sábado, 31 de janeiro de 2009

As lanchas-patrulha da "Componente Naval das FDTL"

Nado e criado à borda de água e, por isso, com o mar à vista e o cheiro a maresia, quis o destino que viesse a fazer "a tropa" na Marinha de Guerra portuguesa, "a Gloriosa"!...
Por tudo isso sempre interessei pelas coisas do mar e hoje não perco a oportunidade de tirar fotos a navios, principalmente aos grandes paquetes de cruzeiro que visitam Lisboa durante o período de Abril a Outubro, principalmente (veja fotos de navios aqui).

Também por isso tenho seguido com algum interesse o que se passa com a componente naval das FDTL que, como muitos saberão, é constituída por duas lanchas de fiscalização, a "Oecussi" (P101) e a "Ataúro" (P102).

A lancha "Oecussi" (P101); é ela que dá o nome à "classe" de navios ("Classe Oecussi")

A lancha "Ataúro" (P102)... com Ataúro ao fundo

Estas lanchas estão normalmente atracadas no pequeno porto de Hera, a poucos quilómetros a oriente de Dili, e foram oferecidas por Portugal em 2002, aquando da independência do país. As lanchas foram pertenciam, em Portugal, à chamada "Classe Albatroz", tendo na nossa Armada os nomes de "Albatroz" (a que deu o nome à classe, a primeira a entrar ao serviço do seu tipo, em 1974) e de "Açor", respectivamente as P1162 e P1163. A primeira é agora a "Oecussi" e a segunda é a "Ataúro" --- a madrinha desta é a deputada Fernanda Borges, líder do PUN e então Ministra das Finanças, a primeira do novo país.

Uma curiosidade: Oecussi é o nome da enclave onde se diz que os portugueses chegaram primeiro e Ataúro é a ilha timorense, frente a Dili, de onde partiram os últimos representantes da então Administração portuguesa em 7 de Dezembro de 1975, data da invasão indonésia de Timor (veja aqui informação sobre a entrega das lanchas a Timor Leste em 2002).

Monumento em Lifau, perto de Pante Makassar (capital de Oecussi) assinalando o local onde desembarcaram portugueses em18 de Agosto de 1515

Estas lanchas foram muito afectadas pelo pequeno maremoto que se seguiu aos terramotos que se fizeram sentir em Dili em 12 de Novembro de 2004. Só no final do ano passado, depois de um prolongado período e "fabricos" (reparações) na Indonésia --- com assistência técnica e financeira de Portugal ---, é que voltaram a estar operacionais e a navegar.

Ainda a comida timorense

Numa entrada abaixo falou-se de comida timorense. Referiu-se, nomeadamente, o akar. A propósito dele mostrou-se a fotografia de um "rolo" a ser puxado por um rapaz. Trata-se do 'miolo' da palmeida que dá o sagu, de que é feito o akar depois de devidamente preparado.

A foto abaixo foi tirada na zona mais ocidental do país, não longe de Atabae, e nela se vê um monte de bocados de sagu. É vulgar ver estes montes à venda na beira da estrada naquela região.


O akar tem o aspecto que se pode ver abaixo (foto da Wikipédia; veja nela mais sobre o sagu e sua preparação para alimentação, mais usual nas épocas de menor disponibilidade de outros alimentos):

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mais uma "estorinha"...

..., esta a propósito da 'entrada' sobre comida em Timor Leste que está abaixo.

A "estorinha" tem que ver com um comentário de uma amiga minha a propósito das moedas do país.
Quiseram os deuses que eu tivesse estado envolvido muito de perto no processo de criação das moedas de "centavos". Essa é uma "estóriazona" que fica para mais tarde. Agora quero apenas recordar, a propósito do que se disse abaixo sobre o milho, uma "estorinha", um comentário que foi feito ao desenho de uma das moedas.

Sabendo do meu envolvimento no processo e de como se chegou ao perfil das moedas actualmente existente --- ai julgavam que as moedas "nasceram" no desenho logo assim?!... Estão muito enganados!... Houve várias versões até se chegar ao aspecto que elas têm... ---, uma amiga minha, profunda conhecedora da cultura timorense por ter feito investigação de natureza socio-antropológica ali para os lados de Lacló no início dos anos 70, disse-me, ao saber que a moeda de 5 centavos representava uma espiga de arroz:
"É pena! Devia ter sido escolhida uma espiga e maçaroca de milho! O milho é que deveria estar representado na moeda pois ele é que é o alimento mais tradicional dos timorenses, particularmente nas montanhas".

Pois é... Só que alguém, lá muito "em cima", sugeriu que fosse o arroz... E arroz ficou. E até "calhou" bem porque o ano seguinte ao da emissão das moedas (postas a circular a 10 de Novembro de 2003) foi definido pela ONU como o "Ano Internacional do Arroz", o principal alimento a nível mundial.

Já agora um segredinho aqui para nós que ninguém nos ouve: a espiga de arroz representada na moeda de 5 centavos secou (claro...) e foi emoldurada... E está onde deve estar.














