domingo, 31 de maio de 2009

Cenas da vida quotidiana... na Areia Branca!...

(Quase) sem palavras...

Ai este marzão!...

Pôr do sol


Equipado para a caça submarina?!...

Fui muito feliz em Macau!... (a tatuagem reproduz os símbolos de Ou Mun / Macau)

Caídas do céu?

A criança diverte-se...

As crianças divertem-se...

A criança diverte-se...

As crianças hão-de divertir-se... Hopefully!... :-)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

"São uvas de Timor, senhor!..."

Cá estão elas! "Made in" algures em Liquiçá!


E quanto a praias ao longo da costa norte, a dificuldade é escolher... Esta é algures no distrito de Bobonaro.

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

A rota do sol... ou vice versa!...

Não, esta não é uma crónica sobre o ‘Timor Profundo’, nem sobre os sítios (quase) inacessíveis escondidos na montanha. É sobre a beleza que se vê ao longo de uma das estradas mais percorridas do país, a ‘via nacional’ que vai de Maliana, no Oeste, a Com, no Leste.

Numa semana, duas viagens para Oeste. Nada off-road, embora não recomendável para carros alemães feitos para estradas de veludo....

As praias sucedem-se ao longo da estrada, passando pela beleza estranha das árvores nuas da Lagoa de Maubara.

Lagoa de Maubara

Dentre as muitas frutas, peixes e tua mutin à venda na beira da estrada, chamam-me a atenção os cachos de uva. Pequenas, muito doces, com um sabor intenso, diferem agradavelmente das suas congéneres importadas. Questões económicas e realidades demográficas à parte, há muito que se dizer em favor da agricultura orgânica, principalmente no que diz respeito à gastronomia...E o preço é convidativo: 50 cêntimos, enquanto uvas importadas chegam a custar US$ 7 em Díli. Uma oportunidade a ser explorada pelos pequenos produtores de Liquiçá e Manatuto.

Falando em oportunidades, fiquei feliz ao ver novos e belos objectos de palha trançada (homan) em Maubara. Graciosas bijouterias e “wind chimes” à venda, um trabalho mais elaborado e de muito boa qualidade. Os preços, muito baratos, significam que são acessíveis aos seus compatriotas, e de facto tornaram-se um dos objectos mais comprados pelos timorenses.

Uma das praias mais belas de Timor fica em Atabae, Bobonaro. Formações rochosas esculpidas pelas ondas acumulam-se na areia, contra um mar muito azul. A praia leva a fama de ser perigosa. E o mar violento. Não, não é por causa dos famosos crocodilos que estão dando que falar desde que um foi visto nos arredores de Díli, e sim por causa das pedras. Ainda assim, é impossível passar por lá sem imaginar o quanto seria interessante montar um resort nos arredores, com uma vista daquelas do lado do mar, e das montanhas impressionantes em terra.

Muito arroz em Maliana e muito movimento nas terras/quintas; o verde das plantações (natar) é lindo de se ver, ainda mais no contraste com o céu azul, com as montanhas cobertas de nuvens ao longe. Ainda chove nas montanhas e formam-se pequenas quedas d’água nas encostas, que cintilam ao sol.

No caminho de volta, a beleza escondida da “Bubble Beach”, em Leohata. Entre as pedras, uma pequena nesga de areia negra aquecida pelas fontes geotérmicas transforma o mar numa deliciosa jacuzzi. Um dos segredos mais belos de Timor, a pequena praia de acesso difícil permanece ignorada pela população local e por quase todos, excepto os mergulhadores.

A Rota do Sol continua além de Díli, a Leste. A estrada serpenteia por entre manguezais e praias, num caminho mais escarpado e abrupto do que a Oeste. Ainda há pequenas florestas de coqueiros e palmeiras, dando uma ideia do que seria o Timor coberto de árvores de uma centena de anos atrás; todavia, a vegetação nas montanhas é escassa. A região é celebrada pelos sítios de mergulho que lá há; a visibilidade é enorme em locais como ‘one tree’ (que agora é ‘no tree’...a última árvore já se foi), uma pequena praia rochosa numa das curvas.

Logo após as palmeiras de Manleu (e o peixinho grelhado à beira da estrada...), fica a celebrada ‘Praia do Dólar’.

