sábado, 28 de fevereiro de 2009

Das flores - 2

Há alguns dias atrás falou-se aqui "Das flores" e da paixão dos timorenses por elas. Curiosamente, porém, a foto que ilustrou essa 'entrada' era de uma montanha de Timor, viçosa mas não florida... :-)
Reparemos o "crime de lesa Pátria" de não termos tornado esse 'post' num verdadeiro canteiro de flores fazendo-o agora (ver abaixo; clicar para aumentar as fotos):


Flor do cafeeiro - linda, não é? É aqui que começa a sua 'bica'...

Flor da "árvore de Santo António";
há-as em várias cores: branco, rosa, amarelo e... todas elas


"Bigodes de gato", claro!...

"Acacia rubra": linda!

O nome não sei mas é linda e tem uma característica interessante:
normalmente só há uma flor branca aberta;
só depois de ela murchar é que abre outra de um outro 'alvéolo' castanho


Pois: esta, como filha de Deus que é, também deve ter um nome... :-)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Lembra-se da Natália?

Lembra-se da Natália, a menina timorense que foi operada no ano passado no Porto e que regressou a Dili por alturas do Natal?
Se bem se lembra o tumor que tinha no cérebro foi-lhe diagnosticado no navio-hospital americano Mercy, que esteve algumas semanas fundeado ao largo de Dili dando consultas médicas (vd foto abaixo; clique para aumentar).

Navio-hospital Mercy fundeado ao largo de Dili (Julho/2008)


O navio "nasceu" originalmente (1976) como navio-tanque (e esta, hem?!...) e só mais tarde (1985) foi convertido em navio-hospital da marinha americana.
Utilizado na guerra do Golfo, ele é normalmente utilizado em visitas "de cortesia" a vários locais do mundo, particularmente no Sudeste Asiático (a sua base é San Diego, na Califórnia). A missão (4 meses) que o levou a Timor Leste estendeu-se a outros países, incluindo, entre outros, as Filipinas, o Vietname e a Papua-Nova Guiné, para onde seguiu depois de deixar Dili.

As características deste navio como hospital são impressionantes: um total de mil (sim! 1000 !...) camas e de 12-blocos operatórios-12 ! Isto faz dele, salvo erro, um hospital com maior capacidade de resposta que o maior hospital português, o Santa Maria. O número de especialidades que pode atender é, no entanto e provavelmente, menor que o deste último.

Fisicamente são 260 metros de comprimento e 32 metros de largura!
Durante a estada em Dili estiveram trabalhando a bordo um médico e um enfermeiro portugueses. É usual o navio receber médicos de outras nacionalidades durante as suas acções de visita a vários países.

Veja mais sobre o navio Mercy aqui e aqui, por exemplo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

De volta ao mercado (Taibessi, em Dili)

Numa das entradas anteriores apresentámos uma 'reportagem' sobre uma ida ao mercado de Lospalos.

Desta vez 'vamos' ao de Taibessi, em Dili --- sempre através de fotos.

Vista exterior (parcial) do mercado;
em baixo, uma rua interior do mercado

Como em todos os mercados do género,
montinhos disto, montinhos daquilo...


Vendedora de alfaces
Vendendo carne. As moscas são oferta!

Venda de areca e de tabaco
Será moda nova? (vestido de alfaces?)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Manatuto e seu artesanato

Manatuto é o único distrito de Timor Leste que atravessa o país da costa à contra-costa, i.e., que liga as costas norte e sul da ilha.
A cidade de Manatuto está a cerca de 70 kms a nascente de Dili e espraia-se numa planície que começa (a ocidente) no "Subão" e se estende, para oriente, por arrozais que produzem uma parte importante do arroz made in em Timor Leste.

O "Subão": uma estrada íngreme desde o nível do mar até aos cerca de 500 m em poucos quilómetros e muitas curvas

Vista para poente da cidade de Manatuto do seu ponto mais alto, onde está a estátua de Santo António, o padroeiro da cidade. Ao fundo, tocando as núvens, o "Subão"

Vista do mesmo local mas para nascente: arrozais quase a perder de vista

A estátua do padroeiro da cidade de Santo António de Manatuto

Manatuto é especialmente conhecido pelos seus barros, utilitários uns, mais artísticos e decorativos outros.