E já agora outro "segredinho": a espiga original é a que está acima e por malabarismos dos desenhadores das moedas foi "duplicada" para fazer a que se vê na moeda. Artistas!...

Terceiro e último "segredinho": a espiga é de Aileu! Foi fotografada na Quinta Portugal, explorada pela Missão Agrícola portuguesa, no final de Abril de 2003.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Onde fica?

Localização de algumas povoações de Timor Leste referidas no blog

Clique no mapa para o aumentar e tornar mais legível

Chove a cântaros! E a chuva traz comida...

Tem chovido muito. E Timor está verde de novo. O milho está alto e cresce nos sítios mais inusitados: ao lado do campo de futebol, nas ribeiras secas, nas esquinas estreitas. É como se cada pedaço de chão voltasse à vida com a chuva.
É também o tempo em que há gente por toda a parte a vender milho e verduras, e os quiosques na praia ficam cheios à noite para vender “batar tunu” (milho assado) e churrasquinho de frango. É bom ver isso; ter famílias andando pela orla à noite significa a volta à normalidade.

Até agora não colocamos nada aqui sobre a cuisine de Timor, embora a última viagem dos malais juntos tenha sido precisamente para comer um tukir preparado em nossa homenagem nas montanhas. O tukir é a carne assada lentamente dentro do bambu na brasa. O resultado é muito bom.


"Tukir" assando na brasa dentro da cana de bambu (em cima); e pronto a comer, em baixo


Adoro a flor de papaia misturada com flor de banana. Aí já é um ponto polêmico: há quem não goste do sabor ligeiramente amargo da flor de papaia. Sabe muito bem junto a frango ou peixe, ou a uma mandioca frita quentinha, prestes a desfazer-se... A que é servida pela Fina, com o peixe grelhado e batata frita, dá um sabor especial à refeição. Aliás, foi a Fina quem me ensinou a comer as flores – o “modo fila” (verduras misturadas) dela.


Fina: com um sorriso destes só pode ser timorense...


Dizem que a flor de papaia pode diminuir as infecções pelo parasita da malária. Li há algum tempo atrás um artigo num jornal científico (http://www.ajtmh.org/cgi/reprint/65/4/304) que indicava um efeito potencialmente danoso de um dos componentes da papaia sobre o parasita que causa a malária. Uma lógica por trás do consumo da flor, que talvez tenha a substância em maior concentração?

Nesta semana, lá vou eu de novo a caminho da montanha. A meio caminho, comerei de novo o melhor peixe de Timor. Não se ofendam, Fina e pessoal do restaurante Victoria, mas o peixe que se come à beira da estrada em Behau, com catupas* de acompanhamento, é uma delícia!

Melhor ainda se a sobremesa for o fruto da palmeira vendido pelas crianças no local: a massa gelificada do fruto é um bálsamo para a boca, após o “sting” do picante colocado no peixe. Falta apenas uma saladinha para acompanhar. Quem sabe alguém resolve trabalhar com a comunidade local e desenvolver o negócio? Potencial não lhes falta!

Não é o único sítio. Guardo a lembrança de uma viagem a Wedauberek (na costa sul, em Manufahi) na qual fomos recebidos com imensa hospitalidade pela família de um dos colegas. A comida era maravilhosa: peixe assado, verduras, legumes e frutas. Comemos muito inhame, cará e mandioca cozidos, como café da manhã. São uma delícia misturados a um molho feito de tomate, pepino, cebola e picante (budu) que é muito comum aqui. Confesso que prefiro quando há pouco “chilli”. Mesmo após anos de Timor, o picante ainda não está na minha lista de sabores favoritos...

Há outras coisas deliciosas que só se comem nas regiões mais rurais, onde se escapa um pouco da obsessão pelo arroz que existe em Díli. Uma delas é o “akar”, um tipo de pão chato feito com a farinha do tronco da palmeira, que se assemelha ao chapati indiano e à tapioca brasileira.


Rapaz puxando um troco de palmeira para fazer akar. Note-se o "engenho e arte" no corte do troco para facilitar o transporte

Fotografia tirada na zona de Manatuto

É muito bom, e ainda assim, é a comida da fome em muitas aldeias. Lembro de uma visita a um lia-na’in (guardião das histórias e do conhecimento tradicional da aldeia), na companhia de um amigo timorense mais velho e muito sábio. Serviram-nos biscoitos indonésios, e trouxeram o akar com desculpas. Este amigo apontou-lhes o facto de que os biscoitos eram-nos fáceis de obter na cidade, e o que realmente seria uma iguaria nova para nós era precisamente o akar.

Em algumas coisas, Timor está no mesmo estágio de tantas outras nações, de valorizar mais o produto industrializado importado do que aquilo de bom que é natural da terra. É pena, mas é parte de um processo inevitável. Sei que, daqui a 20 anos, verei o inverso, e que as iguarias timorenses é que serão o alvo da valorização.