Praia do Dólar

Linda pelo contraste da areia branca com o mar transparente, e uma das praias mais frequentadas há alguns anos, hoje em dia permanece quase deserta. O nome deriva do facto de que, logo após a chegada dos milhares de ‘internacionais’ em 1999, se cobrava um dólar pela entrada. Agora, o preço a pagar é a ausência de sombra e o ‘allure’ de permanecer na água límpida: costumo associar as minhas lembranças de óptimos momentos ao efeito ‘pele vermelha’ no dia seguinte. Nesta última visita, a primeira coisa que notei foi um enorme tronco arrastado pelo mar. A paisagem ficou ainda mais bela com o contraste da madeira de um castanho suave contra o mar muito azul.

De lá até Com, as paisagens são lindas. É pena que a maior parte das pessoas vá directamente a Com, no máximo parando em Baucau. Parar um pouco vale a pena, nem que seja para tirar fotos apenas. As praias são lindas a meio do caminho; algumas vezes, vêem-se golfinhos a brincar perto da costa.

Praia perto de Laga

Poucas aglomerações humanas, algumas aldeias de pescadores apenas. Imagens de cartão-postal do Pacífico Sul: um mundo banhado de sol e paz, por entre campos de arroz e milho.

Até à próxima viagem!...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Independência, ukun rasik an

Hoje é 20 de Maio, o sétimo aniversário do que oficialmente é a “restauração” da Independência mas para outros é ela própria, a dita cuja em si mesmo. Por toda Díli, tremulam as bandeiras de Timor-Leste; o povo caminha por entre várias comemorações. Há um ano atrás, sentei-me à beira do mar para ouvir uma noite de poesia e canto pelo sexto aniversário do nascimento doloroso de um sonho.
Este ano, segui a multidão e fui à feira comemorativa no Mercado Lama, antigo Mercado Municipal. Chamou-me a atenção a imensa quantidade de pessoas que lá foi, ontem e hoje; o tráfego ficou praticamente parado à volta do Mercado. Há sede de entretenimento, e, sobretudo, de novidades. A praia está vazia, o mercado cheio, embora seja a hora mais quente do dia e lá dentro todos estejam esvaindo-se em suor, ‘kosar suli’. Há belos objectos de artesanato à venda, mas, desta vez, meus olhos são atraídos por uma ‘moeda’ de valor mais interessante: a procura pelo conhecimento.

Muitos jovens acotovelam-se para ver filmes projectados na parede, outros (muitos) a ouvirem explicações: sobre o mapeamento geológico do país, sobre a conversão de energia solar em electricidade, as jazidas petrolíferas e de gás natural. Senhoras de kebaya e lipa, vindas de áreas rurais, a verem fósseis e perguntarem o que são essas estranhas ossadas de animais gigantes. Curiosidade, sede de informação, pouco acesso, poucas “janelas” para o mundo lá fora. Talvez essa seja uma das sementes que a independência trouxe: a incipiente percepção de que Timor é parte de um mundo maior, o desejo de compreendê-lo e aos seus fenómenos naturais.

Pergunto-me quem responderá às perguntas que surgirem, se é que haverá quem responda. Timor dos vários microclimas, aula de geologia a céu aberto, mar e montanhas de tirar o fôlego, trinta mil anos de história: tão pouco disso ao alcance de tantos aprendizes. Ao ver os jovens a aglomerarem-se para ver as amostras recolhidas pela equipa que faz o mapeamento geológico da ilha, fiquei a imaginar quantos pensariam naquilo ao voltar para casa. E quanto tempo demorará até que aqueles que moram em regiões rurais remotas comecem a ver com outros olhos o mundo em que vivem – olhos brilhantes de curiosidade.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O audio-visual em Timor Leste e a língua portuguesa

A propósito de uma notícia da LUSA veiculada pelo TLN sobre "bibliotecas itinerantes" em Timor Leste lembrei-me de uma conversa muito interessante que mantive há alguns meses com o Max Stahl.


Dizia-me ele na altura que estava a tentar concretizar um projecto que incluía o uso intensivo de meios audio-visuais em Timor Leste. Pretende, nomeadamente, equipar algumas carrinhas 4x4 com material de projecção de filmes que lhe permita cobrir várias zonas do país passando filmes e documentários com, se bem me lembro, o duplo objectivo de dar Timor a conhecer aos timorenses --- a maior parte nunca saiu da sua zona de residência --- e de divulgar a língua portuguesa.
Ora aqui está um projecto que pode ser perfeitamente "casado" com o das "bibliotecas itinerantes": "Veja o filme mas leia o livro também!..." :-). Tal projecto deveria merecer o apoio das autoridades portuguesas de cooperação --- "ouviram", Profs. Gomes Cravinho e Manuel Correia?!... :-) --- e/ou da Fundação Oriente e/ou da Fundação Gulbenkian.
Vamos nessa?!...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Só mais uma coisinha sobre moeda...