Bilha

Presépio

Mealheiro sob a forma de búfalo

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um dia no mercado

Seja onde for por esse mundo fora, os mercados, particularmente os das zonas rurais (mas também os das cidades), são uma verdadeira montra da vida de um povo.
Lá se encontram todos, seja os que vão para vender ou comprar seja os que vão apenas "dar uma voltinha ao mercado" para ver a animação que sempre têm.
Percorrer os mercados de Dili é uma verdadeira lição sobre a vida dos timorenses. Aquele que gosto mais de percorrer é o de Taibessi, ali mesmo à saída da cidade para sul, a caminho de Lahane e, mais para sul, de Aileu. Os outros dois mercados mais importantes são o de Comoro e o de Becora. O que está junto da Pertamina tem vindo a aumentar.

Mas creio que é nos mercados rurais que melhor se sente o pulsar da população no seu dia-a-dia. As imagens abaixo são do mercado de Lospalos. Quase dispensam palavras.

Deitando contas à vida... (não reparem no meio envolvente que ela também não...)

As noites e as manhãs no planalto de Lospalos podem ser "frescas" e não há nada como um agasalho para esperar os fregueses e vender os montinhos dos vários produtos.
(Balança? O que é isso?!... É um signo, não é?!...)

Vendendo tabaco tradicional

Há vendedores de tudo um pouco e vendedores e 'vendedores'... Incluindo aqueles que começam cedo a praticar a difícil 'arte' da "bisca lambida". De pequenino se alimenta o gosto pelo jogo, bem característicos de muitos dos povos asiáticos...


Tal como há os que, orgulhosos do seu galo de briga, o passeiam carinhosamente para ele apanhar ar e também ver a paisagem... E, claro, ser visto! É que a plumagem bem merece ser apreciada.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

"Fúria das Montanhas"

É conhecida a ligação entre os timorenses e os seus kudas, os cavalos de pequena estatura --- assim mais ou menos à medida dos homens da terra... --- que se colam às montanhas para as trepar pelas veredas estreitas por onde os seus donos os levam.
Mas não é de um kuda que vos quero falar hoje. Quero falar, isso sim, de uma "coisa" completamente diferente: de um cavalo c-a-v-a-l-o!... E que cavalo! Aliás, "o" cavalo!
Cada vez que o vejo à beira-mar em Dili, nos seus passeios de fim de tarde (cerca das 18h) no areal da praia frente à casa do "bispo amo" e do jardim de Nossa Senhora da Conceição, não consigo tirar os olhos dele, tal a beleza do animal e o seu porte.


De um preto "acastanhado" ou de um castanho muito escuro, quase preto, lustroso , de olhar vivíssimo, "Fúria das Montanhas" é o seu nome --- apesar de nunca ter posto "pé" nas montanhas, já que se trata de "bicho fino", usado apenas em corridas quer em Timor quer, por vezes, na Indonésia. De onde é, aliás, proveniente, tendo sido trazido para Dili pela mão do seu dono, o conhecido "Bigodes", ex-dono de um dos restaurantes mais conhecidos de Dili graças à sua mestria na confecção de mariscos: "vamos ao 'Bigodes' comer camarão?!..." era desafio costumeiro há uns bons anos atrás, nos tempos "heróicos" dos primeiros anos do Timor Leste pós-Indonésia, em que os restaurantes dignos desse nome se contavam pelos dedos de uma mão --- e ainda sobreva um ou outro...


Adora a água e num dos muitos dias em que o vi fazendo exercício e a refrescar-se no mar tirei-lhe estas fotos, deitado dentro de água para se aproveitar da sua frescura.