As frutas, verduras e legumes têm aqui um sabor mais intenso, às vezes mais doce. A papaia, o ananás e a cenoura são mais doces, menos “aguados”. Talvez resultado de um solo mais ácido, menos água disponível? Não sei, mas o gosto é melhor do que os de outros lugares. Adoro as melancias pequenas e redondas, de gosto concentrado. Porém, pouco se faz ainda com essas frutas. Quem me dera comer de sobremesa um sherbet de manga!

Como já é tarde e falar de comida dá fome...deixo-os a pensar nos sabores de uma terra distante (ou próxima?) e vou à procura do meu próprio jantar. Até mais!


*A catupa é o arroz cozido com leite de coco dentro de uma “trouxinha” trançada de folha de palmeira.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Uma correcção de um leitor sobre o "barlaque"

De um comentário deixado por um leitor (Obrigado, Sebastião!) à entrada sobre os "tais" e o seu papel no "barlaque":

«Os tais são (e eram) peça importante do pagamento do "barlaque" à família da noiva...»

Não. "Os tais são (e eram) peça importante" do ritual do "barlaque" que cabia (e cabe) a família da noiva oferecer à família do noivo, sublinho, oferecer à família do noivo juntamente com porcos e arroz. A parte que cabia (e cabe) à família do noivo no ritual de troca de bens - pois trata-se de uma troca de bens, e não um pagamento/compra da noiva (porque se se tratar de uma transacção, então, o noivo, repito, o noivo é igualmente objecto de compra da parte da família da noiva, porque o valor transacional de tais, varas de porco e sacas de arroz é equivalente ou em alguns casos ultrapassar o valor transacional dos bens entregues à família da noiva pela família do noivo)- são búfalos, cavalos, belak e espadas.

Cumprimentos.

Sebastião"

Mais uma vez: obrigado! A minha linguagem deu a ideia de que se trata de uma transação comercial de "compra e venda de propriedades" relativamente à mulher, o que não é verdade já que, a se-lo, seria quase caso de polícia... :-)

domingo, 25 de janeiro de 2009

"Esquecido do Império", "camarada Bere Buti" ou simplesmente "Vô Serra"? Tudo!

No fundo, tudo isto simultaneamente... Esta é (parte de) a história de como dois "Serra" se encontram em Timor Leste sem que antes sonhassem na existência um do outro...


Estamos algures em Setembro/Outubro de 2002. Alguns meses antes tinha sido publicado no Brasil o livro da jornalista Rosely Forganes (as melhoras, Rosely!) intitulado "Queimado, queimado, mas agora nosso!".
Sabendo disso pedi a uma aluna minha que estava no Rio que trouxesse o livro para Portugal, o que fez. Como entretanto fui para Timor Leste sem o receber, só em meados de Outubro chegou às minhas mãos através de um amigo que veio a Portugal e regressou a Dili pouco depois.
Recebido o livro na tarde de uma segunda-feira, nessa mesma noite estiquei-me em cima da cama do hotel onde estava (o então "D. Aleixo", hoje "Central") e fui lendo, fui lendo até que de repente (pg 66) dou com um diálogo dela com um personagem que parecia saído de um outro mundo. Indagado sobre se falava português ele respondeu "Claro, minha filha, eu sou português!". E ela continua : "Sem querer acabo de cruzar com um dos personagens mais incríveis e folclóricos do Timor: o Vovô Serra". Aí dei um pulo na cama e sentei-me para reler a fim de confirmar o nome dele. Lá estava escarrapachado: SERRA!
Aí fiquei com os sentidos todos atentos, o coração a palpitar mais acelerado e até li mais depressa o texto seguinte para ver se sabia mais sobre ele, uma pista sobre eventual ligação familiar.
Quando, mais à frente, ela diz que "Ele é natural do Fundão, na Beira Baixa, concelho de Castelo Branco" fiquei com um nó na garganta pois... o meu avô era do Fundão! Mais concretamente de Souto da Casa, a cerca de 5kms da sede do concelho. A hipótese de, inesperadamente e, mesmo algo inacreditavelmente, ir encontrar ali um parente, ainda que afastado, "esquecido do Império" quando a Indonésia invadiu Timor Leste, era algo que mexia comigo.
As horas daquela noite demoraram dias a passar... No dia seguinte, logo que cheguei ao emprego na manhã seguinte enviei uma mesnngem de e-mail à Rosely e pedi-lhe que me enviasse uma foto do "Vovô Serra". Jornalista e fotógrafa, ela teria certamente uma ou mais. O problema era agora sobreviver à angústia de esperar que ela abrisse o mail --- ainda por cima como uma diferença horária de 11 horas... ---e me respondesse.
Finalmente, ao fim do dia, chegou a resposta dela. E lá vinha a foto. Abri e... fiquei de boca aberta! E, aqui para nós que ninguém nos ouve, virei-me para um canto e deixei correr umas lágrimas: vários traços fisionómicos e o pormenor do "rabo de cavalo" de um cabelo todo branco tinham a "marca da casa": a do meu avô paterno, falecido aos 92 anos com uma farta cabeleira branca e... de "rabo de cavalo"! Aos 92 anos!... Talvez perguiça de ir ao barbeiro e de certeza uma certa dose de irreverência que está no nosso código genético.