A propósito da 'entrada' abaixo sobre as moedas que foram utilisadas em Timor Leste entre 1999 e 2001, lembrei-me de uma "estorinha".
Quando foram emitidas as moedas metálicas timorenses, cunhadas na Casa da Moeda-Imprensa Nacional (CM-IN), de Portugal, devido a um preço muuuuuito vantajoso que foi cobrado por esta à ABP, lembro-me de terem circulado pelo menos dois boatos sobre as novas moedas, em que um deles "mete" o escudo português.
O boato que referia este último foi o de que as moedas de 25 e de 50 centavos, feitas de uma liga amarela como o tinham sido algumas moedas de escudo, teriam sido cunhadas a partir do metal obtido com o derreter dos escudos. NÃO é verdade! A Casa da Moeda teve de comprar no mercado e ao preço deste a liga usada na cunhagem.
O outro boato --- que circulou pouco antes da entrada em circulação das novas moedas --- era o de que as moedas timorenses teriam numa das faces os símbolos representados nas americanas e na outra face... o escudo português!... :-)

Eita imaginação fértil!...

PS - já agora e porque julgo não ser segredo de Estado: a CM-IN cobrou à ABP apenas os custos da matéria prima usada na cunhagem das moedas e ofereceu a Timor todos os demais custos (design, mão de obra industrial, etc). Daí o seu preço ter sido imbatível.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

7 aninhos!...

Parabéns, Timor Leste!...

Ainda parece que foi ontem!... Sim! Parece que foi ontem que estendi um jornal no chão da minha sala, sobre ele derramei um frasco com terra que tinha trazido de Dili uns meses antes e... em pé sobre terra de Timor chorei, chorei, chorei ao ver a bandeira nacional de Timor Leste (linda, não é?!...) subir no mastro em Taci Tolu!...
Que o sonho se cumpra!

PS - desculpem o tom deste testemunho mais pessoal e lamechas que o habitual...
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terça-feira, 19 de maio de 2009

Mais uma sobre moeda

Esta 'entrada' tanto pode estar aqui como, eventualmente, no nosso blog sobre a economia de Timor Leste. Porém, dado que vamos "falar" principalmente sobre factos históricos --- que não "estóricos"... --- achámos por bem falar do assunto aqui.

O tema é o da situação que se verificou no domínio do uso da moeda logo após o fim da administração indonésia e antes de ser implementada a decisão de que todos os pagamentos em Timor Leste deveriam ser efectuados em dólares norte-americanos.

O fim da administração indonésia trouxe como consequência que deixou de existir no país uma entidade emissora que abastecesse o mercado em meios de pagamento aceites por todos. Esta situação "sem rei nem roque" foi o ambiente em que, nomeadamente pelas mãos das tropas estrangeiras "libertadoras", começassem a ser usadas as moedas de outros países.
Sendo australiano o maior contingente militar não é de estranhar que os dólares australianos (AUD) começassem a circular em Timor com alguma intensidade. A escassez de rupias e a grande instabilidade do câmbio da moeda indonésia na ocasião acabaram por ser peça importante da crescente disseminação do AUD; os "internacionais" e os que com eles tinham maiores relações económicas "trabalhavam" quase exclusivamente nesta moeda. Era o caso dos restaurantes, por exemplo.
Para este grupo de agentes económicos as rupias pouco mais serviam que para pagar as corridas de táxi --- 10 mil rupias, taxa que, no essencial, ainda hoje se mantém...

Neste ambiente de "libertinagem moedística" ( :-) ) apareceram também em circulação moedas de outros países, nomeadamente nas zonas de aquartelamento das suas forças militares. Foi o caso, por exemplo, da zona de Manatuto, onde chegaram a ser usados bahts tailandeses devido à presença, na região, de militares deste país.

Esta situação verificava-se apesar de no início de 2000 a UNTAET ter optado por declarar como moeda nacional o dólar americano (USD). A dificuldade em abastecer o mercado com esta moeda, porém, obrigou a ONU a condescender com a continuação do uso de outras moedas, o que só veio a terminar em fins de Julho de 2001 com a publicação (20 de Julho) do regulamento que exigiu o fim do uso de outras moedas que não o USD.

