismos são frequentes cá. Este é o ‘Anel de Fogo’ do Pacífico.
Dois mares envolvem a ilha, Pacífico e Índico, Tasi-feto e Tasi-mane. Dois mundos diferentes, Norte e Sul, a encontrarem-se na mais bela de todas as praias: a areia branquíssima e inabitada de Jaco, no extremo leste, onde a água misturada dos dois oceanos é fria e transparente.
O mar em Timor, ao Norte e ao Sul, é casa de tartarugas, baleias, golfinhos e dugongos (sim, até dos raros dugongos). Um mundo encantado como apenas os mares do Sul o podem ser: águas cálidas e transparentes, cheias de vida em recifes de coral. Crocodilos marinhos vivem nos manguezais, reverenciados pelos Timoroan como ‘avós’. Fósseis vivos e um milagre da natureza em sua resistência à alta salinidade e capacidade de sobrevivência, já cá viviam antes de Timor ter se transformado em terra.
Mar que trouxe para cá alguns dos primeiros habitantes da ilha: nas escarpas rochosas de Lautein, pinturas rupestres mostram barcos e símbolos. Ainda hoje, bravos pescadores saem ao mar em pequenas canoas de madeira. Os flutuadores laterais lembram as canoas havaianas, embora as wa’ha sejam maiores e adaptadas ao mar aberto, como parte da cultura marítima a que pertencem, e os beiros sejam usados apenas para bordejar as praias. A afinidade pelo mar é um sentimento quase perdido, vivo apenas em Ataúro e nalgumas pequenas vilas, onde persiste a ligação com o ‘mobilis in mobile’.
Nadar no mar desta ilha é como entrar num jardim de esplêndida beleza. Timor é reconhecido como um dos melhores pontos de mergulho do mundo. Há pouca actividade humana no mar, e os recifes ainda sobrevivem, mesmo perto de Díli. Nas primeiras vezes, esquece-se momentaneamente de respirar, diante da surpresa do que está ao alcance dos olhos.
Nota: veja aqui o Timor debaixo de água. E aqui também.
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