Logo ali disse para mim mesmo que teria de conhecer pessoalmente o "Vô Serra" e o resto da semana foi passada com uma enorme impaciência até que chegou a manhã de sábado.
Meti-me no 4X4 com outros dois amigos --- um deles vai dar origem a outra "estória" de família, esta relacionada com o meu ramo materno --- e lá fomos a caminho de Maubara. Chegados à povoação, junto ao forte, indagámos pela casa do Vô Serra e lá nos explicaram que para lá chegarmos tinhamos de tomar a estrada que subia a montanha. Na verdade a estrada que no tempo da administração portuguesa dava acesso à Ribeira de Loes e, mais adiante, a Batugadé e à fronteira com o Timor indonésio. Lá fomos, tendo começado por atravessar a vau a ribeira de Maubara, quase permanentemente seca.

Vista da costa norte de Timor Leste na região de Maubara, no sentido Leste;
foto tirada na estrada para casa do "Vô Serra"

Depois de uns quantos quilómetros de curvas e contracurvas, algumas delas quase em 360º, chegámos a um conjunto de casas onde nos disseram que a casa do Vô já tinha ficado para trás. Não a tinhamos visto por ficar um pouco afastada da estrada.
Lá voltámos para trás e depois de percorrido o caminho de uns 100 metros que dá acesso à casa, apareceu o "velho Serra", com o seu cabelo branco apanhado atrás.
Identifiquei-me e disse-lhe da minha suspeita de que seriamos parentes pois o meu avô era da mesma zona dele.

Primeiro encontro com o "Vô" Serra:
identificando-me através do cartão de identificação da ONU

Confirmada a origem comum, os nossos braços abriram-se para receber o outro num abraço de alguém que conhece o outro "desde sempre". Pelos vistos é mesmo verdade que "sangue é sangue"!...

Uma história mais pormenorizada do que foi a vida dele em Timor --- onde chegou há 43 anos!... --- fica para depois. Entretanto, na nossa conversa tive a oportunidade de saber que tinha chegado para se juntar ao irmão que já lá estava havia cerca de 20 anos, ido de Angola, onde prestava serviço militar. Foi integrado numa das primeiras companhias militares portuguesas que chegaram à então colónia após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945 ou 1946, e também ele nunca mais saíu de Timor, estando enterrado no cemitério de Batugadé, onde faleceu em 1979 --- já depois, portanto, da invasão indonésia.


Aí tinha uma serração de madeiras --- de que hoje só resta o "esqueleto" --- e por isso era conhecido como " o Serra das madeiras" ou "o Serra de batugadé" (ainda que o apelido de família tenha, suspeito, que ver com a proximidade do Fundão às Serras da Estrela e da Gardunha).

Apanhado pela invasão indonésia em 1975, o Vô Serra decidiu ficar em Timor para tentar salvar as terras e o gado que então possuia na zona de Atabae e na Loes. E isto apesar de na altura da invasão estar planeando vender umas quantas cabeças para financiar a sua vinda a Portugal para vir buscar a mulher e o filho --- que ele deixara com 15 dias de idade!...
Quis a História que isso não tivesse sido possível e acabou, como a maior parte da população timorense, fugido no mato durante 3 anos, tentando escapar ao contacto com a tropa indonésia. Foi dessa época que lhe ficou o nome de "camarada Bere Buti" --- "camarada timorense branco" na língua da região. Entretanto, claro, as 400 cabeças de gado "foram-se"...

Em 1979, com a decisão da resistência timorense de mandar regressar as pessoas às povoações por, face às ofensivas do exército indonésio, ser impossível aos guerrilheiros continuar a assegurar a protecção da população e condições de produção de alimentos, ele próprio se integrou nesse movimento e abandonou a vida errante e difícil no mato, cheia de carências de toda a ordem.

António, José e Alberto Serra (sobrinho do Vô Serra): parte dos "Serra" em Timor

Com a morte do irmão e face ao facto de os descendentes deste terem, na sua maioria, conseguido sair de Timor Leste, resolveu, para assegurar a propriedade dos terrenos, instalar-se na quinta da família no alto de Maubara onde ainda hoje vive e recebe, sempre com um sorriso e conversa fácil, quantos lá aparecem. E não são poucos!
Aí produz e vende café e... os melhores ananases do mundo!

Vô Serra acompanhando o antigo Embaixador em Timor Leste,
Dr Ramos-Pinto, na sua visita ao campo de ananasesAnanás do "Vô" Serra descascado à moda timorense, em espiral

Um abraço, Vô!...

Ai! Que arrepio!...