Este foi também o momento do fim do uso dos escudos portugueses que chegaram a ser postos em circulação pelo BNU, que entretanto tinha reaberto as suas portas em Timor pouco depois da saída dos últimos militares indonésios.
O veículo para a entrada em circulação dos escudos foi o pagamento a cerca de 18 mil funcionários da (ex-)administração indonésia de uma soma de cerca de 35 contos a cada um, num total de mais de 600 mil contos. Este dinheiro, correspondentes a cerca de dois meses do salário médio na época, saiu do Fundo de Solidariedade com Timor Leste entretanto criado em Portugal. Ele correspondeu a uma filosofia de a potência "de jure" se substituir à (agora ausente) potência "de facto" no pagamentos dos salários que não foram pagos por "fuga" do "patrão".
O dinheiro foi distribuído um pouco por todo o país, segundo o local de residência dos beneficiários e por isso se poderá dizer que o escudo português terá sido (eventualmente) a moeda mais espalhada por Timor logo a seguir à rupia indonésia.

É sabido que os dirigentes timorenses preferiam que fosse adoptado o escudo português como moeda nacional. Pressões da ONU (leia-se "FMI") no sentido da adopção do USD --- fundamentadas em argumentos de natureza teórica e prática --- e o então já em marcha processo de entrada de Portugal na zona Euro --- com o inevitável fim da utilização do escudo --- ditaram a "sentença de morte" quanto à pretensão dos timorenses.
Portugal, por sua vez e por causa da referida adesão ao Euro, não estava em condições de ir contra a vontada da ONU. Faze-lo seria abrir aporta para os escudos serem depois trocados por euros e a moeda de Timor passar a ser esta --- o que nas circunstâncias locais não parecia ser boa solução.

O que aconteceu aos escudos colocados em circulação? A moeda metálica terá sido, no essencial, recolhida e cambiada por dólares ou rupias --- e "recambiada" para Portugal. Quanto às notas, o seu destino terá sido o mesmo mas admite-se que uma (pequena) parte delas esteja hoje no fundo de algum baú de um katuas ou a recato nas uma lulik por entretanto terem sido "promovidas" a material lulik.

PS - esta 'entrada' beneficiou significativamente de uma ajuda de RBF. Obrigado.

domingo, 17 de maio de 2009

Misture-se àgua e crianças e...

... temos um fartote de risos (e a felicidade de um fotógrafo!)! Principalmente se estiver um malai por perto para tirar fotos... :-)
Querem ver como é verdade?!...


Mas também os há que, em determinadas circunstâncias, não têm nenhuma vontade de rir, principalmente se o sabão não for daquele "que não arde nos olhinhos"...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Desculpem mas não resisti a "puxar" este comentário para a "primeira página"... :-)

Em relação à 'entrada' anterior recebemos de RBF o seguinte comentário:

Não resisto a contar um outro episódio de cariz “religioso” passado também em 2000.
O P.e Melícias foi alertado que uma imagem de N. Senhora de Fátima tinha sido destruída na Igreja do Suai aquando o ataque das milícias, em 1999.
Num dos aviões então fretados, lá chegou um caixote contendo uma linda imagem de N.Srª de Fátima made in Portugal, com coroa metálica dourada, pedras coloridas e tudo. Ainda estávamos no final da época das chuvas e havia dificuldade em fazer entrega da encomenda no Suai. Falando exactamente disso com os pilotos da Força Aérea Portuguesa, que na altura tinham em Díli uma esquadra de helicópteros Allouette, logo dois oficiais se disponibilizaram a levar ao Suai a imagem no dia seguinte. Assim, logo de manhã, embarcou-se a custo o grande caixote no Allouette. Passadas uma duas horas fui procurado pelos mesmos pilotos que me comunicaram que mal chegaram ao Suai, chamaram alguém para ajudar a descarregar o volume. Quando o homem viu do que se tratava, como por encanto e de imediato se juntou uma multidão à volta do heli, sendo a estatueta literalmente arrancada das mãos do pessoal da Força Aérea, nada valendo avisos que deviam ter cuidado com o objecto e que desejavam um papel, um recibo de entrega. Qual quê! Logo ali se organizou uma procissão dirigindo-se para a Igreja entoando hinos e transportando a imagem ( que não era pequena) em ombros. Assim, desoladamente, não me podiam fazer prova da entrega.
Disse aos oficiais que a imagem estava entregue e, portanto não se preocupassem com o previsto recibo. Perguntei, contudo, se com a confusão gerada, a coroa, que era vistosa ,não teria caído. Eles ficaram mudos, entreolharam-se e lá balbuciaram um pouco comprometidos que não tinham ideia de terem reparado nesse pormenor. Acalmei-os, dizendo que iria pedir a alguém, para mais tarde verificar. Despedi-me agradecendo aos homens do ar o desempenho da missão.
Ao fim da tarde ( que em Timor não é muito tarde) lá apareceram de novo os oficiais pilotos. “-Olhe fulano, disse-me o mais graduado que era capitão, voltamos ao Suai pois não estávamos descansados por causa da coroa. Fomos à igreja e a imagem já lá estava e completa”.
Tempos mais tarde confirmei pessoalmente na Igreja do Suai que a coroa dourada,com pedras coloridas, encimava a cabeça da imagem de N.Senhora de Fátima, manufacturada em Braga.