E, depois de se levantar num movimento que diz bem da sua "garra" e força, deitou-se na areia, rebolando-se, feliz e contente, qual gaiato que adora encher-se de areia nem que seja como desculpa para depois voltar para a água. Ó felicidade!...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

'Tais' de Ainaro

Já referimos que cada zona do país tem determinados desenhos para os seus 'tais' que os tornam específicos dessa região, autêntica "imagem de marca".
Assim como os 'tais' de Oecussi são caracterizados --- pelo menos os mais característicos do distrito --- pela presença quase omnipresente de galos de combate, também os 'tais' de Ainaro são fáceis de distinguir dos outros pelas suas características "barras" dos 'tais feto' (bordadas na parte de baixo dos 'tais' de mulher, cosidos em 'tubo'), que não aparecem em mais nenhum distrito.
Abaixo podem ver várias dessas "barras"dos ´tais´de Ainaro:




terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Timor no Museu do Oriente

Arte e cultura dos povos de Timor na colecção do Museu do Oriente

O Museu do Oriente dá a conhecer a “Arte e cultura dos povos de Timor” através de uma visita-conferência à exposição Presença Portuguesa na Ásia, que se realiza no dia 28 de Fevereiro, às 11h00, orientada por Alexandre Oliveira, especialista que colaborou na elaboração do catálogo.

O Museu do Oriente inclui, no seu espólio, objectos de todas as áreas de produção tradicional de Timor – das madeiras aos metais preciosos, passando pela olaria e pela tecelagem – o que permite entrever a vida de um povo nos seus diferentes domínios, desde o quotidiano doméstico às representações rituais de poder e do sagrado e, também, pela vida além-túmulo.

A actividade tem o preço de cinco euros e é necessária marcação.

“Arte e cultura dos povos de Timor” – Alexandre Oliveira

28 de Fevereiro – Sábado - 11h00 - Piso 4 - Preço: € 5,00

Museu do Oriente

Avenida Brasília - Doca de Alcântara (Norte) - 1350-362 Lisboa - Tel.: 213 585 200 E-mail: info@foriente.pt

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Timor e o mar

Hoje o dia amanheceu coberto de sol.

Domingo de sol preguiçoso em Díli, com ameaça de chuva à tarde. Dia de sentir o mar e lembrar, mais uma vez, o quanto esta terra é linda debaixo de água.

Timor já foi parte do mar, terra submersa até que a dança dos continentes a trouxe para a superfície. É difícil de imaginar que as altas montanhas foram um dia domínio de peixes e algas, vendo-as hoje majestosas sobre o mar, embora elas próprias sejam as cicatrizes que a ilha traz do seu turbulento nascimento e passado. Parte de uma região que nos lembra constantemente do quanto a Terra é activa, os sismos são frequentes cá. Este é o ‘Anel de Fogo’ do Pacífico.

Dois mares envolvem a ilha, Pacífico e Índico, Tasi-feto e Tasi-mane. Dois mundos diferentes, Norte e Sul, a encontrarem-se na mais bela de todas as praias: a areia branquíssima e inabitada de Jaco, no extremo leste, onde a água misturada dos dois oceanos é fria e transparente.

Ilhéu Jaco, na ponta leste da ilha. Areia mais branca não há...

O mar em Timor, ao Norte e ao Sul, é casa de tartarugas, baleias, golfinhos e dugongos (sim, até dos raros dugongos). Um mundo encantado como apenas os mares do Sul o podem ser: águas cálidas e transparentes, cheias de vida em recifes de coral. Crocodilos marinhos vivem nos manguezais, reverenciados pelos Timoroan como ‘avós’. Fósseis vivos e um milagre da natureza em sua resistência à alta salinidade e capacidade de sobrevivência, já cá viviam antes de Timor ter se transformado em terra.
Mar que trouxe para cá alguns dos primeiros habitantes da ilha: nas escarpas rochosas de Lautein, pinturas rupestres mostram barcos e símbolos. Ainda hoje, bravos pescadores saem ao mar em pequenas canoas de madeira. Os flutuadores laterais lembram as canoas havaianas, embora as wa’ha sejam maiores e adaptadas ao mar aberto, como parte da cultura marítima a que pertencem, e os beiros sejam usados apenas para bordejar as praias. A afinidade pelo mar é um sentimento quase perdido, vivo apenas em Ataúro e nalgumas pequenas vilas, onde persiste a ligação com o ‘mobilis in mobile’.