O "arrepio" foi mais um tremor de terra (grau 5.2) sentido em Timor na noite de sábado para domingo, cerca das 11h da noite. O epicentro foi muito perto da costa sul da ilha de Alor, na vertical da Ribeira de Loes, em Timor Leste.
Aqui ficam os pormenores segundo os serviços geográficos americanos:


sábado, 24 de janeiro de 2009

Sabe o que é isto?

Não! Não é a "carroça dos cães" nem a "camioneta do canil". É... um carro celular da ONU em Timor Leste, modelo australiano. Sem palavras! E já os vi com ocupantes. Dignidade, senhores! Sabem o que é?!...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"Em busca da casa perdida", uma "estória" em Bobonaro

Ao meu colega JBB "menino e moço o levaram de casa de seus pais" para Bobonaro, do outro lado do seu mundo.
O pai, então militar, tinha sido colocado como comandante do famoso "esquadrão de cavalaria de Bobonaro", em que os soldados eram quase todos timorenses.
Regressado a Portugal há cerca de 50 anos, disse-me que nunca mais esqueceu nem as montanhas da região nem a casa onde viveu mais de dois anos, chegando mesmo a sonhar com as primeiras.
Há já alguns anos que me tinha pedido para lhe arranjar fotos da região, de Bobonaro e da casa mas a verdade é que, depois de algumas tentativas frustradas, desisti. Até que disse para comigo mesmo: se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé...
Excursão combinada, partimos (eu e o meu amigo Pedro, outro setubalense em Timor) um dia do City Café (minha "casa" habitual em Dili) e metemo-nos à estrada para o que se adivinhava vir a ser uma longa viagem --- em quilómetros e em horas (estas são, aliás, a principal medida de distância em Timor... Quais quilómetros, quais carapuça!...).

Saindo pela "Dili Rock", a porta de Dili a ocidente, lá fomos de "fó-by-fó" (leia-se "4x4"...) a caminho de Bobonaro a fim de encontrar a casa onde vivera o meu colega e fotografar devidamente casa, montanhas e o que mais nos aparecesse pelo caminho.
Passados os "fornos de sal" de Tibar, as 3 ribeiras (secas, secas, secas...) de Liquiçá (ou Likisa), o forte de Maubara, a ribeira de Loes e toda a costa até Batugadé, virámos para sul a caminho da Maliana e, depois, de Bobonaro. Esta vila dá o nome ao distrito de que a capital é agora Maliana. Juntamente com o distrito do Suai são os distritos mais ocidentais de Timor Leste --- sem contar com Oecussi ---, fazendo fronteira com a província indonésia que compartilha a ilha.

Depois de uma visita ao mercado e de passarmos junto ao cemitério onde se vê a campa de um liurai local morto durante a ocupação japonesa, seguimos pela estrada --- pois: estrada é mais alcunha que outra coisa... --- a caminho de Bobonaro "city".

Maliana: mercado
Maliana: campa de liurai no cemitério

Para lá chegarmos temos de subir parte da montanha de Cailaco (vd imagem do Google no final da mensagem abaixo). Da estrada dá para ver a extensão do chamado vale de Maliana zona agrícola fértil e bem irrigada de águas, onde se produz parte do arroz de Timor.

Vale de Maliana visto da estrada para Bobonaro;
note-se a extensa queimada no primeiro plano

Contraforte do Cailaco, à saída de Maliana para Bobonaro

À medida que nos aproximavamos do Cailaco, qual "costeleta em pé" como costumo descreve-la, aconteceu-me o que já tinha acontecido da outra vez, em 2002, em que tinha andado por estes lados: a montanha parece ter um feitiço especial que faz com que eu não consiga tirar os olhos dela enquanto estou à sua vista. É uma paisagem de tirar o fôlego, aquelas vertentes quase a pique verdejantes. Não há hipótese: não consigo desviar os olhos, como que procurando reter a sua imagem na retina per omnia secula seculorum. E-S-M-A-G-A-D-O-R-A!

Cailaco, a "costeleta em pé". E-S-M-A-G-A-D-O-R-A!

Pelo caminho demos com uma família construindo uma casa, vendo-se na foto abaixo a estrutura de paus que constitui o telhado e o trabalho de cobertura do mesmo com colmo.


Mais à frente, já no início da estrada que desce para Bobonaro, demos com uma "anguna" parada para substituir um dos pneus. A "belezura" do pavimento da estrada --- ah! ah! ah!... Chamar estrada "àquilo" é giro... --- tinha feito das suas...

E finalmente chegamos a Bobonaro. Autenticamente parada no tempo, a vila é hoje uma sombra do que deve ter sido no passado, com muitos edifícios em péssimo estado de conservação, nomeadamente os de natureza administrativa do tempo da administração colonial portuguesa. É pena que estejam tão longe e seja tão difícil lá chegar; a recuperação da cidade poderia fazer dela um quase que museu ao ar livre que atrairia muitos turistas.