RBF
PS.
Há muitas outras estórias de imagens religiosas que vieram de Portugal para Timor. Quando for de ocasião, voltaremos a falar disso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A propósito do 13 de Maio

É conhecida de todos a profunda devoção dos timorenses por Nossa Senhora de Fátima. Não há nenhum que venha a Portugal que sonhe, sequer, não ir ao Santuário e rezar pela família, pelos amigos e pelo país.
Esta "estorinha" passa-se em Março-Abril de 2000. A sorte de Timor Leste estava ditada e provavelmente o primeiro grupo de timorenses que veio a Portugal para frequentar uma acção de formação foi um grupo de cerca de 12-15 economistas que tiveram aulas no Instituto Nacional de Administração, em Oeiras. Tive a felicidade de ser professor deles e de, logo ali, criar algumas amizades que se têm mantido ao longo do tempo.
Ora, no primeiro fim de semana que tiveram livre estava previsto fazerem um passeio pela Grande Lisboa --- a "velha" "volta dos tristes": Sintra, Cascais, Estoril, etc.

Postos perante esta hipótese foram unânimes: "Não, obrigado! Nós queremos é ir a Fátima assistir à missa das 11h!". E foram, claro!
O pior foi quando embarcaram de regresso a Timor: a organização teve de pagar excesso de bagagem por causa... dos garrafões de água de Fátima que levaram!...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Não cairás em tentação!...

Pois... Mas eu caí!... Mais concretamente na tentação de reproduzir aqui, com a autorização do visado, fotografias das andanças em que se mete um dos meus melhores amigos timorenses, o José Teixeira. Que meramente por acaso (ou não?) já foi o "ministro do petróleo" de Timor Leste.
"Rapaz" de bom "cabedal" (leia-se "boa compleição física"...), tem a mania (louvável, aliás...) de não resistir a um bom pico! Leia-se "pico de montanha"...
Já "papou" quase tudo o que havia para "papar" em Timor Leste! Ele é o Ramelau (várias vezes), ele é (são...) os dois Matebians (Mane e Feto), ele é o pico de Ataúro. Enfim: o homem é um trepador nato!...


Pois com a autorização dele não resisti à tentação de reproduzir aqui três fotos da sua aventura no pico Loilaco, da cadeia do Cailaco, em Bobonaro. Para mim, a montanha mais fascinante de Timor Leste devido ao facto de as suas encostas serem quase a pique. Como se demonstra nas fotos junto!...


É o único membro de um órgão de soberania (é deputado ao Parlamento Nacional) a percorrer o país de lés a lés. Isto é, da direita para a esquerda e de baixo para cima... :-) E até de baixo para baixo, pois ele faz mergulho!... Aquela máquina!...
Parabéns, José, e obrigado por me deixares usar as fotos aqui para divulgar recantos tão especiais do teu país.

Note-se quão estreito é o cimo do monte e quão íngremes são ambas as encostas!

domingo, 10 de maio de 2009

Apanhados!... (ou "Tadinhos!...")

Militar australiano sofre!... :-)
Ainda durante a primeira época de estada de forças militares (incluindo australianas) em Timor, nos tempos idos da UNTAET, os coitados eram vítimas da troça de toda a gente por terem de andar sempre armados. Fossem para onde fossem, lá ia a arma com eles. Mesmo em "missões" mais "civis", como a de fazer um jogging para manter a forma e não engordar devido ao cansaço de não fazerem nada... Eles e elas ("militaros" e "militaras") passavam na estrada para a Areia Branca esbaforidos mas... armados de espingarda! Devia ser para o jogging fazer ainda mais efeito...
A certa altura "aligeiraram" a exigência e passaram a... andar de pistola em vez de espingarda. Mas lá ir para a rua sem uma "canhota" é que não!...