Foto de Seppo Ihalainen recolhida aqui

Nadar no mar desta ilha é como entrar num jardim de esplêndida beleza. Timor é reconhecido como um dos melhores pontos de mergulho do mundo. Há pouca actividade humana no mar, e os recifes ainda sobrevivem, mesmo perto de Díli. Nas primeiras vezes, esquece-se momentaneamente de respirar, diante da surpresa do que está ao alcance dos olhos. O mar cria um feitiço constante: há algo de mágico em caminhar pela estrada na maré alta, olhar para o azul turquesa da água, a areia branca, os raios do sol ao entardecer a refletirem-se nas ondas, ouvir o som do seu movimento contra as pedras e o ruído distante da arrebentação contra o recife, ser borrifada pelo spray de uma onda mais alta. Entrar na água e descobri-la quente e agradável, e, ao abrir os olhos, descobrir um mundo tão diferente da terra, que, geração após geração, fascina aqueles humanos que, filhos da terra firme, ainda assim desejariam serem crianças de um mar sem fim.

Nota: veja aqui o Timor debaixo de água. E aqui também.

Do alto das montanhas

Timor pode ser gelado. Coberto de névoa. Com florestas de ciprestes e pinheiros.

Onde mora esse Timor tão diferente das praias dos mares do Sul? Dos atóis e das lagunas onde o mar é cálido e transparente? Esta é a parte mágica. E da “contradisaun”...


Sai-se da estrada costeira, a “via expressa” que conecta Maliana, no Oeste, a Com, no Leste, em qualquer altura entre Díli e Manatuto. Segue-se para o Sul, em direcção ao interior, e, em menos de 10 minutos, qualquer uma das estradas íngremes leva-nos para as montanhas. E, de repente, estamos num mundo totalmente diverso: uma sucessão vertiginosa de curvas, à margem de vales e precipícios. Um mundo verde, húmido, onde uma aragem fria é presença permanente.

Uma das estradas vai dar em Aileu, de lá indo a Ainaro e Manufahi. É o caminho do Ramelau e de Hatobuilico, a pequenina vila nos contrafortes da montanha mais alta de Timor. Ramelau, terra dos cavalos selvagens a caminhar pela montanha, teto da ilha.

A região de Ainaro traz surpresas. À volta da vila de Maubisse, ainda restam exemplares da flora trazida durante a época da colonização. Frutas europeias, como nêsperas e pêssegos, são vendidas à beira da estrada nos mercados. São quase desconhecidas da maioria dos timorenses, e há poucos compradores interessados. Uma pena, pois haveria muitos em Díli, a julgar pelo preço que custam nas (raras) vezes em que aparecem nos supermercados!

Uma outra estrada, menos palmilhada, mas que leva a um destino não menos surpreendente, corta Manatuto pelas montanhas. É o caminho de Soibada, que leva ao litoral Sul. Uma subida de muitas curvas, que vai dar em Laclubar, no alto da montanha, antes de descer serpenteando pelas montanhas para Natarbora.
A viagem até Laclubar não é exactamente o tipo em que se descansa: ao contrário, veículo e passageiros saltam pelos buracos, em meio a vales profundos e uma sucessão de montanhas, numa estrada flanqueada por goiabeiras. Laclubar, visível desde longe, surge entre as curvas como uma distante casa de bonecas.
A vila é um sítio aprazível. Ruas íngremes com casas grandes, algumas da época da colonização portuguesa. Flores e árvores frutíferas por toda a parte, alguns pés de café. A vila pode estar perdida no tempo e longe de tudo, mas a sua aparência é organizada e limpa. É uma terra de generosa hospitalidade: somos os amigos dos amigos da família, mas recebidos como reis. No fim da tarde fria, a chuva cai mansa lá fora, e sentamo-nos para um café quente com bananas fritas, na companhia da calma gente Idaté. O som das suas vozes é suave, as palavras mansas. Caso após caso, história após história, reminiscências de outras viagens vêm e voltam, e em pouco tempo encontram-se conhecidos em comum. A mágica de Timor; o mundo é pequeno, e nós, que viemos de muitos diferentes cantos dele, encontramo-nos neste cruzamento do Pacífico com o Índico.

