Num cometário à "entrada" anterior um leitor diz que
"Em relação aos tais, se não estou em erro, antigamente eles não eram objeto de compra e venda mas objeto de valor simbólico, que era oferecido como sinal de distinção a uma determinada pessoa. Só assim poderia sair da família de que era originário, de cujo património fazia parte, passando de geração em geração. Receber um tais era uma honra, tal como oferecê-lo.
Os padrões dos tais variam muito de região para região e dentro destas há pequenas variações consoante se trata de peça de vestuário masculino ou feminino."
Não está errado, não senhor!
Os tais são (e eram) peça importante do pagamento do "barlaque" à família da noiva e era essencialmente nessa ocasião que mudavam de mãos.
Naturalmente que esses 'tais', mais antigos e feitos cumprindo todas as regras tradicionais --- desde o cultivo do algodão até ao produto final ---, quase não aparecem à venda.
De quando em vez, particularmente pelas mãos de vendedoras de Lospalos, lá aparece um ou outro a preço "condizente" com a sua raridade.
Numa feira realizada em Agosto passado no antigo "Mercado Municipal" de Dili apareceram à venda alguns exemplares, como mostram as fotos acima.
Por vezes, como na foto de cima, estão acompanhados de notas explicativas sobre a sua origem e a quem pertencem ou pertenceram.
Os padrões utilizados são bem distintos e em muitos casos o "saber fazer" já se perdeu. Devido à raridade das peças, os preços podem atingir valores elevados. Nesta feira lembro-me de um dos 'tais' estar à venda por 570 dólares --- o correspondente a quase 50 sacas de 35kgs de arroz aos preços (subsidiados) de hoje!
A complexidade dos padrões e as muitas horas necessárias para a produção de um tais destes acabam por desencorajar a sua reprodução actual e por isso o que hoje se vê à venda são, muitas vezes, trabalhos de menor qualidade e beleza.
Os 'tais' aqui reproduzidos --- bem como os fotos que ilustram a 'entrada' anterior --- são todos 'tais feto', isto é, 'tais' para serem usados pelas senhoras. São ""tubos" que são vestidos com alguma facilidade.
Os 'tais mane' são os que se destinam essencialmente a serem usados pelos homens e são panos abertos com franjas.
Uns e outros são tecidos em teares de que se pode ver um exemplar na 'entrada' inical deste blog, bem ao fundo desta página. Depois de tecidos são, muitas vezes e para darem origem a panos mais largos, "cosidos dois a dois".
Os padrões dos tais são, se obedecerem aos padrões tradicionais, relativamente diferentes de região apra região do país, conforme salienta o nosso leitor. Quem está habituado a apreciá-los sabe, só de ver o padrão, de que zona são origináros. Por exemplo, um tais de Ainaro tem uma estrutura muito própria e só nessa zona se fazem tais com tal estrutura. O mesmo se passa com os de Marobo (perto de Bobonaro, na zona mais ocidental de Timor Leste).
Voltaremos ao assunto mais vezes.
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«Os tais são (e eram) peça importante do pagamento do "barlaque" à família da noiva...»
ResponderEliminarNão. "Os tais são (e eram) peça importante" do ritual do "barlaque" que cabia (e cabe) a família da noiva oferecer à família do noivo, sublinho, oferecer à família da noivo juntamente com porcos e arroz. A parte que cabia (e cabe) à família do noivo no ritual de troca de bens - pois trata-se de uma troca de bens, e não um pagamento/compra da noiva (porque se se tratar de uma transacção, então, o noivo, repito, o noivo é igualmente objecto de compra da parte da família da noiva, porque o valor transacional de tais, varas de porco e sacas de arroz é equivalente ou em alguns casos ultrapassar o valor transacional dos bens entregues à família da noiva pela família do noivo)- são búfalos, cavalos, belak e espadas.
Cumprimentos.
Sebastião