Com as indicações de um "bobonarense" ( :-) ) falando um português fluente, fomos "em demanda da casa perdida", afinal a causa de tão longa viagem.
No final da rua principal, ela aí está à nossa frente! Com dos 13 degraus que o JBB se tinha cansado de referir: "Olha que tem 13 degraus! Conta-os para ver se é verdade ou não!". É verdade, sim, pá!
O que nos chamou a atenção foi o belíssimo estado de conservação em que se encotnra. Será mesmo a melhor casa da povoação. O "mistério" foi esclarecido depois: a casa foi entregue e está à guarda dos irmãos claretianos da missão no local.

Aqui está a casa, causa de uma jornada de cerca de 11h de Dili a Dili.
Abaixo a "Monstanha da Mesa", uma das que povoam os sonhos de JBB

O JBB tinha-me dito que a casa era próxima do antigo comando do quartel, onde o pai trabalhava, a meros 50 m de casa, e da entrada do próprio quartel.
Esta é constituida por um portão com dois pilares encimados pelo escudo português. Um deles já despareceu e o outro está em muito mau estado de conservação, meio destruido.


Passado o portão, dá-se com uma pequena ladeira que desce para o terreiro, grande, onde estão as diversas instalações do quartel. Algumas foram construídas pela adminsitração indonésia.


A nossa (minha) missão estava cumprida. Podia agora iniciar a viagem de regresso a Dili. Porém e porque estavamos perto, decidimos dar uma saltada às famosas Termas de Marobo (hoje em ruínas). Mas isso fica apra outro dia que esta crónica já vai longa.

Quando, regressado a Dili, enviei as fotos ao meu amigo, recebi como resposta um "muito obrigado" e a confirmação do que eu já suspeitava que acontecesse: as lágrimas vieram-lhe aos olhos! Saravah, JBB!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E viva Bobonaro!...


Viajei muito por Timor nestes anos em que cá estou. Algumas viagens foram legítimas aventuras, ao visitar sítios lindos e ter o gostinho especial de saber que a maioria dos visitantes nunca lá foi. Isso é uma das melhores coisas de Timor: caminhar por uns dos lugares mais lindos do mundo sem ter de o fazer em meio a uma multidão de turistas. Existe coisa mais desanimadora do que chegar a Angkor, no Cambodja, e encontrar o Bayon literalmente coberto de gente?
As praias são tão lindas nesta terra que tendemos a esquecer das montanhas. No entanto, foi ao percorrer as montanhas que fiz uma das viagens que mais lembranças marcantes deixou para trás. Há quase dois anos, fui com uma equipa
de trabalho a Bobonaro e Covalima, seguindo uma das rotas mais belas que alguém pode fazer em Timor-Leste. Amo a vista de Bobonaro ao sair de Maliana, logo que o sol nasce, com as montanhas ainda cobertas de névoa e o frescor que torna a madrugada a hora mais agradável do dia.
O panorama na fronteira dos distritos, nos altos de Zumalai, é de tirar o fôlego. Tanto o Tasi-feto
(mar das Sundas, a norte de Timor) quanto o Tasi-mane (mar de Timor, a sul da ilha) são visíveis do alto das montanhas, antes que a névoa desça.

É um caminho vertiginoso, e, em alguns trechos, começamos a nos perguntar se seria possível retornar pelo mesmo trajeto da ida (disseram-me que está muito melhor agora, todavia). Tirei lá algumas das minhas fotos favoritas, que mostram um Timor muito verde, sonhador em meio à névoa que o cobre. Aldeias espalhadas pela crista da montanha aumentam o charme da paisagem. Lembro particularmente de uma delas, Lepo, onde fomos muito bem recebidos pelos professores da escola local. Homens mais velhos, gentis e atenciosos, de fala doce com as crianças, e que tentam fazer o melhor pelo seu país.

Ao descer para a planície, o clima fresco muda aos poucos, incorporando o calor húmido, até chegar às praias de areia cinzenta de Suai. As ondas do ‘Tasi-mane’ são como ecos do Atlântico distante, e trazem a lembrança de que o mar pode ser diferente da placidez do Pacífico. Não vi os crocodilos de Suai Loro, uma pena! Impressionante que já tenha vivido cá há tanto tempo, e, nem aqui nem nos parques nacionais australianos, tenha visto um croc ao vivo e a cores.

De Suai Vila, fomos a Fatululik, na fronteira. Ao condutor, meu anjo da guarda em várias viagens, devo gratidão e respeito: foi a sua habilidade que nos levou e trouxe inteiros, por uma estrada realmente ‘daunting’. Lá, pela primeira vez, vi alguém a ir à caça com uma lança: um senhor já idoso, vestido à moda tradicional. Uma viagem no espaço e no tempo.

A fronteira de Fatululik é uma das imagens mais belas que tenho de Timor: uma ribeira cristalina flanqueada por pedras brancas e encostas verdes, saída da Rivendell do ‘Lord of the Rings’. Do outro lado da colina, sobe-se até o posto da fronteira, perdido em meio às nuvens baixas. Um lugar tão belo quanto isolado, que me fez pensar porque é que insistimos em permanecer em Díli.