Nesta segunda estada de militares australianos, posterior à confusão de 2006, a regra continua. E então é ve-los a irem para a praia de shorts mas de espingarda na mão ou a tiracolo. Até nas esplanadas dos cafés, quando se sentam para beberem o inevitável cappucino e/ou "baterem-se" com uma fatia de bolo (bolo de chocolate? Sai uma fatia grandona aqui para a minha 'parceira', sff!..), eles andam armados, arrumando o "material" no chão.

Uma vez estava numa esplanada da Areia Branca e dei com uma cena de que a foto é uma "amostra". Chegou um grupo de "aussies" devidamente equipados... para o banho! Mas de espingarda às costas ou na mão. Depois apareceu um --- o único, tadinho!... --- completamente fardado. Era o desgraçado a quem tinha saído em sorte ficar de olho no "material" dos camaradas (honi soît qui mal y pense!...).
Estes foram todos a banhos e o triste ficou sentado "à coca", não fosse alguma das "bichinhas" desaparecer por livre e espontânea vontade ou por vontade alheia.
A dado passo, certamente por ter ficado com a cabecinha a remoer pensando que fazia uma triste fugura ali sentado a tomar conta das espingardas, resolveu pegar na toalha de praia e tapa-las.

Que figuraço!... E tudo isto porque, para não pagarem impostos na Austrália sobre os rendimentos auferidos em Timor, o país está definido, para eles, como zona de guerra. Cobrem-se de ridículo por serem os únicos que andam armados em todas as circunstâncias mas ao menos poupam uns tostões nos impostos! Tadinhos!... "East Timor? War zone!..."

sábado, 9 de maio de 2009

Maubara et ses environs... (ler com sotaque 'franciú'! :-) )

Noutra 'entrada' falámos do artesanato de Maubara e já falámos, noutras ocasiões, do Vô Serra e da sua casa e seus café e ananazes nas montanhas de Maubara, concretamente no suco de Vatuvou --- será que o nome deriva de " 'vais tu ou vou eu' passear o cão?" :-)

Hoje vamos dar uma voltinha pela região. Ponto de partida: o forte de origem holandesa (?) que se situa junto à estrada. À sua frente estão as cabanas de venda de produtos do artesanato local e atrás a campa do antigo liurai local, José Nunes, o tal que pediu para ser sepultado à sombra da bandeira portuguesa (fizeram-lhe a vontade construindo uma campa com 'tejadilho' imitando a nossa bandeira). Depois de passar entre o forte e a campa vira-se à esquerda e começa-se a subir a montanha.

Vista aérea das montanhas de Maubara; ao centro e em baixo,
a foz da ribeira e a vila propriamente dita


Depois do casario da povoação, a estrada "esfuma-se" :-) junto à ribeira e temos de atravessar esta a vau. Não há problema porque nunca a vi com água... "Pero que la tiene" de vez em quando, "la tiene"!...
Chegados à outra margem retoma-se a estrada alcatroada que foi reabilitada há poucos anos. Ali perto está a antiga residência do administrador, numa posição privilegiada que alguns já pensaram em transformar em pousada/restaurante.
Esta estrada era a existente (não alcatroada, claro...) no tempo da administração portuguesa e, depois de "trepar" pela montanha acima --- café a quanto obrigas... ---, descia do outro lado até ao vale da ribeira de Loes, de onde continuava até Batugadé, fronteira com o Timor indonésio. Infelizmente a maior parte deste troço descendente quase que desapareceu "comido" pela vegetação. O que foi, em parte, resultado do abandono a que foi votado depois de os indonésios terem construído a estrada que, ao longo da costa norte, liga Maubara à ribeira de Loes e à fronteira.

Depois de uma subida relativamente íngreme em que as curvas "em cotovelo" de quase 360º são mais que muitas, chega-se ao terreiro onde está a bandeira do Suco de Vatuvou e, um pouco mais acima, à escola local. Aí ou se segue quase em frente para ir até ao Vô Serra ou se desvia para a direita para ir até ao cimo do monte local, o Guguleur. Aí se encontram as antenas da Timor Telecom.

O caminho desde a escola até às antenas é uma sucessão de paisagens lindas. Primeiro é o arvoredo denso de um lado e de outro constituído por pés de café e pelas 'madres-del-cacau' que os protegem do sol directo. Depois começam a vislumbrar e a ver-se as paisagens quer para a costa norte quer para a ribeira de Loes e mais além, até quase à fronteira.