Ao caminhar pelas ruas ao cair da tarde, encontramos um senhor:
-Para onde vais?
-Vou a Funar.

Funar é uma aldeia no alto da montanha, aonde se chega por uma trilha de cerca de 10km, que margeia precipícios e cruza uma ribeira. Desafio que poucos de nós fariam por esporte, e que muitos fazem sem pensar, todos os dias, em Laclubar, em Flecha, em Turiscai, em Bobonaro...


Brava gente das montanhas: ao andar pelas estradas antes do romper do dia, quantos não encontramos a carregarem os seus pertences, muitos com os seus pequenos cavalos, a percorrerem longas distâncias até a vila mais próxima, as crianças a caminharem até a escola. Gente que mora em pequenas aldeias, ajuntamentos de quatro ou cinco casas construídas da forma tradicional, e que se dirigem à vila para comprar ou trocar os objectos de que precisam. A mesma história repete-se ao longo de toda a região central de Timor, nos contrafortes das montanhas. Os caminhos são longos, neste Timor de estradas estreitas, aonde a distância é medida pelo tempo que leva a jornada. E a jornada faz-se a olhar para o amanhecer entre as montanhas, na mais mágica das horas, quando, em meio ao frio e à escuridão, o sol começa a brilhar por entre a névoa e ilumina os picos, criando a sensação de que se caminha no teto do mundo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

'Tais' de Oecussi

Numa entrada abaixo fizemos referência ao artesanato de Oecussi, mencionando o facto de alguns 'tais' que são vendidos em Dili como sendo do enclave me deixam algumas dúvidas sobre a sua verdadeira procedência, acreditando nós que parte do artesanato apresentado como tendo essa procedência tem origem, na verdade, no Timor Ocidental.
Um exemplo disso são os 'tais' com figuras geométricas e de cores fortes (nomeadamente o vermelho) que aparecem à venda no "Mercado dos 'Tais'". São bonitos mas não temos a certeza de serem feitos, de facto, em Oecussi. É o caso dos exemplares abaixo:


Se em relação a estes, apesar da sua "belezura", temos dúvidas sobre a procedência, em relação aos que ficam abaixo não temos dúvidas de que são "Oecussi legítimos".
Aliás e como podem verificar, o tipo de tecido é muito semelhante, variando "apenas" (principalmente) o tema: num deles figura o crocodilo a que aparece associada a ilha de Timor e no outro aparecem representados galos de combate. A presença de galos na decoração é, aliás, quase uma "marca registada" nos 'tais' provenientes de Oecussi já que se trata, provavelmente, do motivo mais recorrente.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mais sobre as moedas de Timor Leste

Em entradas anteriores referimos e mostrámos as fotos que estão na origem de algumas das moedas de Timor Leste emitidas em 2003, os centavos. Já agora completemos as informações dadas.

As moedas têm uma face comum onde está representado um kaibauk, um dos simbolos do poder no quadro da soeciedade tradicional timorense. Uma peça com igual formato aparece em outras culturas e tenho para mim, provavelmente erradamente, que ele representa a lua, tal como o belak representará o sol. Quem "tem" o sol e a lua tem o poder de controlar o dia e a noite, a vida e a morte... Será isso? Creio que, no fundo, é disso que se trata mesmo que cada cultura dê uma explicação diferente para o uso daqueles símbolos.
O kibauk que foi usado para o desenho da moeda é o representado abaixo --- na moeda não aparece a "casa de Lautém" para criar espaço para a inserção do número correspondente ao valor de cada moeda.

Kaibauk usado no desenho das moedas de centavos;
pertence agora ao banco central de Timor Leste, a ABP


A moeda de 1 centavo representa um nautilus, um cefalópode marinho que vive a profundidades de cerca de 300 metros mas cuja concha, uma vez vazia, emerge à superfície devido às "câmaras de ar" que possuem; é vulgar aparecerem à venda em algumas bancas de borda de estrada, incluindo em Dili. Com a sua escolha pretendeu-se enfatizar a necessidade de proteger a natureza e a sua diversidade em Timor Leste.


Já nos referimos à moeda de 5 centavos, a que representa o arroz, base alimentar de muitos timorenses.
A moeda de 10 centavos representa um galo de briga e pretende ser uma homenagem não só à luta pela independência de Timor Leste como também ao "braço armado" dessa luta, as FALINTIL.
O galo está também, como referimos noutro local, representado num selo do país. A fotografia abaixo recorda o motivo principal de uma outra em que o galo está "eriçado" porque está a desafiar um pequeno macaco que estava por perto (no "Mercado dos 'Tais'").


A moeda de 25 centavos representa um 'beiro' (fotografado abaixo na praia de Bidau-Santana) e é uma homenagem aos muitos pescadores artesanais do país bem como uma referência à riqueza piscícola de Timor. Pertence actualmente ao banco central e tem uma "estória" curiosa que vale a pena recordar aqui --- afinal a História não é "uma série sucessiva de (factos e) "estórias" que se sucedem sucessivamente" ? :-).
Comprado meio destruído em Liquiçá por dois portugueses que estiveram em Timor Leste após 2000 e por eles mandado reconstruir para "darem umas voltinhas" nos fins de semana nas águas (normalmente) mansas da baía de Dili, ele foi acabado quando um dos proprietários estava de férias em Portugal. Sportinguista ferrenho, o que ficou em Timor mandou pintar a embarcação de verde. O pior foi quando ele, depois de a co-proprietária ter regressado de férias, veio também a Portugal. Simpatizante do "Porto", aproveitou a ausência do colega para mandar repintar o barco de azul e branco... E assim ficou o "Areia Branca", seu nome de baptismo.
Regressados ambos a Portugal, ofereceram o beiro ao banco central quando souberam que ele estava "imortalizado" na moeda de 25 centavos.


Para terminar a apresentação das moedas falta referir a de valor mais elevado, a de 50 centavos, onde está figurado o café. Trata-se de uma referência à principal produção de exportação do país e produto que leva o nome de Timor a todos os cantos do mundo.
A foto utilizada para o desenho da moeda respectiva é a que está abixo, tirada (com o café ainda em verde...) algures na estrada entre Gleno e Ermera.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Artesanato de Oecussi

Nas minhas/nossas incursões no "Mercado dos 'tais'" acabei por dar com e me apaixonar ( :-) ) por várias peças do artesanato de Oecussi, o enclave timorense "incrustado" na metade ocidental, indonésia, da ilha.
No que diz respeito às peças que vêm de lá, fica-me sempre a dúvida de saber se são mesmo de Oecussi "itself" ou se são do Timor indonésio --- ou, mesmo, de alguma ilha próxima (nomeadamente de Alor, a ilha a norte de Oecussi) --- já que se sabe que há algum "trânsito" entre as ilhas.
De qualquer forma, dadas as características etnográficas da região, as diferenças entre o que é de Oecussi e o que é do Timor indonésio não devem ser tão grandes como isso.

Incentivados pela procura dos "internacionais" que estão em Dili, começaram a aparecer no "mercado dos 'tais'" peças mais "pretensiosas" (e caras) que o (até então) habitual.
Um exemplo disso são as portas representadas abaixo e que reproduzem, nomeadamente, o famoso crocodilo que, segundo a lenda, cansado,"petrificou" e deu origem à ilha.

Ainda de Oecussi são as duas máscaras que apresentamos a seguir, ambas de madeira.