Guardo dessa viagem as lembranças de lindas paisagens, mas, para além disso, da camaradagem e do riso com meus companheiros de caminho. Chamaram-me a atenção para coisas que doutra forma não veria, responderam às minhas perguntas com paciência e rimos juntos das nossas diferenças, descobrindo semelhanças e gostos. Aprendi a procurar lenha à beira do rio e eles, a partilharem da minha paixão pelas batatas fritas. Alguns são colegas próximos até hoje, e, há coisa de uma semana, ao trabalhar junto com um deles, vi no seu ‘desktop’ uma foto que tiramos em grupo nas montanhas, naquela viagem. Sorrimos juntos, com saudade partilhada por momentos bons.

Esta crônica é para a minha ‘alin Timoroan’, que nessa viagem, como em outras, fez tudo o que pôde para fazer a sua ‘biin’ nascida do outro lado do mundo sentir-se bem-vinda e querida nesta terra de encontros. Nia agora dook hela, maibé ha’u fiar katak loron ida sei fila fali ba rai furak ne’e no sei matenek liután. Karik, iha loron ne’ebá, nia sei ba fali fatin dook hanesan ami uluk ba hamutuk no loke dalan ba mudansa atu mai.

Imagem do Google da montanha Cailaco, na região de Bobonaro, retratada na foto anterior

Tais de Lospalos

Num cometário à "entrada" anterior um leitor diz que

"Em relação aos tais, se não estou em erro, antigamente eles não eram objeto de compra e venda mas objeto de valor simbólico, que era oferecido como sinal de distinção a uma determinada pessoa. Só assim poderia sair da família de que era originário, de cujo património fazia parte, passando de geração em geração. Receber um tais era uma honra, tal como oferecê-lo.

Os padrões dos tais variam muito de região para região e dentro destas há pequenas variações consoante se trata de peça de vestuário masculino ou feminino."

Não está errado, não senhor!
Os tais são (e eram) peça importante do pagamento do "barlaque" à família da noiva e era essencialmente nessa ocasião que mudavam de mãos.
Naturalmente que esses 'tais', mais antigos e feitos cumprindo todas as regras tradicionais --- desde o cultivo do algodão até ao produto final ---, quase não aparecem à venda.
De quando em vez, particularmente pelas mãos de vendedoras de Lospalos, lá aparece um ou outro a preço "condizente" com a sua raridade.

Numa feira realizada em Agosto passado no antigo "Mercado Municipal" de Dili apareceram à venda alguns exemplares, como mostram as fotos acima.
Por vezes, como na foto de cima, estão acompanhados de notas explicativas sobre a sua origem e a quem pertencem ou pertenceram.
Os padrões utilizados são bem distintos e em muitos casos o "saber fazer" já se perdeu. Devido à raridade das peças, os preços podem atingir valores elevados. Nesta feira lembro-me de um dos 'tais' estar à venda por 570 dólares --- o correspondente a quase 50 sacas de 35kgs de arroz aos preços (subsidiados) de hoje!

A complexidade dos padrões e as muitas horas necessárias para a produção de um tais destes acabam por desencorajar a sua reprodução actual e por isso o que hoje se vê à venda são, muitas vezes, trabalhos de menor qualidade e beleza.

Os 'tais' aqui reproduzidos --- bem como os fotos que ilustram a 'entrada' anterior --- são todos 'tais feto', isto é, 'tais' para serem usados pelas senhoras. São ""tubos" que são vestidos com alguma facilidade.
Os 'tais mane' são os que se destinam essencialmente a serem usados pelos homens e são panos abertos com franjas.
Uns e outros são tecidos em teares de que se pode ver um exemplar na 'entrada' inical deste blog, bem ao fundo desta página. Depois de tecidos são, muitas vezes e para darem origem a panos mais largos, "cosidos dois a dois".
Os padrões dos tais são, se obedecerem aos padrões tradicionais, relativamente diferentes de região apra região do país, conforme salienta o nosso leitor. Quem está habituado a apreciá-los sabe, só de ver o padrão, de que zona são origináros. Por exemplo, um tais de Ainaro tem uma estrutura muito própria e só nessa zona se fazem tais com tal estrutura. O mesmo se passa com os de Marobo (perto de Bobonaro, na zona mais ocidental de Timor Leste).
Voltaremos ao assunto mais vezes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Das artes em Timor Leste: os 'tais'