Árvore da sumauma; notem-se os 'frutos' em três estádios diferentes de maturação: verdes, já semi-abertos e expondo a totalidade do seu recheio

Vista da estrada até às antenas; repare-se nas copas das "madres-del-cacau"

Entretanto chega-se à aldeia de Maubara-Lissa, onde se encontra a capela/gruta de Maria Auxiliadora.


De uma das vezes que fui para aqueles lados apareceu-me a certa altura, como que saída do nada, uma família que vinha caminhando por dentro do matagal, por caminhos só conhecidos pelas gentes da região. Um autêntico e literalmente falando "corta-mato". O pai vinha puxando o seu kuda onde vinha sentado o filho. Note-se que quem traz o saco de carga é... o pai e não o kuda...


Prosseguindo a caminho do alto da montanha passamos pela igreja de Samarapo. Ela era conhecida por ter o sino eventualmente mais antigo de Timor. Nele é bem visível a data de Abril de 1838.


Ora, por mais incrível que pareça, o sino foi roubado há cerca de dois anos. Consta que foi visto em Atambua... Ou o Estado timorense se mexe rapidamente ou então aparece um dia num antiquário de Bali ou, pior, é derretido...

Finalmente chegamos ao topo do monte Guguleur.

Coordenadas do topo do Guguleur e das antenas da TT

Vista em direcção à ribeira de Loes e à fronteira com a Indonésia;
a montanha que se vê a meio da foto é o já várias vezes referido Cailaco


Está na hora de regressarmos. O caminho agora já não tem grandes surpresas mas ficamos sempre deliciados quando a certa altura começamos a ver mais nitidamente não só a ilha indonésia em frente da região (Alor) como também trechos da costa norte de Timor Leste, nomeadamente a própria vila de Maubara, a lagoa do mesmo nome (para onde terão sido deitados vários corpos de timorenses massacrados pelas milícias em 1999) e o recortado da costa até Liquiçá "and beyond".


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ainda sobre a "pataca mexicana" e sua circulação em Timor

[NOTA INTRODUTÓRIA: O texto abaixo não é da autoria dos dois responsáveis habituais por este blog mas sim de um convidado a quem agradecemos a disponibilidade para colaborar connosco. Que esta "porta" agora aberta seja aproveitada por outros desde que se integrem completamente no espírito da "coisa": contar "estórias" que nos ajudem a conhecer a história de Timor (seja ela mais passada ou mais presente), os seus locais e as suas gentes.]




Talvez o tipo de moeda mais rara das que se conhecem ter circulado em Timor, seja a de 8 (ocho) reales mexicana , marcada, que se vê na foto acima. Mercê do seu valor fiduciário em prata --- cerca de 27 gramas--- tiveram boa aceitação, principalmente na Ásia. Aqui foi moeda circulada em transacções internacionais, tanto o dólar de Hong-Kong, como o florim holandês, mas a que mais se vulgarizou foi, sem dúvida, a conhecida “ pataca” ou o” dólar mexicano”, os “8 reales”, ou ainda chamado ” real de ocho “.

Em Timor foi aceite normalmente por todo o Séc. XIX, sendo amealhada pelos comerciantes, principalmente chineses ,que a marcavam com os seus sinetes para atestar comprovada qualidade. Ontem, tal como hoje, os falsários foram presença constante, e mesmo actualmente os bancos e casas bancárias na Ásia, apõem um pequeno carimbo nas notas de dólares americanos, tal como os seus antecessores fizeram com a moeda em prata.

O problema monetário em Timor, foi uma constante dor de cabeça para os diversos governadores, só se aliviando, mercê de alguma estabilidade, durante um período bem definido pós Segunda Guerra, quando a moeda se denominou “escudo”, tendo paridade total ou parcial com o “escudo “de Portugal.

Nos finais do Séc. XIX e com o Governador Celestino da Silva, tentou-se controlar a circulação da moeda, necessariamente assegurando uma melhor cobrança da carga fiscal, até porque muitos dos impostos aduaneiros, que constituíam a principal fonte de receitas do Governo da Província, eram saldados com moeda contrafeita, havendo relutância na sua aceitação por parte dos comerciantes, sendo o florim holandês preferido; moeda que o governo não possuía em quantidade. Foram então publicadas portarias (1894 e 1900) que determinavam apenas como válida e aceite moeda em circulação se marcada com punção exclusiva do Governo. Apesar de por duas ocasiões se ter regulamentado essa matéria, o certo é que tal medida não surtiu efeito, pois os negócios continuaram a efectuar-se com moeda não marcada, tal era a força do lobby comercial chinês e a inviabilidade de controlar as moedas face às transacções comerciais com o exterior. Assim, veio -se a abandonar essa medida de marcação ( 1901), subsistindo poucos milhares de moedas em circulação com a “Cruz de Cristo” como marca governamental.

Passados pouco anos foi introduzido o papel moeda privativo da Província, bem como se generalizou o uso de outras moedas, tais como a libra inglesa e o dólar americano. Contudo liurais e outros nobres, arrecadaram grande quantidade de moeda mexicana em prata, sendo refractários ao uso papel moeda. Usavam-na nos seus dotes, impostos e em ourivesaria, bem como na aquisição de búfalos para os frequentes estilos e outras cerimónias tradicionais.

Pouco antes da invasão de Timor em 1941/42 pelos australianos e holandeses ,seguidos pelos japoneses, o Banco Nacional Ultramarino remeteu para Lisboa várias toneladas de amoedado em prata. Contudo, muitos milhares de exemplares ficaram por Timor, agora mais para uso na joalharia, derretendo-se a prata ,e daí confeccionando-se novos e atraentes objectos ( luas, sóis, pulseiras, etc,).

Mesmo em1975, apesar de não serem vulgares, lá iam aparecendo algumas patacas não chanceladas, fazendo parte dos “tesouros” dos reinos, ou dos pecúlios familiares, servindo também como parte importante dos dotes de casamento ( barlaques).

Com a guerra civil e posterior invasão indonésia, houve uma fuga de muita população para o Timor Ocidental, onde mesmo junto à fronteira comerciantes de ocasião exploravam os aterrorizados refugiados, comprando ao preço que queriam muitos dos seus pertences que transportaram na fuga , nomeadamente libras em ouro e muitos quilogramas de patacas mexicanas.

A permanência das forças armadas indonésias - como em todas as guerras -trouxe muita morte, dor e desolação. Timor foi completamente saqueado e muitas das casas lulics, repositórios das tradições culturais e riquezas, foram vandalizadas, roubando o invasor seus valiosos espólios, deles fazendo parte moedas em ouro e prata. Voltando a mesma onda, agora mais destruidora, a acontecer em 1999 com a devastação do território por parte das forças de milícias pró - integração na Indonésia.

Hoje em dia, em Timor-Leste, a pataca mexicana, outrora relativamente vulgar, é muito escassa. Ainda há alguns timorenses que guardam as sobreviventes como raridades que o são.

De resto, as que aparecem no “Mercado dos Tais”, ou oferecidas pelos vendedores de rua, são, quase todas, falsificações em alpaca ou latão , quando muito, banhadas a prata.

Só tive na mão este exemplar que possuo, pois, não obstante ter estado vários anos em Timor, nunca lá encontrei igual. Por curiosidade este foi adquirido na Nova Zelândia há poucos anos.

RBF

segunda-feira, 4 de maio de 2009

E já que falámos em moedas...

... aqui vai a reprodução da que eu considero ser a nota mais bonita que circulou em Timor durante a administração portuguesa: uma nota de cinco patacas para circular em Macau mas a que foi aposta a sobrecarga "Timôr".


Datada de 1924, parece que terá entrado em circulação em Timor como solução de recurso apenas após o reassumir da administração portuguesa da ex-colónia depois do fim da Segunda Grande Guerra. Mas quem sabe destas coisas (e de muuuuiiittas mais) é o RBF... :-)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Continuando a falar de artesanato...

Característico do artesanato timorense é, também, um vasto e diferenciado conjunto de peças de "prata timorense" obtida a partir de moedas de prata antigas --- principalmente "patacas" mexicanas do séc. XIX, então a moeda de referência no sudeste asiático onde eram introduzidas via Filipinas --- que são derretidas e misturadas com outro metal, principalmente e se não erro, a alpaca de outras moedas, principalmente portuguesas.


Este tipo de artesanato aparece principalmente em Dili e na zona de Ermera e inclui peças tão variadas como pulseiras, caixas de jóias, etc. Veja abaixo alguns exemplares:

Uma curiosidade em relação a duas das peças fotografadas: o kaibauk que está na primeira foto é o que serviu de base ao desenho da face comum das moedas metálicas correntes de Timor Leste; a última foto é de uma peça em exibição no Museu do Oriente, em Lisboa, e está identificada como sendo muito antiga e originária da região de Atsabe (terá sido pertença de um liurai).