O que aproximou os dois 'malais' autores deste blog foi a paixão comum pelos tais. Tais são os tecidos feitos à mão que se transformaram num dos sí­mbolos de Timor-Leste. Para nós, são também o caminho mais rápido para a falência, uma vez que nos tornamos frequentadores compulsivos das feiras de artesanato e as nossas respectivas casas encontram-se cobertas por estes 'mantos do Olimpo'.
Curiosamente, não foi uma paixão à primeira vista. Muitos dos tecidos à venda em Dili são exemplos pobres e de mau gosto da arte magní­fica da tecelagem local. Cores misturam-se de forma pouco harmoniosa, a trama é mal acabada, etc.
É ao frequentar as feiras locais e conversar com as tecelãs que se descobre o quão belos eles podem ser. Depois de algum tempo, um olhar diz de onde vêm, e,algumas vezes, até quem os teceu. E passamos a nos perguntar quais histórias são contadas através daqueles desenhos: os galos, os crocodilos, a tartaruga, os anjos, os cavalos...
Amo o carácter único dos tais, a personalidade de cada um. Imagino o que pensou a tecelã que sentou em frente ao tear por semanas ou meses para o fazer, porque escolheu aqueles desenhos e cores. Alguns são delicados e macios, outros pesados e bordados como as tapeçarias europeias da Idade Média.
O tais é também uma das roupas mais elegantes que conheço. Porém, como o sarong, requer uma esbeltez e graça que estão em falta entre a maioria das ‘malais’. Quando usado pelas timorenses, remete à elegância das técnicas usadas nas estátuas gregas. Às ‘malais’ resta o consolo de usar as selendas (scarfs). A minha favorita é uma obra de arte vinda de Viqueque, esplendorosamente bordada, que já causou inveja a muita gente!
Com o tempo, descobri que o tais é um elemento de ligação com o resto da Ásia. As ilhas vizinhas a Timor sã notórias pela beleza dos seus tecidos. Má sorte que o meu colega neste blog nunca lá tenha andado! É interessante que os ikats da parte ocidental de Sumba (a ilha seguinte a Timor, na direção Oeste) são muito parecidos aos de Timor-Leste. 'Ikat' é o nome convencional de um dos tipos de ‘tais´ na Indonésia, nomeadamente aqueles cujos desenhos são criados no processo de tingimento.
Ainda hoje, ao acessar a um ‘site’ sobre trabalhos nos contrafortes das montanhas do Paquistão e do Afeganistão, surpreendi-me ao ver que o endereço electrônico da organização seja 'ikat.org'. O ‘site’ é assim chamado justamente por causa dos tecidos locais. Tão longe e tão perto, dos ‘tão’ à Indonésia --- a palavra provavelmente tem raiz indiana.
Há agora uma tendência de se fazerem tais com motivos mais simples e fabricar objectos com pedaços de tais: caixas, cadernos, bolsas, etc. Alguns resultados são bons. Noutros casos, confesso que dá pena ver o que provavelmente foi um vestido magnífico ser retalhado para se tornar numa bolsa, que será descartada dali a uns meses. Reconheço a necessidade de diversificar as actividades económicas, e que a tradição tende a ser perdida quando não há um retorno financeiro (“É a economia, estúpido!...”, como diz o colega ‘malai’). Sei que estou a olhar para um mundo em transição, e que algumas coisas serão fatalmente perdidas no meio do caminho. Por outro lado, fico feliz quando vou à loja da Fundação Alola e vejo lindos exemplares de tais feitos à maneira tradicional, com o algodão cardado e tingido manualmente, obras de arte a serem reconhecidas como se deve. Afinal...se um tais de qualidade feito em Timor alcança preços consideráveis em Bali --- basta visitar Ubud para o comprovar --- deve haver um mercado para isso.
Aliás...se alguém souber onde é que se encontram os tais de Cassa (Ainaro), é favor avisar! O grupo de tecelãs de lá simplesmente desapareceu das feiras culturais e da loja da Alola.
Outra mania nossa (mais recente que a dos tais...) é procurar os melhores exemplares do artesanato timorense em metal. A qualidade varia muito --- às vezes, deve ser 90% de folha de Flandres mesclado a prata. Todavia, há coisas lindas feitas em prata de alta qualidade: pulseiras que se tornaram um dos presentes favoritos para dar às amigas que estão de partida, caixinhas delicadamente trabalhadas, adornos tradicionais. Há uns tempos atrás, apareceram no mercado dos Tais (nosso centro comercial de artesanato favorito) alguns 'keke' (braceletes) extremamente trabalhados, de grande beleza. Da mesma forma que apareceram, sumiram (não sem antes termos comprado vários, felizmente!). Não sei de nenhum projeto a ser realizado nessa área, e pergunto-me o porquê já que parece haver muito potencial nessa área.
Há muito talento artí­stico em Timor-Leste, e não está só no artesanato: está na poesia do Abe, nas fotos do Nelson Turquel, nas músicas dos “Cinco do Oriente”, e em tantos mais. Como numa jornada de percepções, nas quais, aos poucos, nossos olhos e ouvidos se abrem e começam a perceber quanta beleza há neste mundo tão diferente daquele de onde viemos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

(Mais antes e depois) O Palácio de Lahane...

... depois de queimado pelos indonésios e depois de recuperado pela UCCLA-União das Cidades Capitais dos países lusófonos via Câmara Municipal de Lisboa: